Capítulo 13

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O Rei Adrian não era muito diferente do que eu imaginava. Nas aulas de história eu só havia visto retratos do seu irmão mais velho, o falecido Rei Davian, mas eles eram parecidos. O cabelo preto era liso e ia até a altura dos ombros, uma parte era amarrada para trás, revelando algumas mechas grisalhas nas laterais, seus olhos eram cinzas como os do irmão e havia uma cicatriz na bochecha direita.

Ele me analisa com um olhar furioso enquanto tento executar uma reverência perfeita, como fui ensinada por dezoito anos. Eu não olho em seus olhos, mas percebo que depois de um tempo, um sorriso desponta no canto de seus lábios, ele me convida para sentar ao seu lado e dá início à refeição.

O almoço foi servido na sala de jantar que tinha as suas paredes decoradas com tapeçarias, grandes janelas de vitrais deixavam a luz entrar criando um reflexo de cores no chão de mármore branco. Os assentos eram forrados com veludo em um vermelho escuro, cada lugar à mesa estava meticulosamente preparado com pratos de porcelana fina, talheres de prata polida e copos de cristal. Havia carne assada, peixes frescos, vegetais cozidos no vapor e uma variedade de molhos. O ar estava tomado por aromas deliciosos.

O ambiente seria muito agradável, se a minha intuição não gritasse cada vez que o rei direcionasse o seu olhar para mim. Uma energia pesada me atingia e se não fosse pela companhia dos outros alí, eu já teria começado a correr.

Aeron estava sentado à minha frente, à direita do rei. Ele mantinha uma postura imponente, mas seu olhar não saia do seu próprio prato, parecia entediado com todo o resto a sua volta. Diferente de Kaius que parecia habituado com tudo e contava como chegamos ali. Sentado ao meu lado esquerdo, ele manteve sua mão em minha perna, até que eu parasse de tremer e ficasse mais calma.

Ao contrário do que pensei, Adrian não estava preocupado em saber de onde eu era, o que fiz para ser presa ou sobre como escapamos. Seu foco era saber unicamente sobre a minha vida particular e os meus poderes.

-Então, por dezoito anos não sabia que tinha poderes. - Ele comenta, bebericando mais um pouco de vinho. - Como se sentiu?

-Para ser honesta, Vossa Majesta, confusa e ... com um pouco de medo.

Sua gargalhada é alta e ecoa pelo salão, me assusta um pouco. - Você é engraçada criança. Não deve temer o que a Deusa lhe concebeu. - Ele abana a mão como se o meu comentário fosse ridículo.

-Tenho certeza que não. Tudo aconteceu muito rápido... - Eu tento me justificar, mas sou interrompida por Aeron.

-Ela matou o rei. - A mesa fica em silêncio e eu direciono o meu olhar mais feroz na direção do moreno a minha frente.

-Eu não o matei. - Sussurro, mas ninguém parece se importar.

Os olhos do Rei Adrian brilham de forma diferente em minha direção. Ele faz um sinal e uma empregada enche nossas taças com mais vinho, ele ergue em minha direção para fazer um brinde.

-É preciso ter coragem para tirar a vida de alguém e mais ainda para matar um rei. Você se torna cada vez mais interessante. Que a Deusa abençoe a sua jornada.

Passei o resto do dia em meu quarto, cansada demais para querer me aventurar pelo castelo e para pensar em qualquer coisa que não fosse dormir. Não vi mais Aeron ou o rei o dia inteiro, apenas Kaius apareceu em meu quarto trazendo o jantar e me fazendo um pouco de companhia antes de me deixar sozinha novamente. Respirei um pouco aliviada ao deitar, depois de tantos dias, finalmente iriamos parar de fugir.

Na manhã seguinte, eu acompanhei Kaius até o campo de treinamento, localizado em cima de uma colina rodeada por pinheiros. No centro há uma espécie de arena, cercada por muros altos de um material resistente. Para chegarmos lá, passamos por várias salas com equipamentos diferentes, além de uma grande biblioteca no final de um corredor, contendo livros que eu nunca vi nem mesmo em Ignis.

A Filha do InfortúnioOnde histórias criam vida. Descubra agora