|ENIGMA|

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***


O olhar atento de Janna examinava cada tecido com cuidado. Melanie que a acompanhava naquela busca pela peça ideal se aproximou com três rolos todos bordados com um fino acabamento que não podia ser encontrado em nenhum outro lugar. A princesa os observou e deu um sorriso fraco.

— Alteza, a senhora não está bem.— a tutora se inclinou na direção dela com uma expressão preocupada.— Porquê não paramos por hoje?

Sem forças para continuar fingindo estar interessada naquela tarefa Janna assentiu deixando que Melanie a tomasse pela mão e a conduzisse para fora da loja.

— Ainda restam duas semanas para o aniversário da Princesa Ayra. Sei que com o seu talento a senhora fará oque desejar em pouco tempo.— falando em tom alegre a senhora procurava animá-la. Ficou surpresa porém ao se virar e encontrar a princesa com os olhos cheios de lágrimas.— Alteza! A senhora está bem?— Melanie se desesperou.

Janna negou com a cabeça e secou as lágrimas com as mãos trêmulas.

— Está ouvindo essa música?— perguntou com voz embargada. Melanie franziu as sobrancelhas e forçou sua audição a fim de escutar alguma coisa.— Essa ao som de um piano.

Waltz in A minor de Frédéric Chopin tocava em algum lugar. (Música no começo do capítulo) Era uma melodia calma e baixa Melanie se surpreendeu em como a princesa havia escutado aquele som quase mínimo mesmo em meio à movimentação em que estavam.

— Será que ele tem um piano na Eslovênia?— Janna divagou em voz baixa. Percebendo os olhos de Melanie sobre sí ela abafou um sorriso e soltou um grunhido.— Me desculpe. Eu estou tentando, você sabe que sim!— Os olhos dela voltaram a ficar vermelhos. Melanie apenas a abraçou trazendo-a para bem perto de sí.

— Não fique assim.— Ela pedia afagando suas costas.

— Já faz um ano. Porquê a minha dor não diminui?

— Porque a senhora o ama.

— Eu não quero mais sentir isso.— Ela desabafou.— Depois de todo esse tempo sem sequer uma notícia sei que o quer que ele sinta por mim não pode ser amor.

— Lembre-se de que o amor é sofredor.

— Oh, eu tenho certeza disso! E como tenho!— Janna deu um sorriso amargo.— Vamos voltar.— Ela se virou indicando que aquela conversa estava encerrada.

***

Enquanto caminhava pelo corredor do Palácio Janna repassava alguns momentos desde o seu retorno à Jaipur. Ao pensar naqueles dias que haviam passado se arrastando, sentia um amargor em seu paladar e arrepios percorrerem sua pele. Haviam sido dias difíceis. Momentos que ela gostaria de apagar da memória.

A princesa se dirigiu ao quarto da irmã. Um choque súbito lhe ocorreu ao avistar a cama suntuosa vazia. Com o coração acelerado e passos vacilantes Janna se aproximou do móvel em Dossel.

Parou de andar quando ouviu uma voz doce cantarolando uma melodia alegre. Aquele som era a prova de que a vida não era feita só de amargura e tragédias. Um sorriso lento surgiu em seus lábios.

— Janna!— Ayra que estava sentada diante da sacada se virou para ela com um grande sorriso.— Quando você chegou?

A irmã mais nova retribuiu o sorriso e cruzou os braços continuando a olhar para ela. Um lindo sol com raios vívidos em tom de laranja surgia no horizonte. Ayra fechou os olhos e encheu os pulmões de ar como um mergulhador antes de submergir na água. Quando aspirou aquele ar havia alívio em seu semblante. Janna viu beleza naquele gesto, parecia típico de alguém que sabia oque era ser um sobrevivente. Exatamente como sua irmã.

Com Amor, Eu Creio.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora