Capítulo 20

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Eu congelo no mesmo instante ao reconhecer a voz da cozinheira real. Samira trabalha a anos no castelo, já me viu algumas vezes mesmo não sendo ela a responsável por nos servir. Gostaria de ter Alisha ao meu lado nesse momento para inventar alguma desculpa, mas se a vissem, só traria mais problemas para ela e sua família após a nossa fuga.

- Desculpe madame. - Disse Aeron que nos escondia em suas costas. - Fomos chamados de última hora para ajudar na organização hoje.

- E os seus nomes? - A voz de Samira era desconfiada. Mantenho minha cabeça baixa e rogo a Deusa para que nossas roupas e sujeira fossem o suficiente para nos esconder.

- Eu sou Aiden, esses são Celine e Arlo. Desculpe a confusão, eles nunca estiveram em um castelo antes.

- Pois admirem menos e trabalhem mais. Temos muito o que fazer. Vocês dois vão ajudar a carregar as mesas do salão, você garota, pegue as caixas com as hortaliças e comece a lavar.

Respirei fundo ao ver ela se virar e caminhar apressada. Nossos planos ainda estavam de pé, só precisávamos ter cautela.

Empilhei as caixas e as carreguei de forma que tapasse o meu rosto, com cuidado, segui Samira até a cozinha e desejei boa sorte aos garotos que ficavam para trás. Mesmo trabalhando, eles ainda conseguiriam observar a segurança do castelo como Adrian desejava e, talvez, escapar para olhar o restante do espaço.

A cozinha era uma mistura de pessoas e calor, como se estivesse cozinhando no vapor. Mulheres andavam pra lá e pra cá, carregavam panelas, louças, carne e tudo o que eu poderia imaginar. De qualquer forma, parecia ordenado já que ninguém esbarrava ou atrapalhava o serviço um do outro.

Me aproximei da pia e comecei a lavar os legumes e as verduras, colocava em bacias separadas que eram entregues para outras moças que cortavam tudo em um enorme balcão atrás de mim.

O vestido que Alisha me emprestou tinha um bolso lateral, apalpei para ter certeza de que o anel que Adrian me deu ainda estava ali em segurança. Agora eu precisava dar um jeito de deixar isso no quarto de Elora, três andares acima de onde estávamos.

Com calma, repassei todas as informações que eu tinha sobre os empregados e suas funções, fiz uma lista mental de quem eu deveria evitar e com quem eu poderia falar. Eu teria que arrumar um jeito de sair da cozinha e passar pelos corredores até o próximo andar.

Chegar no andar onde era o meu antigo quarto era possível, qualquer empregado teria acesso. O problema era o andar superior onde apenas alguns eram permitidos. Eu deveria evitar a todo custo as criadas pessoais de Maren e Elora e ter uma boa desculpa para estar em um andar proibido para os outros empregados.

Pensei em causar algum acidente a mim mesma que me fizesse sair da cozinha e ser atribuída a outra tarefa, mas isso faria com que Samira olhasse melhor para mim e pudesse me reconhecer, além dos outros empregados daqui.

Como se um sinal divino fosse enviado para mim, a luz da cozinha piscou por uma fração de segundos, o bastante para eu escutar as reclamações de Samira sobre consertar a lâmpada. Era isso, eu poderia bloquear a energia que mantinha a luz acesa.

Meus dedos mexiam de forma suave e discreta, eu sentia cada conexão de energia daquele cômodo e atentei apenas no cabo que conectava a lâmpada acima de nós para desligar.

Com o fim de tarde, a pouca luz da rua não era o bastante para trabalhar direito. Samira esbraveja outra vez e eu aproveito a oportunidade.

-Não se preocupe, pedirei imediatamente para alguém vir resolver. - Corri para fora antes que a cozinheira pudesse dizer qualquer coisa. Mantive minha cabeça baixa e fui em direção ao salão. Me deparo com Aeron que carregava alguns vasos pesados. Não poderia usar seus poderes aqui.

A Filha do InfortúnioWhere stories live. Discover now