Capitulo 13

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                              Liya.

O sol lançava sombras suaves pelo campus da faculdade enquanto eu me sentava sozinha em um banco, perdida em meus pensamentos. Hoje, o peso da tristeza era especialmente intenso, pois marcava o aniversário da partida de quem tanto amei. Minha mãe. O vento sussurrava suavemente, ecoando a melancolia que envolvia meu coração.

Recordações inundaram minha mente, desde os dias felizes até os dolorosos. Segurando o último livro que ela me deu, senti suas palavras ecoando como um sussurro suave, uma conexão tangível entre nós. Cada página era um elo com o passado, uma lembrança do amor que compartilhamos, por histórias e palavras.

Me sentia isolada em minha própria solidão. Em dias como esses, costumo esconder-me. Costumo ficar em meu quarto, afundada nos meus livros. Afogada em minha própria ruína. Mas hoje decidi vir, não queria ter que lidar com a atmosfera pesada que ronda a minha casa e o meu coração.

A brisa carregava o aroma das flores próximas, evocando a sensação de quando minha mãe me presenteava com um buquê. Cada pétala parecia conter um pedaço dela, uma presença que eu ansiava sentir novamente.

Enquanto segurava o livro com firmeza, as palavras impressas ganhavam vida em minha mente, como se minha mãe estivesse ali, compartilhando um último capítulo. Era uma despedida literária, uma maneira dela continuar presente, mesmo ausente.

Decido abri-lo, e não consigo conter as lágrimas que insistem em cair. Esse livro é meu tesouro, um vínculo eterno. Minha mãe sempre deixava pequenas mensagens e pensamentos ao lado das passagens que a tocavam. E tudo que consigo fazer neste momento é molhar as páginas com a saudade enraizada. A sensação de perda ainda é fresca, como se tivesse acontecido ontem. E aqui estou eu, tentando seguir em frente, mesmo sabendo que nunca conseguirei deixá-la ir. É como se a ideia de não sentir fosse o decreto do meu fim.

Caio se aproxima silenciosamente, percebendo a melancolia nos meus olhos. Sem dizer uma palavra, ele se senta ao meu lado. Seus olhos encontram os meus, e há uma compreensão silenciosa entre nós.

Sem trocar palavras, ele simplesmente me abraça. Seu calor humano e a familiaridade do seu toque são como um bálsamo para minha alma ferida. Não há necessidade de explicar, ele sabe. Crescemos juntos, compartilhamos risadas e lágrimas, e agora ele está aqui, dividindo o peso do meu coração.

Envolvida nos braços dele, permito-me sentir a tristeza, deixar as lágrimas caírem. Caio não tenta consertar nada, apenas permanece aqui, oferecendo seu amor em silêncio. É reconfortante ter alguém que compreende. É reconfortante possuir alguém que traduz a sua alma através do silêncio.

— Amo tanto você, Lili! - Ele ergueu meu rosto para que eu o olhasse, e vejo que em seu olhar também há tristeza. — E amo ainda mais a Lily.

A minha mãe possuía um apelido que poucos conheciam. O seu nome é Lianna Aubert Tessmann. E é por isso que Caio me chama de “Lili”, devido à semelhança que possuo com a minha mãe. Eu sou idêntica a minha mãe, principalmente o semblante e comportamento.

Obrigada! - Envolvi seu pescoço com os meus braços, apertando-o fortemente para que sintas que também o amo. — Preciso lavar o meu rosto. - sussurro, enquanto rio. Tenho certeza que estou parecendo uma palhaça.

— Precisa! Vai lá, vou ficar aqui te esperando. - diz Caio.

Os soluços ecoam no banheiro, e minha pele arde com as lágrimas. Respiro bem fundo, decidida a recompor-me. A pia está fria sob meus dedos enquanto enxugo as lágrimas e tento disfarçar os vestígios da dor.

Ao erguer o olhar no espelho, a visão me atinge como um soco. Lá, nos cantos sombrios, Floris se entrega aos beijos apaixonados com outra. Uma onda de fúria varreu meu peito, fazendo-me esquecer a máscara que eu tentava recuperar. A maquiagem que antes era uma armadura agora parece inútil.

Saio do banheiro como uma tempestade, a porta batendo atrás de mim. A raiva queima em meu peito, e cada passo é uma marcha decidida para longe do que acabei de ver. Não consigo evitar as contrações desconhecidas que sinto em meu coração. Não consigo não rever a cena dela, novamente, beijando uma qualquer.

Me pergunto como ela consegue ser tão carente e esnobe, ao ponto de se prestar a esse tipo de papel em locais públicos. Não podiam simplesmente ir a um local reservado? Preferem expor as suas intimidades, como se ninguém tivesse acesso a estes locais.

— O que aconteceu, Liya? - A voz longe de Caio invade os meus ouvidos, mas não paro para respondê-lo.

Estou sentada atrás da quadra, com os braços apoiados nas pernas, enquanto mexo em meus dedos, cabisbaixa. Não sei o que está acontecendo comigo. Não sei por quê mexeu tanto comigo ver Floris beijando outra garota. É típico dela, não é algo incomum. Ela é bonita, padrão. Irresistível, não? Todas as meninas fariam sacrifícios por um beijo seu. E, além do mais… Esquece.

Com as mãos no meu cabelo, buscando tirar ela do meu pensamento, abro os olhos na vasta tentativa de focar a minha atenção em outra coisa. Murmuro, furiosamente em silêncio, negando a mim mesma que é tudo menos ela que se aproxima de mim.

Seus passos vacilantes ecoam no corredor, e quando nossos olhares se encontram, há uma hesitação momentânea em seu rosto. No entanto, antes que eu possa dizer uma palavra sequer, a coragem se apodera dela, e ela abre a boca para falar.

— Você… você está bem, Liya? - Sua voz caem no vazio enquanto minha expressão endurece.

— Você, pelo visto, está ótima. - Minha voz é um sussurro cortante, e o tom gela o ar entre nós. A troca de palavras se torna uma dança perigosa.

— Por que você saiu do banheiro daquele jeito? - Ela fica na minha frente, agachada, à minha altura.

— Não quis atrapalhar. - É tudo que digo, buscando não encarar seus olhos que me examinam.

— Você não atrapalhou, eu só…

— Atrapalhei. Você estava muito ocupada. - Corto-a.

— Liya, eu… Por que você está falando assim comigo? - Dessa vez decidi encará-la, seus olhos dilatados carregados pela confusão do meu comportamento. — Você estava chorando? - Ela toca meu rosto, buscando acariciar a minha bochecha, mas não permito, apenas retiro a sua mão do meu rosto. — O que eu te fiz? - ela sussurra, deixando visível o seu constrangimento.

— Você não me fez nada, Floris.

— E por quê está falando assim comigo se não é nada, Maliya? - A citação do meu nome em seus lábios me enfurece. Detesto ser chamada assim, e acredito que não deixei claro quando disse que prefiro ser chamada de Liya.

— Você não tem intimidade comigo para me chamar assim. - A fúria ressoa em minhas palavras, e vejo nos olhos de Floris um vislumbre de mágoa com arrependimento. — Eu sou Liya. Não Lili ou Maliya. Liya, Floris, me chame de Liya. - vocifero.

Nossa… - Ela sussurra, engolindo em seco. — Eu não te fiz nada, garota! - Ela se levanta, e quando está prestes a sumir do meu campo de visão, decido falar.

— Carente! Você é uma carente, isso que você é!

Cada palavra uma flecha afiada dispara no calor do momento. Meus olhos, normalmente refúgios de confiança, agora são um espelho de irritação profunda. O que era uma amizade parecia pendurar no fio da incerteza.

Como é que é? - Floris se reaproxima, ficando frente a frente comigo, quase me encurralando contra a parede. Seus olhos estão fulminantes, consigo sentir até mesmo a sua respiração quente e ofegante contra o meu rosto. — Repete!

— É isso mesmo que você ouviu. Você é a porra de uma menina carente que beija qualquer boca, a fim de quê? De provar que é fodona? Ou de que você realmente não é uma pessoa sozinha?

Tudo que falo, de maneira impulsiva, parece atingi-la em cheio. Floris retrai, cerrando a mandíbula. Seus olhos expressam a chateação e o modo como fui baixa em falar o que falei para ela. Ela abaixa o olhar, buscando palavras.

— Vai se ferrar, Liya! - Floris parece encurralada pelas palavras, e até tenta falar algo, mas não consegue. Apenas saí, sem olhar para trás.

  E eu desmorono, mais uma vez, em lágrimas.




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