Capítulo 8

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Eu não poderia imaginar o que aconteceria a seguir. Nunca lutei de fato contra alguém, as aulas com Corbin não seriam o suficiente agora.

A sensação dentro do meu corpo era esquisita, aquele poder saia de dentro dos meus ossos de forma tão natural e livre, como se fossemos velhos amigos. Poder... Algo que eu nunca tive e sempre almejei, agora fluía por todo o meu corpo, à minha inteira disposição.

Por mais confusa que eu estivesse, não poderia me distrair agora, mesmo sem entender direito como funcionava, eu precisava colaborar com Aeron para sairmos dali. Dorian não tirava em nenhum momento os seus olhos de mim, talvez tão atordoado quanto eu. Ele é o nosso maior problema alí. Eu conhecia o seu poder tão bem quanto conhecia o de Corbin, pai e filho compartilham as mesmas táticas e suas batalhas eram como uma dança em perfeita sincronia. Mas eu nunca venci Corbin.

Sinto uma pressão repentina, e nossos corpos vão ao chão como se fossem sacos de batatas, pesados ​​e imóveis. A sensação é esmagadora, como se a própria gravidade tivesse se tornado um inimigo invisível. Olho em volta para ver o terceiro guarda, com os olhos concentrados. Ele estava manipulando a gravidade ao nosso redor. Eu bufei irritada. Uma tarefa simples como mexer um braço precisaria de um esforço muito maior.

Em uma fração de segundos, várias trepadeiras saem do chão, elas se enrolam ao redor do guarda que grita em pavor enquanto é embalsamado pela natureza que o arrasta para longe. Dorian se desestabiliza ao perceber que Kaius fazia parte disso e sua espada vibra prestes a lançar sua luz que nos cegaria como o sol.

Sou surpreendida por uma onda de escuridão que nos cerca e nos engole por inteiro. A escuridão é tão densa que não posso ver um palmo à minha frente, e o pânico se instala de imediato. É como se o mundo tivesse desaparecido, e eu me sinto claustrofóbica e desesperada, luto para controlar minha respiração. Por um momento, fico paralisada, incerta sobre o que fazer a seguir. A escuridão é opressora e cada segundo parece uma eternidade. Levanto do chão com os braços estendidos, tento encontrar algo ao meu redor para me orientar. Minhas mãos tateiam o vazio, mas não encontram nada sólido.

Os barulhos ao meu redor são caóticos. Os cavalos relincham, seus cascos batendo frenéticos contra o solo. Os gritos dos guardas ecoam na escuridão, carregados de agonia. Tenho a sensação de que algo se move ao meu redor, mas não consigo identificar o que é.

Por muito pouco não fui acertada pela espada de Dorian, ela era como um ponto de luz que surgia em meio às trevas, mas ainda não era forte o bastante para dissipá-la. Sua luz se apaga e reaparece em outro canto, me esconder no escuro era a minha melhor alternativa no momento.

- Por aqui. - A voz rouca de Aeron sussurra em meu ouvido. Suas mãos agarram as minhas e me guiam sem problemas.

Ele me pega pela cintura e me levanta, percebo que estou em cima de um dos cavalos, agora mais calmo e atento. Uma movimentação atrás de mim me avisa que ele montou em seguida e saímos em disparada.
Uma de suas mãos me segura forte contra o seu corpo, me impedindo de cair enquanto a outra conduz o cavalo com maestria.

Logo saímos da escuridão e fecho os meus olhos com força ao serem atingidos pela claridade do dia. Percebo que Kaius cavalga logo atrás de nós e seguimos em direção às montanhas gêmeas. O loiro se concentra e eu vejo a paisagem mudar atrás dele, a natureza faz o seu papel para garantir que não seremos encontrados tão cedo.

Enquanto nos deslocamos eu tentava organizar minha cabeça em silêncio. Primeiro, eu tinha poderes. Isso explicava o que havia acontecido com o barão naquele dia, exatamente como Aeron apontou. Eu controlava a eletricidade, mas ainda não tinha certeza de como e nem quando isso começou.
Segundo, nós conseguimos fugir. Kaius estava do nosso lado por algum motivo e isso enchia minha cabeça com mais perguntas ainda. Ele ajudou a invadir o castelo naquela noite?
Por fim, aquela escuridão sombria e esmagadora, aquilo foi Aeron? Eu ouvi rumores sobre esse poder, inclusive no dia em que fui para a cidade, lembrava de cada palavra dos homens na mesa ao lado. Um calafrio me percorre ao pensar que uma das pessoas mais misteriosas e perigosas de Umbra poderia estar sentado atrás de mim.

A Filha do InfortúnioOnde histórias criam vida. Descubra agora