Capítulo 34

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Não sei o que dizer. Estou imóvel desde o momento em que ele falou. Não consigo formular uma palavra sequer, e até tentei.

Ele continua me encarando sério, aguardando um posicionamento meu. Inspiro profundamente sem que ele perceba, enquanto mordo meu lábio em puro nervosismo.

— Não entendi - franzo o cenho, fingindo demência.

Realmente espero que não seja o que estou pensando.

— Quando você iria me contar, Floris? - Caio apoia o braço no sofá e me encara, absorvendo todos os meus pecados através do seu olhar profundo e fuzilante. — Você achou mesmo que conseguiria esconder por muito tempo?

— Do que você está falando? - Tento manter meu olhar estável, mas minhas mãos gélidas escancara o meu pecado.

Ele se levanta, caminha até a parede mais próxima e se encosta nela. Seus braços cruzados exalam a seriedade da situação.

— Você conhece alguma Sabrina Jenkins? Uma autora bastante conhecida... E que, por sinal, é uma das maiores inspirações da sua suposta namorada?

Tento engolir em seco o nó que se formou em minha garganta, mas não consigo. Não consigo. 

— Encontrei a sua identidade em seu quarto, aleatoriamente. Estava me sentindo sozinho e fiquei um pouco lá. Acho que você esqueceu ela em um lugar visível à olho nu, amiga - O ênfase me faz embrulhar o estômago. Não me odeie, Caio. Por favor. — Floris Jenkins... - Ele ri, como se não acreditasse em tudo que está acontecendo. — Realmente não conhecemos ninguém de verdade. A sua personalidade também é baseada na sua falsa identidade?

— Caio... - Minha voz trêmula expõe o meu nervosismo. — Me escute primeiro, por favor.

— À disposição. Mas quanto à Liya, farei de tudo para não estar. Ela você não manipula, não mais. - Sua mandíbula trincada e seu olhar sério esfaqueia-me por dentro.

Queria que ele me ouvisse e me entendesse, mas sei que ele não irá. Nem eu entendo o porque fiz o que fiz. Não havia necessidade. Permiti que o meu medo ultrapasse o amor que sinto por Maliya. Fui covarde e fraca. Acreditei que todos que entrassem na minha vida não iriam gostar de mim, mas sim do que possuo. E não há nada pior do que o sentimento de invalidez.

Minha cabeça está curvada para trás, estou encarando o teto, lembrando-me de tudo que acabara de acontecer. O meu silêncio foi a resposta que Caio precisava para me condenar perpetuamente. Ele saiu, deixou-me sozinha com os meus demônios que eu mesma alimentei e cuidei. Perdi o que demorei pra ter, por incapacidade de raciocinar. Covarde.

Alcanço um dos meus antigos diários e me deparo com o primeiro texto que escrevi para ela assim que notei que as minhas mãos tremiam todas as vezes em que eu a via. Deslizo o dedo por cada palavra escrita. Fecho os olhos por alguns segundos. Meu coração inquieto não me deixa respirar.

Caminho até o balcão com o diário na mão, deito-o sobre. Afundo minhas mãos no meu cabelo, sentindo o fardo dos meus atos sobre os ombros. Às vezes confirmo a teoria de que eu não possuo cérebro. Onde eu estava com a cabeça quando acreditei que seria uma ótima ideia omitir o meu nome para validar o sentimento de alguém?

Eu sou insegura.

Despejo a bebida em meu copo e viro-a de uma vez em minha garganta. A ardência é pouca para a inquietude da minha alma.

Doce e ingênua, Liya

Me perdoa. Me perdoa por não ter pensado no que você sentiria.
Me perdoa por ter sido fraca e insegura. Eu nunca quis ferir você. Mas eu feri, então acabo me contradizendo. Mas eu nunca quis. Sempre quis você, essa é a verdade. Quando a vi, soube que você seria minha, ou eu não me chamaria Floris Jenkins. É, isso mesmo, eu sou a filha de uma das pessoas que você mais ama no mundo. Não me odeie, eu tive medo. Eu sou diferente dela, ela não possui medo. Eu, sim. Meu sobrenome é insegurança.
Na verdade, me odeie.. Eu fui covarde, essa é a verdade. Acreditei que você seria como as outras, mas agora, diante deste papel e sentindo as lágrimas molharem tudo que escrevo, percebo que você nunca chegou perto de ser. Você é o oposto dela. Você é o sinônimo. Tola fui eu por acreditar que a validação seria a única alternativa. Me desculpe pela confusão, Maliya, assumirei o risco de perder. Não se sinta pressionada a permanecer. Mas eu irei. Não desistirei de você.
Com você, descobri o amor. Você é o próprio amor. Você me ensinou a amar, até mesmo nos dias em que não houve amor, apenas dor extrema. Não sei se te mereço, mas, por favor, não duvide do amor que tenho. Ele é imenso e diz tanto de mim.


Me debruço sobre o braço. Não consigo. Me sinto uma idiota. Amasso o papel e jogo-o longe. Que patética você, Floris. Que patética.

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⏰ Last updated: Feb 27 ⏰

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