Algumas horas depois, um guarda abre a porta da cela e empurra uma bandeja em minha direção. Corbin fez com que me alimentassem, como havia prometido. Corro para ver o conteúdo e vejo um pão, pedaços quebrados de um biscoito velho e um copo com água.
Como o biscoito devagar, como se pudesse fazer com que durasse mais e aumentasse minha saciedade, dou dois goles na água e deixo o restante em um canto para compartilhar com o rapaz que dividia a cela comigo. Paro para pensar se agora ele seria interrogado como eu e se ele voltaria.
Respirei um pouco mais aliviada ao ver seu corpo ser trazido de arrasto no final do corredor, iluminado por uma tocha fraca. O carrasco abre a porta da cela, o prende de volta nas correntes conectadas à parede e se retira sem dizer mais nada.
Me aproximo devagar e percebo que a respiração do moreno estava diferente, como se os seus pulmões gemessem toda vez que o ar os invadia, ele estava com dor.
- Você está bem?
- Estou bem. - Ele mantinha a cabeça baixa. - Não se preocupe.
Pego o copo com água da bandeja e vou em sua direção, ele deveria estar com tanta sede quanto eu. Ele me olha de forma desconfiada enquanto eu aproximo o copo de sua boca, mas não me impede em nenhum momento. Molho seus lábios com calma, para que não se engasgue com o líquido, aos poucos permito que tome alguns goles.
Busco o pão que havia ali, divido em pequenos pedaços para que facilite a sua mastigação e o alimento com cautela. Percebo que ofega e dá pequenos grunhidos ao menor movimento do seu corpo. Depois de tantos dias presa em um lugar com pouquíssima luz, meus olhos já estão acostumados e consigo distinguir alguns machucados em sua pele.
Rasgo as mangas do meu vestido as separando ao meu lado, amarro o que sobra para que se pareçam com alças que vão cobrir o meu tronco. Pego as mangas que separei e molho um pouco no restante da água que havia no copo, com cuidado aproximo o pano molhado do seu braço.
- O que pensa que está fazendo? - Me questiona irritado após recuar o braço. - Isso dói.
- Desculpe, mas isso pode infeccionar se não limpar. - Tento me aproximar, mas ele inclina seu corpo para longe.
- Já disse para não se preocupar.
- E eu digo para ficar quieto e me deixar te ajudar. Não quero ouvir seus gemidos a noite toda.
Ele fica quieto por um momento e eu aproveito para continuar com o meu trabalho, dessa vez com um pouco mais de cautela. Limpo seus ferimentos com calma, tomo cuidado para que não o machucasse além do necessário. Meus pensamentos vão no mesmo instante para Alisha e sua mãe, da forma com que me cuidavam com carinho, preocupadas com os castigos da rainha e que não ficasse uma única marca em minha pele. Thrisha garantia minha recuperação com seus poderes de cura e, mesmo depois de ir embora, ainda enviava frascos com remédios e pomadas curativas pela filha.
Sinto meu rosto esquentar e percebo que os olhos azuis estão fixados em meu rosto, analisa o que pode em minhas feições encobertas pela escuridão do local. Reparo que terminei de limpar o seu rosto e me afasto envergonhada. Dessa vez, eu rasgo a barra do meu vestido em tiras, faço com que ele fique da altura do joelho. Eu enrolo uma das faixas em seu braço e a outra em seu abdômen, onde estavam os cortes mais profundos.
- Pronto. Vai ajudar por enquanto. - Me afasto para avaliar meu trabalho.
- Então a Lady Verena também sabe cuidar de algumas feridas. - O tom de brincadeira em sua voz é perceptível.
- Já tive quem cuidasse das minhas.
- Por que mentiu para mim? - Acho que faço uma careta na sua direção, tento entender em que momento falei algo que pudesse ser uma mentira. - Você disse que era uma comum. Mas eles te trataram com o título de Lady. Não existem comuns na corte.
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A Filha do Infortúnio
FantasyA vida de Verena nunca foi fácil. Embora seu nome significasse "vencedora", ela nunca foi capaz de vencer nem mesmo uma partida de xadrez. Ela era apenas uma comum no meio da realeza, sem poderes mágicos ou políticos. Perdida em meio ao caos da elit...