5 | Homem do tempo

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Se eu tivesse tratado aquele protestante com menos hostilidade, e até concordado em participar do Retiro Espiritual; será que teria sido agraciado por uma bênção divina? Ou quem sabe experimentado a misericórdia do Todo-Poderoso? Ao invés disso, parecia que eu era a pessoa mais azarada de toda a Nova York.

O vento de verão que corria pelo ar me fazia tremer por estar encharcado, Jimin me puxou pelos braços e eu desfaleci na beira da piscina igual uma baleia encalhada. A água dentro do coturno era terrivelmente incômoda, meu cabelo lambido estava grudado na cara igual chiclete. Cupcake abanava o rabo sem parar, muito orgulhoso por quase ter me afogado. 

— Você caiu na parte funda — ouvi a voz de Jimin distante, meu ouvido tinha tanta água quanto minhas meias. — Garoto mau, garoto mau — ele murmurava para o cachorro.

Me sentei no chão de cerâmica, futucando a orelha e dando tapas na cabeça. Acho que fiquei temporariamente surdo.

— Aqui, rapaz. 

Isobel tinha brotado do meu lado, me oferecendo uma toalha branca e macia. Como sempre, ela sorria como se não houvesse amanhã.

— Vamos subir, você pode pegar um resfriado — Jimin se ajoelhou diante de mim, parecendo verificar se eu estava inteiro. — Sinto muito, Jungkookie. 

Que humilhação.

— Foi meu primeiro mergulho em uma piscina.

Jimin conteve o sorriso. — Se você continuar aqui, pode ter o segundo. Fica quieto, Cupcake! 

O doberman se encolheu e começou a choramingar. Fiz cara feia para o cachorro.

— Seu pai telefonou agora pouco, rapaz — Isobel relatou, enquanto caminhávamos de volta para a mansão. Meu sapato encharcado acumulava terra na sola, fazendo um barulho irritante ecoar a cada passo. — Disse que houve um problema com o carro, acabará se atrasando.

Maravilha.

— Traga alguma coisa para ele comer, por favor. Estaremos no quarto.

Isobel se curvou antes de sair, lançando seu último sorriso.

Antes de adentrarmos, tirei os sapatos na entrada para preservar o imaculado chão de porcelanato. Jimin balbuciou algo sobre não ser necessário, mas na minha mente era fresca a lembrança de que meu pai já foi zelador. Sentia compaixão por todos que trabalhavam na área de limpeza, porque eu queria que os outros tivessem o mesmo sentimento pelo meu pai naquela época.

— Eu vou buscar umas roupas — Jimin avisou antes de sair do quarto.

O cômodo tinha mais coisa do que da última vez.

Notei a maciez do carpete felpudo, em uma elegante forma geométrica, se estendendo na superfície ao lado da cama que agraciava colchas novas; extensão de seda e lençóis de alto linho. Uma imponente cômoda de mogno exibia delicados puxadores de ouro, enquanto um espelho de parede emoldurado por detalhes intrincados refletia a elegância do espaço. Mesas de cabeceira seguravam abajures com tons de cetim, e na escravinha da vitrola, havia uma cadeira de estofado de couro e uma máquina de escrever.

Comecei a admirar as obras de artes que os quadros nas paredes exibiam, uma era a pintura a óleo das ruas de Paris; a outra era de um cachorro em um campo de tulipas. Lembrava muito o Cupcake.

— Gostou?

Jimin havia voltado; como prometido, uma muda de roupas em mãos junto com um par de pantufas cor âmbar.

— Ganhei esses quadros de presente de um amigo em Columbia. Ele faz Artes Visuais, é um ótimo pintor, como pode ver — ele contou, colocando as roupas sobre a cama. — Bom, espero que sirva em você.

REFLEXOS • jikook (1988)Where stories live. Discover now