|SEM TEMPO|

237 32 22
                                    

Annecy, França. 3 dias antes.

Uma brisa soprava balançando as copas das árvores e enquanto isso gotas de uma chuva recente se misturavam ao ar frio dos Alpes franceses. Nesse cenário que exalava o cheiro fresco da natureza, e onde o som do cantar das aves ecoava pelo vento, se destacava entre as montanhas uma construção imponente: O Chateau de Duingt.

Seus muros eram feitos de pedras lavradas, a localização sobre um monte elevado dava uma vista privilegiada da cidade mais próxima e era cercado de um rio de profundas águas esverdeadas. O castelo era residência oficial do Duque de Savoie, mais conhecido como o urso dos Alpes.

Naquela tarde quando um homem de aparência impecável se aproximou trazendo consigo um envelope pardo, o tal Duque se encontrava debruçado sobre um belo piano vermelho dedilhando uma melodia triste.

— Alteza.

A última nota soou desafinada e Louis apoiou o cotovelo sobre as teclas do instrumento repousando seu rosto em uma das mãos.

— Lohan! Era você mesmo que eu queria ver!— O Duque exclamou ficando de pé mas quando deu um passo em direção ao seu assistente cambaleou caindo de volta no banco acolchoado.— Eu descobri... porque Ludwig Van Beethoven compôs uma sonata para a tristeza— ele soluçou com o sorriso de Gato de Cheschire.—  Mas não fez uma para a alegria.

Lohan se aproximou de seu amo e aspirou o ar confirmando suas suspeitas.

— Quanto o senhor bebeu dessa vez?—  Indagou ele com uma expressão preocupada.

— Shiii...— Louis pediu silêncio com o dedo em riste e sua postura relaxou. Suas pernas ficaram esticadas.— Eu falei primeiro!— Gritou de repente.

As sobrancelhas ruivas de Lohan ficaram franzidas e ele se inclinou apoiando uma das mãos de Louis em seu braço e o ajudando a ficar de pé.

— Venha, eu farei uma sopa para o senhor.

— Obrigado. Você é um assistente fiel. O que é isso?— O Duque inquiriu reparando no envelope que o outro trazia consigo.

— Temo que terei que satisfazer sua curiosidade quando sua Alteza estiver sóbrio.

Louis o encarou com uma expressão confusa.

—  E a propósito, sei que deve ser um lapso por conta do álcool e que o senhor é muito mais instruído do que eu. Mas a nona sinfonia de Beethoven, chama-se Ode à alegria, alteza.

Louis franziu as sobrancelhas e ficou pensativo por alguns instantes mas logo começou a rir. Era uma risada entrecortada e sonora que logo se transformou em uma gargalhada melodiosa.

— Porque está rindo?— Lohan não resistiu.

— Minha mente deve estar se deteriorando assim como o resto do meu corpo!— o Duque respondeu.— Vindo de você eu devo ter aprendido isso quando estava no jardim de infância.

Naquele momento houve o ruído das portas se abrindo e uma serviçal uniformizada entrou na sala, seus passos ecoavam enquanto ela pisava no chão de mármore.

— A doutora Carlota chegou senhor.—  Ela disse em meio a uma reverência.—  Devo autorizar sua entrada?

— Porquê essa cerimônia? Basta deixá-la entrar.— Lohan respondeu.

— É que sua alteza ordenou...— A mulher apertou os olhos e inclinou a cabeça atemorizada. — Ele disse que a doutora estava proibida de entrar no castelo.

Lohan olhou para o Duque com uma expressão confusa. Queria saber o motivo de ele ter dado uma ordem daquelas.

—  Louis!— A voz aguda de Carlota chegou ao ambiente antes dela.

Com Amor, Eu Creio.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora