Capítulo 6

24 9 0
                                    

Algumas horas depois, um guarda abre a porta da cela e empurra uma bandeja em minha direção. Corbin fez com que me alimentassem, como havia prometido. Corro para ver o conteúdo e vejo um pão, pedaços quebrados de um biscoito velho e um copo com água.

Como o biscoito devagar, como se pudesse fazer com que durasse mais e aumentasse minha saciedade, dou dois goles na água e deixo o restante em um canto para compartilhar com o rapaz que dividia a cela comigo. Paro para pensar se agora ele seria interrogado como eu e se ele voltaria.

Respirei um pouco mais aliviada ao ver seu corpo ser trazido de arrasto no final do corredor, iluminado por uma tocha fraca. O carrasco abre a porta da cela, o prende de volta nas correntes conectadas à parede e se retira sem dizer mais nada.

Me aproximo devagar e percebo que a respiração do moreno estava diferente, como se os seus pulmões gemessem toda vez que o ar os invadia, ele estava com dor.

- Você está bem?

- Estou bem. - Ele mantinha a cabeça baixa. - Não se preocupe.

Pego o copo com água da bandeja e vou em sua direção, ele deveria estar com tanta sede quanto eu. Ele me olha de forma desconfiada enquanto eu aproximo o copo de sua boca, mas não me impede em nenhum momento. Molho seus lábios com calma, para que não se engasgue com o líquido, aos poucos permito que tome alguns goles.

Busco o pão que havia ali, divido em pequenos pedaços para que facilite a sua mastigação e o alimento com cautela. Percebo que ofega e dá pequenos grunhidos ao menor movimento do seu corpo. Depois de tantos dias presa em um lugar com pouquíssima luz, meus olhos já estão acostumados e consigo distinguir alguns machucados em sua pele.

Rasgo as mangas do meu vestido as separando ao meu lado, amarro o que sobra para que se pareçam com alças que vão cobrir o meu tronco. Pego as mangas que separei e molho um pouco no restante da água que havia no copo, com cuidado aproximo o pano molhado do seu braço.

- O que pensa que está fazendo? - Me questiona irritado após recuar o braço. - Isso dói.

- Desculpe, mas isso pode infeccionar se não limpar. - Tento me aproximar, mas ele inclina seu corpo para longe.

- Já disse para não se preocupar.

- E eu digo para ficar quieto e me deixar te ajudar. Não quero ouvir seus gemidos a noite toda.

Ele fica quieto por um momento e eu aproveito para continuar com o meu trabalho, dessa vez com um pouco mais de cautela. Limpo seus ferimentos com calma, tomo cuidado para que não o machucasse além do necessário. Meus pensamentos vão no mesmo instante para Alisha e sua mãe, da forma com que me cuidavam com carinho, preocupadas com os castigos da rainha e que não ficasse uma única marca em minha pele. Thrisha garantia minha recuperação com seus poderes de cura e, mesmo depois de ir embora, ainda enviava frascos com remédios e pomadas curativas pela filha.

Sinto meu rosto esquentar e percebo que os olhos azuis estão fixados em meu rosto, analisa o que pode em minhas feições encobertas pela escuridão do local. Reparo que terminei de limpar o seu rosto e me afasto envergonhada. Dessa vez, eu rasgo a barra do meu vestido em tiras, faço com que ele fique da altura do joelho. Eu enrolo uma das faixas em seu braço e a outra em seu abdômen, onde estavam os cortes mais profundos.

- Pronto. Vai ajudar por enquanto. - Me afasto para avaliar meu trabalho.

- Então a Lady Verena também sabe cuidar de algumas feridas. - O tom de brincadeira em sua voz é perceptível.

- Já tive quem cuidasse das minhas.

- Por que mentiu para mim? - Acho que faço uma careta na sua direção, tento entender em que momento falei algo que pudesse ser uma mentira. - Você disse que era uma comum. Mas eles te trataram com o título de Lady. Não existem comuns na corte.

A Filha do InfortúnioWhere stories live. Discover now