Capítulo 18

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Estávamos quietos enquanto a senhora colocava uma chaleira para aquecer. Ela cantava uma melodia alegre e remexia sua cabeça em alguns trechos.

A casa tem uma atmosfera serena e uma energia gostosa nos envolve. A mobília é esculpida a mão e cada detalhe na madeira é entalhado com graça. Tapetes tecidos com fios finos e coloridos cobrem o chão.

Observo uma mesa mais afastada de nós, uma espécie de altar decorado com cristais e amuletos que nunca vi antes. Tem alguns livros abertos sobre a mesa e vidros com líquidos pegajosos ao lado.

Depois de alguns minutos, ela nos entrega xícaras feitas de barro contendo chá de hortelã bem quente.

-Ah que falta de educação a minha. Meu nome é Orla, sou a xamã dessa floresta. Imagino que tenham algumas perguntas para mim.

-É um prazer conhecê-la. - Começa Kaius. - Eu sou Kaius, esses são Aeron e Verena.

- Então, o que essa velha poderia fazer por vocês hoje? - Ela esboça um sorriso gentil e é possível notar que faltam alguns dentes.

-Nós precisamos encontrar os Menthalis, fomos informados na cidade de que a senhora poderia ter alguma ideia de como fazer isso. - Kaius trás sua xícara em direção aos lábios, mas afasta rapidamente assim que o líquido o queima.

-E por que vocês estariam atrás deles?

-Bom, é que...-Eu começo a explicar e me perco nas minhas próprias palavras. - Eu tenho tido alguns problemas e achamos que eles possam ajudar.

-Que tipo de problemas?

-Eu tenho escutado vozes... sabe? - Eu aponto para a minha cabeça.

Orla da uma risada alta e nos entreolhamos desconfortáveis, eu contei alguma piada? Talvez escutar vozes seja algo tão incomum que ela deve me achar maluca. A senhora se recompõe e da pequenas batidinhas em seu peito e seu olhar volta para nós.

-Você não é muito nova para esse tipo de coisa? - Ela questiona um pouco mais calma.

-Não sabia que tinha idade para isso. - Eu respondo.

-Não tem, mas é mais comum na minha idade, dizem que ficamos velhas e malucas. - Ela se levanta e serve mais um pouco de chá em sua xícara. - Eu diria para visitar um médico, mas se estão recorrendo aos Mentalhis já devem ter descartado essa opção... Já tentou terapia de choque?

Ficamos em silêncio. Eu me recordo do dia em que Galen colocou aquelas coisas em minha cabeça e me torturou, a primeira vez foi a pior sensação que já senti na minha vida, hoje eu penso que a segunda não funcionou por ter ativado os meus poderes.

-Não funcionaria com ela. - Kaius se pronuncia. - Verena controla a eletricidade, logo, seria imune a esse tipo de tratamento.

-Verdade? - Ela questiona com um olhar curioso e me analisa dos pés a cabeça. - Incrível...

-Por favor. - Eu peço envergonhada com o seu olhar. - Sabe como podemos achá-los? Eu realmente preciso de ajuda.

Ela pisca algumas vezes antes de ir até o fundo da sala. Vasculha em uma estante cheia de livros e pergaminhos velhos, joga tudo em qualquer lugar pela cômodo e temos que tomar cuidado para não sermos acertados, uma camada de poeira levanta e incomoda o meu nariz.

-Aqui está. - Ela responde alegre ao encontrar o que procurava. - Vejamos, já está um pouco velho e as traças comeram a maior parte. De acordo com esses registros antigos, eles são um clã que caminham por essas terras a gerações. Vieram para cá junto da primeira rainha.

-Eles são de Nix? - Kaius pergunta com uma cara confusa. - Isso explica o fato de só prestarem serviços para as coroas.

-Se querem o meu conselho. - Orla volta a guardar o pergaminho e ajeitar a bagunça que fizera. - Se não tem ajuda de nenhuma coroa, viagem até Nix e procurem alguém do clã que aceite ajudá-la. Será mais seguro assim.

A Filha do InfortúnioDonde viven las historias. Descúbrelo ahora