Capítulo 32

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  Seria cedo demais para pensar nisso? Ou tarde demais para cogitar a ideia? O amor, às vezes, não precisa ser dito, apenas sentido. Existem vários tipos de amores, e, aquele ao qual me refiro é o amor sentido. Sinto-me em casa contigo, segura e alegre. Experimento diversas emoções simultaneamente e percebo que amo você. Amo até mesmo seu resmungo minutos antes de acordar, seu cabelo embaralhado, sua pele amassada, o cheiro que exala a sua feminilidade e os passos calmos que irradiam a sua paciência. Amo a ideia de ser sua, de sermos nós. Gostaria de te dizer isso mais vezes, Liya. Quero me deleitar em seus braços sempre que o mundo ameaçar sucumbir. Adoraria que fosse completamente minha, dos fios de cabelo às células. Desejaria que pudéssemos viajar pelo mundo, entrelaçadas à alma, com o coração transbordando de um amontoado de sensações positivas.
   Queria que fosses minha. Não de qualquer modo, ou por ser apenas. Gostaria que pudesses ser somente minha. Minha amada, minha querida, a mulher por quem desejo todos os dias. Não que eu não deseje, jamais. Desejo até a última gota que escorre de você, meu amor. 

Levanto-me lentamente. Liya está dormindo tranquilamente, e ele também. Procuro não fazer barulho ao dirigir-me ao banheiro para realizar minha rotina matinal. Prendo meu cabelo em um coque frouxo e penteio os fios da minha sobrancelha, harmonizando-a.

Hoje, em particular, sinto-me um pouco esquisita. Mas estou feliz por ter dormido mais uma vez ao lado dela. Admirá-la dormir é como uma espécie de imediatez dos meus problemas; sinto-me renovada, pronta para o novo. Capaz de enfrentar tudo. 

Martins está preparando a mesa. Ele se assusta ao me ver. Esqueci que entrei pela janela, e, provavelmente, a esta hora, ele já estava dormindo.

— Não me lembro de ter falado com você ontem - Martins está com o cenho curvado e os olhos estreitos. 

— Liya me ligou e eu vim. Era um pouco tarde, e eu suponho que o senhor estivesse dormindo - omito.

— Tranquilo, nora - Ele se vira, mas eu continuo imóvel. 

Ele me chamou de nora. Porra, eu sou a nora dele. 

Faz tanto tempo que eu não ouço essa palavra, que desconhecia a sensação de ser nora de alguém. 

— Eu vi o Caio e fiquei horrorizada. O senhor sabe o que aconteceu? - sento-me à mesa. — Liya não me contou. Ela também estava muito abatida. 

— A única coisa que ela me contou há uns dias atrás foi que ele estava com a avó, e depois ele apareceu daquele jeito. Fiquei em choque, também. - Martins está sentado à minha frente, bebericando seu café e com o jornal em mãos. — Ele é gay? - Ele varre o olhar pelos cômodos, temendo ser ouvido por mais alguém. Contenho o riso.

É - sussurro — só não se aceitou ainda.

— Ele tem o jeitinho mesmo, mas nada contra. Minha filha é super gay. Vai ver eu também sou - Ele põe a mão no queixo e faz um biquinho — Acha que eu tenho jeito de gay?

— Um pouquinho - específico com os dedos.

Liya surge inesperadamente, coçando os olhos, visivelmente sonolenta. Esboço um sorriso sem mostrar os dentes ao vê-la. Amo vê-la acordar, seus olhinhos compostos pelo sono, seu rostinho amassado e sua voz arrastada. 

— Bom dia, filhota - Ele cumprimenta-a primeiro. Ela caminha em minha direção e sela os nossos lábios. — Eu cheguei primeiro em sua vida, esqueceu? - O sorriso que ela exibe deixa-me boba.

— Bom dia, papai - Os dois se abraçam e Martins acaricia o seu cabelo, aconchegando ela em seus braços. — O que fez para o café da manhã? - Ela senta-se em uma das suas pernas. — Não dormi muito bem - Agora seu olhar está sobre mim — passei a noite tendo pesadelos. Caio já acordou?

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