A Filha do Infortúnio

Capítulo 3

Acordei no dia seguinte com Alisha que se remexia inquieta pelo meu quarto. Ela já havia afastado as cortinas e os raios da manhã invadiam pela janela, separou minhas roupas em cima do biombo e pegou a escova e grampos para fazer o meu cabelo.

Estremeço ao observar a escova em cima da penteadeira, mas volto meu olhar para a garota que remexia nos nós em seus dedos, mania que tinha quando algo a incomodava.

- Vai quebrar os dedos assim. - Digo ao sentar na cama. - O que foi?

- Bom dia Lady Verena! - Fez uma breve reverência antes de vir até mim e me guiar para o meu banheiro. - Não aconteceu nada. Está tudo bem.

- Alisha, você é uma amiga incrível. - Seguro em suas mão e vejo uma expressão confusa em seu rosto, ela não esperava por um elogio naquele momento. - Mas você é uma péssima mentirosa. Fale comigo, o que foi?

- Realmente não deve ser nada de mais. - Suas mãos são rápidas e ágeis enquanto me ajuda a me despir e a me banhar. - Escutei dos outros empregados que o rei e a rainha brigaram, não sei direito o motivo, mas tem uma tensão no ar quando eles estão perto.

Não era segredo para ninguém que o rei e a rainha já não se amavam como casal, já cheguei a pensar se algum dia existiu amor para dizer a verdade. Mas ela prezava por sua imagem, era preciso ter elegância para lidar com as situações no reino e o dobro para manter as aparências no castelo. Me pergunto o que pode ter acontecido.

Alisha me colocou em um vestido de linho verde, calças pretas e botas de couro de cano alto, perfeitas para montaria. Me guiou pelo castelo até a sala de jantar para tomar o meu café da manhã, fico feliz por não ter mais ninguém. Nem mesmo a Princesa Maren estava ali.

Após o café da manhã, vou para a parte ao leste do castelo, onde teremos nossas aulas de montaria junto de outros membros da elite de Ignis. Observo que Maren está ali, um pouco mais afastada junto com as filhas do Duque Oberon, Lady Elisia e Lady Rowena, ambas gêmeas, com seus cabelos claros penteados da mesma forma, olhos verdes safiras e vestidos azuis que vão um pouco abaixo dos joelhos, com bordados prateados que imitavam folhas. Elas riem de algo que Maren diz e trocam olhares confidentes.

Lembro-me de me manter fora do caminho delas, as gêmeas têm um dom irritante de criarem ilusões e se comunicarem entre si através do pensamento. Uma vez, me fizeram comer uma maçã estragada quando eu conseguia ver ela madura e vermelha, tudo por diversão.

Eu e Maren nunca fomos muito próximas, apesar de eu ter algumas lembranças onde eu brincava com ela na época de criança. Acho que Elora cortou isso também, ou foi uma escolha da princesa em se manter relacionada com pessoas que tinham algum poder, seja eles políticos ou mágicos.

Nossa aula de montaria passou rápido, eu era uma boa amazonas e me sentia livre enquanto cavalgava. Em seguida, tivemos aula de geografia e biologia, finalizando na sala de treinamento onde os outros treinavam seus poderes e simulavam batalhas, claro que eu não participava dessas aulas, então me continha em apenas observar.

Maren duela com Daliah, uma garota ruiva de quinze anos que carrega sempre uma expressão séria por onde for, não demonstra nem mesmo um sorriso de malícia ou presunção. A garota se esforça para não ser pega pelas rajadas de vento que Maren lança em sua direção. No momento em que suas mãos tocam o chão, o piso inteiro do grande salão é remexido e desestabiliza a princesa, que precisa de um minuto para achar um local firme e lançar um tornado na direção de Daliah.

Escuto um xingamento e observo uma das gêmeas. Elisia luta contra um garoto de nome Kaius, parece que o terremoto de Daliah a desestabilizou e fez com que ela perdesse a concentração enquanto usava suas ilusões no garoto que, agora, a prende com trepadeiras firmes que saíram dos buracos do chão, evitava fazer contato visual.