Capítulo 14

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Adrian estava sentado atrás de uma mesa de mogno em um poltrona alta e estofada. As suas costas, havia enormes prateleiras com livros e pergaminhos. O centro do escritório é dominado por uma grande mesa de escrita de madeira escura e entalhada. Sobre a mesa, há uma almofada de selo real e uma caneta de ouro. Grandes janelas permitem que a luz natural ilumine o escritório durante o dia, decoradas com cortinas pesadas e vermelhas como sangue.

O rei me convida para me sentar na poltrona em sua frente e faz algumas perguntas aleatórias sobre como tem sido a minha estadia ali, seus dedos batucam de um jeito inquieto, como se quisesse ir logo ao ponto.

-O que você fazia no castelo de Ignis? - Ele questiona como se me perguntasse as horas.

-Eu morava lá. Fui criada pela Rainha Elora.

-Ah, eu não sabia que eram parentes. - Ele pega um copo pequeno de vidro e se serve com uma bebida de cheiro forte.

-Não somos. A rainha me dizia desde pequena que eu era filha de uma prima distante dela, que pediu para que ela cuidasse de mim antes de morrer. Em uma noite, eu descobri que era mentira.

-Interessante. Então quem é você?

-Eu não saberia lhe dizer, Vossa Majestade. Apenas ouvi uma conversa de que foi o Rei Petrus o responsável por tudo.

-Cada vez mais interessante. Foi por isso que o matou, eu imagino?

-Eu não o matei! Sei o que todos viram e sei como é difícil pensar ao contrário, mas até aquele momento eu era uma comum, eu não teria chances de enfrentar um rei.

-Então armaram para você? - Ele toma mais um gole da sua bebida enquanto eu pondero sua pergunta. - Me parece que foi tudo muito bem planejado para que você saísse como culpada. Você tinha muitos inimigos?

-Eu nunca saí do castelo. Eu não falava com outras pessoas da corte. - Adrian fica pensativo e olha para a janela como se tentasse imaginar o que poderia ter acontecido. Nuvens escuras começam a se aglomerar nos céus.

-Como você descobriu que era mentira?

-Eu fui acordada naquela noite pela minha criada, ela ouviu barulhos vindos do corredor. - Evito mencionar a preocupação de Alisha com os olhares do rei na noite anterior. - Eu a mandei para a cama e escutei o barulho depois de um tempo, segui pelos corredores até encontrar a rainha conversando em um quarto.

-Não lhe parece suspeito? - Minhas sobrancelhas franzem, criando uma ruga em minha testa. - Você é acordada coincidentemente naquela noite e encontra a rainha revelando uma verdade comprometedora fora de um escritório real, em um lugar que qualquer um poderia ouvi-la e no exato momento em que você se aproxima.

Minha cabeça fervilha com a ideia de que tudo poderia ter sido armado. Mas ao mesmo tempo não faz sentido, Alisha era minha amiga e confidente, ela não faria algo que pudesse me prejudicar, faria? Sinto um aperto incomodo no meu peito, procuro respirar fundo para tentar afastar aquela sensação. Eu precisava de provas. Provas essas que talvez eu nunca teria e nada me fazia acreditar que Alisha teria um motivo para me enganar. "Não é a primeira vez que traem você".

Escuto a chuva começar a cair, me despertando dos meus pensamentos. Eu me levanto para ir embora, mas Adrian segura o meu pulso com força.

-Não se preocupe com isso, é apenas um palpite. Mas, de qualquer forma, eles enganaram você sobre os seus pais. Te privaram de conhecê-los e roubaram a infância que poderia ter tido. Se desejar buscar por justiça, tem todo o meu apoio.

-Desculpe, Vossa Majestade. Mas eu tendo a duvidar que começaria uma guerra por justiça por minha causa.

-Ah, não se preocupe criança. Nossa guerra já começou a muito tempo. Tenho certeza que eu poderei lhe dar a força que tanto deseja e, no momento certo, poderá se juntar ao meu exército e ter a sua vingança.

A Filha do InfortúnioOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz