12 | Adulto

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— Até quando vai continuar trancado nesse quarto?

Nos primeiros e intermináveis meses após o verão, essa foi uma das coisas que mais escutei do meu pai, como se fosse um belo bom dia pontual. Às vezes era um "Levanta dessa cama e vai trabalhar!" ou "Charlie não para de telefonar pra você, ele acha que você morreu e eu não quero ter que contar", mas nenhuma dessas frustradas tentativas conseguia me arrancar do meu autoexílio por um tempo.

Charlie, você estava certo. Eu estou morto.

Fingi ser um cadáver por um bom tempo, chegando ao ponto de questionar se já não estava imerso em algum tipo de vida após a morte, em uma constante alucinação que me fazia crer que aquilo aconteceu. Naquela noite, parecia que tudo relacionado a Jungkook Jeon havia sido sepultado. E eu mesmo parecia ter sido o coveiro, me sufocando até não restar mais nada. Até que eu encarasse o espelho, e não reconhecesse mais o reflexo que me fitava. Não queria ser mais nada que lembrasse você.

Com pensamentos cortantes na mente, numa noite após fitar por um tempo o que julguei perigoso as páginas da caderneta, fui na direção do meu pai decido. Ele tomava café enquanto assistia ao Super Bowl.

— Você me bateria se eu fizesse mais uma tatuagem?

— Tá perguntando isso porque já fez?

— Como adivinhou?

Foi somente em maio que, num impulso de energia, saí da cama e coloquei uma música que não tivesse absolutamente nada a ver com você. Enquanto eu faxinava o mofo acumulado de dois meses no cômodo, Welcome to the Jungle me envolvia em um frenesi de gritos intermináveis.

Uma semana se passou, e eu já me sentia um pouco melhor. Desenvolvi o hábito de fumar e dar bom dia aos filhos da Sra. Brown durante suas partidas de basquete assistidas da minha janela, mas acabei discutindo com Charlie quando ele insistiu sinceridade sobre meu desaparecimento. Ainda não me sentia pronto para admitir que alguém havia quebrado meu coração, então acabamos discutindo.

— Eu sou o seu melhor amigo, JK. Olha para o seu estado! Eu só quero ajudar.

— Já disse que não aconteceu nada.

Charlie tinha me puxado pelos ombros, olhando no fundo dos meus olhos enquanto proferia.

— Você não consegue nem sorrir como antes, vai meter que não aconteceu nada?

Naquele dia, percebi que sempre que algo ameaçava me ferir, a raiva era mais rápida em assumir o controle, como se tivesse criado um botão de emergência para esse momento. Explodindo alguém para evitar ser explodido, crente de que isso me faria ficar menos machucado.

Charlie e eu tivemos uma briga feia que eu nem soube como havia iniciado, e desde então ficamos sem nos falar.

Nossa separação me rendeu mais dois meses de isolamento, e era irônico pensar que, um momento antes, eu parecia ter começado a superar as coisas, quando, na verdade só havia arranjado mais motivos para que isso não acontecesse. Durante todo esse tempo, era como subir uma escada sem fim, sem ao menos uma pausa para descansar. E eu desabava lá de cima repetidas vezes, como um idiota, apenas para recomeçar de novo e de novo. Mesmo sabendo que mais quedas estavam por vir.

No finalzinho de julho, arrisquei uma nova tentativa de sair do quarto; além disso, não podia mais me tatuar porque meu braço estava sem espaço sobrando.

E lá estava eu... Mais uma vez removendo o mofo, ao som de um jazz melancólico ecoando no ambiente. No dia seguinte, com uma determinação recém-descoberta, deixei meu refúgio pela primeira vez em meses. Recordei que havia trocado de número com Yoongi, e em menos de duas semanas, havíamos forjado algo que poderia ser chamado de amizade — uma luz frágil no fim do túnel em meio às sombras que minha vida tinham tomado nos últimos meses.

REFLEXOS • jikook (1988)Onde histórias criam vida. Descubra agora