Capítulo 19

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Um barco era o pior meio de transporte, na minha opinião. Passar cinco dias em um tinha sido uma tortura, mas eu não poderia reclamar. Claus se esforçou para evitar que ficássemos enjoados e Kaius se tornou um grande contador de histórias nesse meio tempo.

Mesmo durante a viagem, cumpri com a minha promessa de não sair do lado de Aeron, isso deixou o moreno mais calmo e Kaius mais abusado. O loiro não perdia uma oportunidade de implicar com o amigo.

Aportar em Caelum antes do sol nascer foi mais tranquilo do que eu imaginava. Havia uma pequena parte inabitada bem ao norte e precisamos usar um bote e remar até a terra firme. A parte difícil foi atravessarmos por uma floresta densa na divisa para Ignis. O frio intenso combinado com o ar úmido do local estava me fazendo tremer como um cão raivoso.

Foi após um longo dia de tropeços, escorregões e pausas para nos aquecer que conseguimos avistar uma pequena fazenda ao longe. Os céus já estavam escuros com a chegada da noite e todos estávamos famintos.

Pequenas lamparinas estavam acesas do lado de fora de uma casinha de madeira, sua entrada era bem iluminada e era possível ver um galinheiro ao lado. A brisa gelada nos atingiu e trouxe o som do guincho dos porcos que reclamam do frio em seu chiqueiro.

-E agora? - Eu questiono cansada.

-Não podemos chamar a atenção. - Sussurrou Kaius olhando ao longe. - Podemos arriscar nos esconder no estábulo. Será mais quente e podemos sair antes do amanhecer.

-Está louco? E se nos pegarem?

-São apenas fazendeiros Verena, o que acha que eles vão fazer? Jogar a lavagem dos porcos em você? - Aeron sorri para mim após implicar com o meu desespero. Eu só achei que não envolveria mais ninguém nisso.

Sendo ignorada, os dois seguem em direção ao estábulo e não eu demoro em me juntar à eles. A porta de entrada da pequena casinha range e eu paro no lugar ao escutar seu aviso.

-Parados aí mesmo. - Uma voz masculina e arrastada é ouvida alguns passos atrás de mim. - Levantem as mãos onde eu possa ver e se virem devagar. Se tentar qualquer gracinha eu vou tocar o alarme.

Meio incerta do que fazer eu observo os rapazes à minha frente. Ele não deveria ser alguém da elite, portanto não seria uma ameaça, mas não poderíamos causar nenhum pânico desnecessário. Acredito que ambos concordam comigo quando os vejo levantarem as mãos e se virarem com cautela.

Eu repito o mesmo processo, mantendo minhas mãos visíveis e a minha cabeça baixa. Com uma olhada rápida consigo notar se tratar de um senhor na casa dos setenta anos, altura mediana meio curvado para frente e os cabelos ralos e grisalhos pela idade. Ele empunhava um machado na mão e a outra segurava a corrente de um sino preso na entrada de sua casa, imagino que aquele seria o seu alarme.

-Quem são vocês? - Ele questiona ríspido. - Não vão roubar nada aqui essa noite.

-Me desculpe senhor, não estamos aqui para roubar... - Começou Kaius, com a voz mais mansa que possuía, até ser interrompido por outra voz que vinha de dentro da casa.

-Papai, o que está acontecendo?

-Fique onde está Ali, eu resolvo esse problema.

O chão de madeira da entrada range conforme sente os passos da dona da voz que se aproxima do pai. "Perfeito, quantas pessoas mais vamos envolver nisso?", eu penso comigo mesma antes de erguer um pouco o meu rosto e encontrar um par de olhos castanhos que eu reconheceria em qualquer lugar.

Alisha permanecia imóvel, estudava o meu rosto conforme eu o erguia e uma sombra de pavor substituiu o semblante cansado da minha antiga criada e amiga.

A Filha do InfortúnioWhere stories live. Discover now