Capítulo 28

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                             Liya.

Limpo as lágrimas que escorrem dos meus olhos. Me sinto indefesa, incapaz de processar algo. Meu pai está se afundando, gradativamente. E eu não posso intervir. Eu não posso falar: “chega, papai. você também está me matando”. Eu não posso. 

Há 6 anos perdi o amor da minha vida, e estou prestes a perder o outro amor da minha vida. Ficarei sozinha no mundo? Eu não quero ficar só, não de novo. Estar sozinha é solitário, principalmente quando você se sente só, mesmo rodeada de pessoas. 

Lavo o rosto e prendo o meu cabelo em um coque frouxo. Desci as escadas com confiança, os degraus sob meus pés pareciam familiares. De repente, meu pé prendeu-se em um tapete solto, e o equilíbrio se desfez como areia entre meus dedos. Agarrei-me desesperadamente ao corrimão, mas o inevitável aconteceu. Um estalo ecoou e uma dor excruciante tomou conta de mim. No último degrau, percebi: meu pé quebrara.

As lágrimas escorrem, mais uma vez, pelo meu rosto. Mas diferentemente de antes, agora são lágrimas de dor. Dor física. Uma dor tão aguda que faz-me fechar os olhos lentamente. Tudo está se tornando escuro, e eu acabo me rendendo. 

O clarão à minha vista faz-me murmurar. Tento abrir os olhos lentamente, mas a anestesia não me permite. Aos poucos, procuro assimilar onde estou. Viro o meu rosto para o lado e encontro o meu pai. As palavras se formam em minha boca, mas ele não me permite falar.

— Você quebrou o pé, filha - Ele acaricia as costas da minha mão — Não precisa falar nada. Está tudo bem.

Olho lentamente para o meu pé engessado e recordo-me da dor que senti. Fecho os olhos novamente, condenando-me por estar assim; por ser um peso para o meu pai, que poderia estar fazendo qualquer outra coisa, mas está aqui, no hospital, cuidando da filha descuidada que não olha por onde pisa.

— Vim correndo assim que soube - Sorrio mentalmente ao ouvir a voz da minha garota — Como você está? - A preocupação em sua voz é nítida. — O senhor pode ir, eu ficarei aqui com ela. - Os dois se entreolham, e depois ele me olha. — Prometo mantê-lo informado.

Meu pai me olha e depois a olha. Faço que sim com a cabeça, e ele sai. Retorno meu olhar para ela. Alcanço seu rosto, com um pouco de dificuldade devido ao acesso, e acaricio. Detesto a sensação ruim que nos rodeia todas as vezes em que nos desentendemos. 

— Oi - sussurro, observando-a sentar-se na cama — Eu estou bem. Eu só... quebrei o pé. - faço uma careta.

— Como isso aconteceu, meu amor? 

Me sinto igual ao Cirilo todas as vezes em que ela me chama de amor. 

— Eu não lembro muito, mas acho que meu pé prendeu. Quando dei fé tava caída sentindo uma dor do caralho. Merda! - choramingo, encostando-me novamente no travesseiro. 

Detesto a ideia de ficar vulnerável e dependente. 

Floris está dormindo ao meu lado, o rosto sereno, sem preocupação. Meus dedos deslizam em seus cabelos cacheados, acariciando seu couro cabeludo. Tenho para mim que vê-la dormir assim é melhor que qualquer antibiótico.

Pisco algumas vezes, estou um pouco confusa. A anestesia ainda se faz presente em meu corpo. Não sei se estou vendo corretamente, mas em seu crachá hospitalar há o sobrenome Jenkins. Floris Jenkins.

Os próximos minutos fazem-me apagar rapidamente.

                              ~*~

— Não precisa se preocupar tanto, meu bem. - Estou tentando convencê-la de que não será necessário que eu passe alguns dias em sua casa. — Eu estou bem! Eu só quebrei o pé. Acidentes acontecem. E meu pai ficará comigo.

Quase Confidencial - ROMANCE SÁFICO Where stories live. Discover now