Capítulo 20

3.2K 449 248
                                    


                               Liya.

Sempre dei importância a todas as vezes em que minha mãe pedia para que eu imaginasse. Mesmo quando se tratava de algo impossível ou improvável, eu imaginava. Visualizava como poderia ser, detalhes e até mesmo as sensações que experimentaria caso o que eu imaginasse se concretizasse.

Lembra daquela garota que mencionei, a que achei bonita e considerei ficar com ela? De forma surpreendente, ela me convidou para uma festa na cidade vizinha hoje. No início, hesitei bastante, já que não tenho muita intimidade com ela para sair. E imaginei situações improváveis. Não me identifico como mulher lésbica ou bissexual. Na verdade não sei o que sou. E nem sei se existem características específicas para isso. Mas, adivinha só, acabei aceitando o convite. O mais surpreendente foi que meu pai não questionou, apenas permitiu.

Estou terminando de me arrumar. O vestido em que optei é justo, com alças abaixo do meu ombro, com um pequeno decote nos seios. Não sei se estou arrumada demais ou casual demais, mas sei que gosto do que vejo no espelho. Decidi deixar o meu cabelo preso em um coque bagunçado, com alguns fios soltos na frente. Em meus lábios, optei por gloss. Me sinto radiante.

Provavelmente ela já está à minha espera, já que ouço buzinas do lado de fora. Apresso-me e despeço-me do meu pai com um beijo em seu rosto. Ouso dizer que, todas as vezes em que ele me elogia, é como se fosse a primeira vez. E eu me sinto a garota mais linda do mundo, todas as vezes.

Ela abre a porta do carro educadamente, e eu entro. Estou um pouco receosa, trocamos apenas mensagens breves, mas ela parece ser tão pacífica como eu. Assim que ela entra e senta-se no banco do motorista, sorrindo para mim, sinto-me um pouco mais confortável. Ela é realmente muito bonita.

— Você está maravilhosa! - disse Alessa, com o mesmo sorriso de antes. — Sempre quis ser sua amiga.

Não acredito que ela queira ser minha amiga, mas também não descarto essa possibilidade. Alessa tem cabelo curto, veste-se de maneira mais masculina, tem o maxilar definido e é lésbica. Seria preconceituoso assumir que alguém com as características dela não queira minha amizade? Ou estou apenas deixando meu ego heterossexual influenciar essa situação?

Acabo dando de ombros mentalmente, afastando os pensamentos intrusivos. Qual o problema em fazer amizade com mulheres sem a intenção romântica? Mesmo que eu considere ficar com a Alessa, o estigma de que a maioria das mulheres lésbicas se aproxima com segundas intenções me faz permanecer na defensiva.

— Obrigada, Ale! Você também está muito bonita. - Percorro com o olhar por todo o seu corpo, analisando a sua roupa e a maneira como se comporta. Queria ter a sua postura. — Confesso que estou um pouco nervosa. - Sorrio sem graça, virando o rosto logo em seguida.

— Não precisa ficar. Prometo que a noite será divertida!

Não demora muito para chegarmos. O som alto é como uma espécie de convite para adentrarmos ao espaço. Ousadamente e inesperadamente, Alessa entrelaça os nossos dedos. Sinto-me imóvel por um segundo, mas logo permaneço maleável. E, segundos após a sensação indescritível, sinto segurança. Olho para ela, que também me olha, e sorrio.

— Se eu beber demais, não saia do meu pé! - alerto-a, deixando escapar um riso.

— Não sairei do seu pé mesmo que você queira, gatinha.

A menção do adjetivo "gatinha" me faz lembrar de alguém que tinha esquecido. É como se essa referência pudesse abrir um portal para minhas lembranças. Apenas ela me chama assim, e só ela é capaz de provocar sensações que antes eu nunca havia experimentado.

Quase Confidencial - ROMANCE SÁFICO Where stories live. Discover now