Capítulo 4

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                                 Floris.

Eu sinto vontade de fugir de casa todas as vezes em que fico a sós com a minha mãe.

— Pelo amor de Deus, mãe. Eu não quero fazer faculdade! - Resmungo, enquanto escuto ela falar a importância de uma faculdade. Pasmem, ela é autora.

Não estou afirmando que ser autora não é uma profissão, é bem mais do que isso. Mas é contraditório. A minha mãe não possui diploma universitário, mas quer porque quer que eu tenha um.

— Você vai fazer, sim! - Ela determina com os dedos, me olhando furiosa. — Eu não quero que você dependa de nada nessa vida!

— E você depende, mãe?

— Infelizmente, sim. Não adianta ter só talento. Talento não enche a sua barriga. Dinheiro, sim.

— E se eu quisesse ser autora também? Você possui tantos fãs. - Ela ri, com a mão sobre a testa enquanto massageia sua têmpora. — Você acha que eu não tenho capacidade?

— Não disse isso, Floris. - Seus olhos estão dilatados. — Mas você não terá paciência para lidar com a escassez.

— Você me subestima. - Meus olhos caem para os meus dedos. O não apoio é uma droga.

Ela se aproxima, puxa uma cadeira e senta-se ao meu lado. Minha mãe alcança as minhas mãos e segura o meu rosto para que eu a encare.

— Filha, eu não quero que você se limite. Depender da escrita é complicado. Ser autora é tirar ideias de onde não há. Mas se você quer, não há problema. Eu fico até feliz pela inspiração. - Ela solta uma frustrada lufada de ar, e continua. — Eu só quero que você tenha condições suficientes para viver, não somente sobreviver. Eu quero que você seja grande, meu amor. Você pode ser grande como autora, mas pense além. Pense nas coisas que você quer conquistar, se você quer viver à serviço da escrita, da imaginação. Hoje, possuímos condições, mas antes não.

Ela levanta e sai, em silêncio. E tudo que a minha mãe me disse se repete como um disco arranhado em meus pensamentos. Coloco as mãos em meus cabelos e fecho os olhos. Sinto saudade do meu pai nesses momentos.

Deitada sob o edredom, fico encarando o teto. A realidade é que não sei o que quero, se estou preparada para enfrentar quatro anos ou mais dentro de uma sala de aula novamente. O ensino médio, pra mim, fora terrível. Nunca fui boa em exatas, mas era obrigada a ser para no final ser validada por uma nota.

Gosto de teatro, de música. Da arte. Da vida. Gosto de tudo que posso explorar. Gosto da liberdade.

Escuto meu celular tocar, ele está longe o suficiente para que um murmúrio escape dos meus lábios. Rolo aos olhos ao ver quem é.

Esse garoto não me deixa em paz!”, penso, lendo a sua mensagem pela notificação.

Sinto sua falta. Podemos nos ver? Prometo ser rápido.” Fico paralisada lendo sua mensagem, mas não por sentir e sim por odiar a ideia de vê-lo. Penso em convidá-lo para a minha casa, mas com toda certeza do mundo a minha mãe detestaria vê-lo, assim como eu também detesto.

Namorei o Liam por 2 anos e meio, até ele esmurrar a minha boca porque assumi que também gosto de garotas. Na época eu ainda não entendia o que era “gostar de garotas”. Eu não fazia ideia da minha sexualidade.

     Alguns meses atrás.

O gosto de sangue invade a minha boca. Estou com a mão sobre ela. Afasto os meus dedos e confirmo que é sangue. Liam me bateu.

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