|INCERTEZAS|

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***

"Esse é Alen nosso primeiro paciente a testar o medicamento."

Louis descansou o queixo sobre a mão. Repassava em sua mente o que tinha acabado de ouvir do doutor Damir.

Alen era o jovem de vinte e três anos de origem eslovena que sofria da mesma condição dele. O médico tinha explicado cada detalhe do tratamento, seus riscos e benefícios. Mas não parecia real. Uma parte dele queria acreditar que era possível ter uma nova chance de vida mas a outra parte, cética e racional o impelia para o contrário. Porque ter esperança era algo tão difícil?

" Só existe uma ressalva." O médico havia frisado. " O seu caso é mais evoluído e pode apresentar complicações sem precedentes. Por isso para que o tratamento seja efetivo preciso acompanhá-lo de perto. Ou seja, o senhor precisaria passar uma temporada no nosso laboratório de pesquisa em Liubliana."

Além de toda a ponderação que aquele assunto requeria, sentimentos conflitantes povoavam os pensamentos do Duque desde mais cedo. Dizia a sí mesmo que não deveria ter se incomodado com o sorriso que não lhe tinha sido dirigido. Nem com a falta imensa que sentia de Janna.

— É aqui, senhor.— a voz do motorista o tirou daqueles devaneios.

Louis desceu do carro e olhou para a catedral à sua frente. Logo avistou seu secretário e uma mulher vestida com um manto escuro que cobria sua cabeça e ombros.

— E a princesa?— o Duque perguntou discretamente a Lohan.

— Reforcei a segurança dela como me pediu, senhor.

— Precisamos ser rápidos.

Eles foram recebidos por um homem alto e entraram nos fundos da igreja onde havia uma construção à parte.

— É como a senhora se recorda?— Louis perguntou se aproximando dos dois.

A madrugada avançava mas o lar de caridade estava em pleno funcionamento recebendo pessoas resgatadas em situações de vulnerabilidade. O lugar era um grande galpão com estrutura antiga que claramente precisava de reparos.

Melanie entrou no espaço e observou as pessoas deitadas em leitos improvisados com uma expressão enigmática.

— Não é aqui.— ela murmurou com voz trêmula e seu corpo refletia a agitação de seu interior pois ela estava inquieta.

— Está dizendo que esse não é o lar de caridade?— Louis franziu as sobrancelhas.

— Já se passaram muitos anos. Talvez esteja muito diferente agora...— Lohan supôs.

— Não!— Melanie se agitou.

Ela derramou algumas lágrimas silenciosas e se sentou na cadeira mais próxima que encontrou.

— Eu me lembraria. Passei três anos da minha vida servindo nessa cidade.— Ela embalava o próprio corpo movendo-se para frente e para trás simulando o movimento de uma cadeira de balanço.

— Por favor, se acalme.— Louis recebeu das mãos do homem que os havia recebido um copo de água e a entregou. Em seguida ele se virou para o secretário.— Vá buscar a doutora Carlota agora mesmo.

Lohan saiu dali imediatamente.

Melanie deu um gole na bebida e procurou acalmar sua respiração. Louis chamou o homem responsável pelo local para conversar em particular.

— Ouça. Estamos em busca de algumas informações sobre essa mulher. Ela está confusa, afirmou ter sido resgatada e prestado trabalho voluntário aqui à alguns anos mas não reconhece mais esse lugar.

— Desculpe, sou apenas o vigia noturno. Não posso ajudá-lo.

Ao ouvir aquilo Louis sentiu uma sensação muito familiar brotando em seu interior e deu um sorriso amargo. Não importava quantas vezes viesse, a frustração sempre teria um gosto amargo como fel.

Ele não percebeu quando um outro homem chegou ao recinto munido de duas sacolas cheias com mantimentos.

— Eu não posso ajudá-lo.— O vigia reiterou.— Mas aquele homem ali pode.— ele apontou para o recém-chegado.

***

— Você disse que ela foi resgatada do ataque de mil novecentos e trinta e cinco?

Louis confirmou com a cabeça. O escrivão abriu as gavetas da escrivaninha à sua frente e tirou alguns cadernos e papéis amarelados de dentro delas. A cada vez que ele se movia o cheiro de mofo da sala parecia aumentar.

O escritório era um cubículo com uma lâmpada piscando bem no centro, uma mesa pequena e pelo menos três armários atrás dela.

— Felizmente eu tenho aqui comigo os registros de muitos anos dessa instituição.— Ele se levantou e procurou nos armários.— Se ela passou por aqui, estará registrado.

Louis acompanhou com os olhos atentos uma montanha de livros sendo empilhada diante dele.

— Qual é o nome de batismo dela?— O homem perguntou dando uma tossidela.

Ele era baixo e possuía uma estrutura óssea pontuda que destacava suas maçãs do rosto e as demais articulações.

— Melanie Debussy.

Ao ouvir aquele nome as sobrancelhas do homem se ergueram de maneira quase imperceptível. Ele alcançou o bolso de seu casaco e de lá tirou um Pince-nez ( óculos sem haste que se prende ao nariz) colocou as lentes e forçou seus olhos cansados a lerem as letras miúdas.

Depois de algum tempo ele olhou para Louis e tomando um livro o entregou.

— Vamos, há trabalho suficiente para três pessoas.

Enquanto isso dentro do abrigo a doutora Carlota envolvia as mãos de Melanie nas dela.

— A senhora está bem?— Ela perguntou com um sorriso gentil.

Melanie apenas assentiu com a cabeça. Carlota se levantou e caminhou até Lohan.

— É melhor levá-la de volta ao hotel, parece que houve uma queda da pressão arterial.— Aconselhou.

— Levarei vocês duas.— Ele anuiu.

— Não vai mesmo me dizer porquê estão aqui no meio da noite?— Ela não se continha de curiosidade.

— Só posso dizer que o maior mistério da vida de sua excelência está prestes a ser resolvido.

A médica ficou pensativa. Pouco tempo depois os três voltaram para o hotel e Carlota acompanhou Melanie até o quarto dela. Quando a tutora entrou no aposento se deparou com a princesa sentada em uma das poltronas com algo na mão.

— Alteza?— Melanie se aproximou dela apreensiva.

— Por favor...— Janna suplicou com os lábios tremendo.— Me diga que a senhora não sabe nada sobre isso.

A princesa mostrou o exemplar do jornal com uma foto do Palácio de Jaipur na manchete. Pela expressão confusa no rosto dela Janna sentiu um peso sair de seus ombros. Ela correu e muito emocionada abraçou a tutora.



***

Boa noite gentee....

O que dizer? Eis a questão. 😵

Beijos e até breve!!! 🥰😍😍😍

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