Capítulo 03

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Já eram sete horas, e eu já havia saído do banho. Wheezie estava no meu quarto já pronta, com uma maquiagem leve para sua idade. Usava uma sapatilha rosa bem clara, e um vestido rodado preto. Cobria todo seu corpo, era o estilo dela. Pelo o que ela disse, Rose fez cachos e um penteado nela. Antes de tudo, me maquiei e ela me ajudou nas cores. Fiz um delineado pouco chamativo e passei uma sombra azul claro com as bochechas rosadas e um batom nude. Penteei meus cabelos deixando do mesmo jeito de sempre, solto. Não gostava muito de penteados. Soltei a toalha cobrindo meus seios e Wheezie pegou o vestido na minha cama, sem eu precisar pedir. Ela era muito atenciosa e uma fofa, arriscaria dizer que ingênua, assim como eu era na sua idade.

O vestido era colado e ia até um pouco acima do joelho. A Cameron mais nova abriu o zíper e me ajudou a vesti-lo. O mesmo estava fechado e coloquei os brincos de pérolas, que estavam junto com a vestimenta. Coloquei o salto alto bege e brilhante, e peguei todos os meus pertences.

— Está pronta? -Wheezie me perguntou, toda feliz.

Respirei fundo: — Estou, sim. -sorri forçado.

Na verdade, eu não estava. Ainda achava errado me casar com Rafe Cameron, mas negócios são negócios. Eu precisava fazer aquilo por ambas famílias. Se tudo desse certo, as ações da empresa do meu pai iriam subir um número consideravelmente elevados. Voltar a viver como uma kook era a última coisa que eu queria, mas eu assinei um contrato. Não quero pagar uma multa alta. Desci as escadas e encontrei Rafe e Rose no pé dela. Rose vestia um vestido de gala, com um decote realçando seus enormes seios. Rafe vestia um terno com uma gravata borboleta, seus cabelos eram rebeldes e pareciam estar crescendo, provavelmente raspou em algum tempo.

Rafe veio até mim, me conduzindo pela mão para descer as escadas. Antes que pudéssemos sair porta a fora, me surpreendeu beijando minha mão, a qual ele havia pego. Não disse nada, sorri em troca. Rose me elogiou, fiz o mesmo. A mulher pegou a mão da enteada, a única dos Cameron que se dava bem, além do falecido marido e saiu.

— Você está muito bonita, Aubrey! -Rafe me parou na porta.

— Para de fingir, não estamos na frente de ninguém para tal coisa. -disse, com desgosto.

— Não estou fingindo!

— Está sim! -teimei. — Você me odeia e sempre odiou. Você virou um babaca narcisista na adolescência e tudo que fazia era me tratar mal. Éramos grandes amigos e você me magoou. Não finja que as coisas não aconteceram! -senti meus olhos arderem. — Estou aqui pelo meu pai, está entendendo?

Rafe assentiu silenciosamente, engolindo em seco o que eu havia dito. Mas não acho que aceitou tudo calado o que eu disse, e sim porque já estava na hora de sairmos e não queria prolongar o assunto para acabar-nos atrasando. O Rafe nunca foi de se calar diante as pessoas, muito menos quando está errado. Ele iria retrucar e me fazer esquecer o que eu disse, até eu me arrepender de ter dito, ou simplesmente ia me convencer do contrário de minha fala. Eu sinto que ele pode ser sim o Rafe de antes da morte de sua mãe, é algo que sinto no fundo, mas sinto que ao mesmo tempo ele está piorando. Uma vez, seu pai disse que para não ter negação com a morte da Sra. Cameron, Rafe precisava de terapia. Eu me lembro de ouvir isso da cozinha, e não se ouviu mais a voz em fase de crescimento do filho mais velho e sim, um frasco de vidro se chocar contra a parede se estraçalhando no chão.

Rafe nunca aceitou uma opinião diferente da sua, e é por isso que se calar me assustou.

O carro nos conduziu até onde tudo ocorreria, eu estava nervosa. Tudo que uma menina precisa quando se está nervosa é do abraço de seus pais, mas tudo que eu preciso é da minha cidade antiga, do meu quarto e abraçar meu grande travesseiro branco. Meus pais seriam a última solução da qual eu precisava. Sei que eu e minha mãe nunca nos demos bem e era raro esses momentos, mas meu pai!!!!??? Era meu melhor amigo.

O lugar antes de entrar dava para ver que estava cheio. Era um pouco mais que oito horas. Esqueci o quão pontuais as pessoas de Outer Banks são. Na minha antiga cidade tinha que marcar uma hora antes para as pessoas chegarem ao horário certo. O clube estava enfeitado dos rodapés até os finais das áreas que tinham paredes. As pessoas ocupavam a área redonda do grande bar com vários barmans e uma bargirl dos cabelos curtos pretos e um sorriso marcante, uma franja que dava um ar juvenil a ela, mas certamente não era tão jovem assim. Minha idade, talvez? Quando Rose e Wheezie foram na nossa frente, um pouco que apressadas, Rose nos anunciou. Isso eu não esperava. Ser o centro das atenções nunca foi meu forte, mesmo que essa noite seja minha.

Olhei Rafe um pouco que confusa, ele estava sorrindo. Com o braço dado ao dele, ele afagou meu braço com sua mão vaga e virou para mim, sorrindo singelo com a boca fechada. Demonstrando, ou tentando, um conforto para mim. Então, tratei de pôr o melhor sorriso que eu poderia dar nos lábios, mesmo que falsos. As pessoas começaram a nos olhar e algumas vieram nos cumprimentar e parabenizar. O pedido ainda não foi feito, mas parece que já sabem da novidade. Algumas eu conhecia, outras nunca vi na minha vida. Meus pais foram os últimos, junto de Rose, nos abraçarem e conduzirem-nos a uma mesa.

— Eu não sabia que o pedido ia ser na frente de todos, e que muitos aqui já sabem. -parei Rafe, antes de sentarmos, segurando seu paletó.

— Nem todas sabem, Brey! -fez um carinho no meu rosto. Fechei os olhos com desgosto.

— Não me chama assim! -disse entre-dentes.

— Como quiser, futura senhora Cameron! -revirei os olhos.

Sentei e comecei a observar a conversa de todos a minha mesa. Rafe e meu pai falavam de negócios, enquanto algumas bebidas eram servidas juntamente de comidas, que os Cameron contrataram um buffet. Rose e minha mãe falavam coisas de esposas troféus, o que certamente elas são. Wheezie fazia algo no celular. E Sarah? Bom, não sei. Não está aqui, mas eu gostaria que estivesse. Assim eu me distrairia desse inferno, e ela iria me dizer coisas para me acalmar e dizer que talvez eu esteja fazendo algo certo. Ou simplesmente iria me dar a mão e fugir comigo dessa noite.

Depois de um bom tempo conversando e observando todos, bebendo um vinho bom na maior força de ódio, Rafe se levanta. Tampo o rosto com raiva, mas sei que tudo faz parte do contrato.

— Boa noite à todos! -Rafe disse, após chamar a atenção de todos batendo fraco em um taça. — Muitos aqui sabem a finalidade dessa noite maravilhosa, mas nem todos. Devem estar se perguntando o que é de tão importante para Rafe Cameron fechar o melhor clube de Figure Eight. -todos riram com sua fala final. É sério isso? — Desde que meu pai morreu definitivamente, eu me senti sozinho. O homem que me criou e me ensinou tudo o que eu sou hoje não está mais aqui, então pensei, eu preciso proteger os meus, minha família. Mesmo que alguns não queiram estar por perto. -revirei os olhos junto com ele. — E nada melhor que conduzir as coisas como um dia meus pais fizeram, e depois meu pai fez junto de Rose. Eu preciso de alguém para guiar o caminho dos Cameron, preciso de alguém para me fazer companhia, preciso de um amor. -quando ele discursou, algo na minha frente me fez parar os meus olhos na mulher do bar, a do sorriso marcante de cabelos curtos e franjas.

Ela olhava dentro dos olhos do Rafe, sorrindo ao mesmo tempo que pôs os cabelos atrás das orelhas. Olhei o homem em pé a minha frente com raiva, mas por sorte ele não a olhava, e nesse instante ele me olhou. Me fazendo levar susto e piscar algumas vezes. Pegou minha mão e fiz meu melhor papel de surpresa. Me guiou até a frente da mesa, onde todos podiam nos ver, e se ajoelhou. Alguns burburinhos começaram, olhei Rafe que tirou uma caixa vermelha do seu paletó e abriu.

— Meu pai deu isto a minha mãe quando a pediu em casamento. É muito valioso, mas valioso no amor. -respirou fundo. — Aubrey Williams, você quer se casar comigo?

Eu sorria, mas sorria por puro êxtase. Aquilo tudo era combinado, eu já sabia da maior parte dos passos. Olhei todos que falavam algumas coisas, para saber suas reações. Meu sorriso sumiu quando encontrei um par de olhos azuis diferentes dos olhos azuis de Rafe. Eram os olhos azuis mais vivos e lindos que eu já vi na vida. Mas esses olhos pareciam decepcionados, em choque. De tantos olhos azuis, esse era o último que eu queria encontrar. Me virei para Rafe, com lágrimas nos olhos. Meu coração doía. Engoli em seco e sorrio novamente.

— Sim, eu quero!

Um casamento&meioWhere stories live. Discover now