Capítulo 7

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As horas passam rápido e Aeron se manteve calado. Posso ouvir o barulho das engrenagens de sua cabeça trabalhando daqui. Agora que recobro a minha consciência por completo, a falta do meu vestido se torna mais evidente e desejo ter algo para me cobrir. Agradeço pelo moreno não abaixar a cabeça em minha direção, eu ainda teria um pouco da minha dignidade.

Um brilho de uma tocha começa a aparecer no fundo do corredor e me cubro com minhas mãos o quanto posso. Ouço passos de algumas pessoas e noto três guardas ao lado de Galen, ele não parece muito feliz hoje. Não dirige uma única apalavra, apenas acena em nossa direção e os outros entram na cela, retiran nossas correntes e nos puxam para fora.

Deve ser muito cedo ainda, não é possível ver o sol, mas a pouca claridade do lado de fora incomoda bastante os meus olhos, mantenho a cabeça baixa com a intensão de suavizar a ardência. A brisa da manhã faz a minha pele arrepiar ou seria apenas os olhares em mim, não sei dizer ao certo.

Sinto algo quente e pesado me cobrir, meus olhos se encontram com os de Lord Kaius e me assusto com a sua presença. Ele não diz nada, apenas me cobre com sua capa e se retira para ficar ao lado dos outros guardas, como se nunca tivéssemos trocado uma única palavra na vida. Ele faria parte de nossa escolta?

Olho de relance para Aeron, mas o moreno parece calmo e mais tranquilo do que eu esperava, ele olha pra frente de forma imponente e presunçosa, agora noto sua beleza com mais nitidez. "Não é hora para isso. Ele deve ter um plano", penso e espanto a imagem dele da minha cabeça.

Somos guiados até uma caixa de ferro com quatro rodas, puxada por dois cavalos negros na frente. Me deparo com Dorian ao cochichos com Galen que se retirou em seguida. Não me surpreendo com a sua presença, imaginei que a rainha o designaria para liderar nosso trajeto até os Menthalis. Mas, talvez, isso dificulte o plano de Aeron de nos tirar daqui, seja lá qual for, Dorian pode nos cegar com a sua luz a qualquer instante e tudo iria por água abaixo.

Nenhuma palavra é dirigida à nós, somos jogados para dentro da caixa apertada. Meus pulsos doem por causa dos braceletes que ainda estão presos à nós. Precisamos nos livrar deles ou Aeron não vai conseguir nos tirar daqui. Boto minha cabeça para trabalhar, não precisamos de poderes no momento, apenas de inteligência.

Os braceletes apertavam minha pele por dias, cortando o fluxo sanguíneo. A sensação de impotência é quase insuportável, mas sei que não posso desistir. Com mãos trêmulas, começo a analisar em busca de qualquer ponto fraco. O metal é pesado e sólido, mas há uma pequena brecha onde a articulação se encontra. É um começo.

Pelos meus cálculos, faz quase uma hora que estamos na estrada. Eu estou sem o menor senso de direção, mas pelo que posso ouvir, não passamos perto de nenhum vilarejo. Tento imaginar o mapa de Ignis na minha cabeça e continuo sem fazer ideia de onde estamos, era inútil tentar.

O moreno ao meu lado mantém os olhos fechados, não sei dizer se adormece ou se está apenas concentrado em algo. Me perco em seu rosto por um instante, seus traços faciais são definidos, sua mandíbula angular e lábios finos refletem sua expressão séria e concentrada. Eu precisava acreditar que ele tinha alguma ideia em mente.

- O que vamos fazer? - Procuro manter o meu tom de voz baixo, preocupada que alguém possa estar perto o suficiente para nos ouvir.

- Eu preciso ter certeza de onde estamos. - Ele fica em silencio por alguns segundos. - Acho que estamos indo em direção à Caelum.

- Mas eu não ouvi nada. Precisaríamos ter passado próximo da cidade para ir para Caelum.

- Não se formos pela antiga ponte, uma rota mais discreta. Se eu estiver certo, poderemos ver as montanhas gêmeas que ficam na divisa. Você conhece alguém ali fora?

A Filha do InfortúnioWhere stories live. Discover now