16 | Reconstruir

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Se recuperar de uma briga se revelou uma tarefa difícil como nunca antes.

A primeira noite foi horrível, porque eu só conseguia dormir se fosse de bruços, mas meu braço estava em um estado lastimável demais para permitir qualquer posição confortável. O raio-x não apontou fraturas, mas durante a consulta com o clínico geral, percebi que minha capacidade auditiva jamais seria a mesma. Meu pai não parou de chorar quando soube que seu filho tinha perdido um pouco à audição.

Huang saiu de casa no dia seguinte com sangue nos olhos, gritando aos sete ventos que ia atrás do pai de Oliver por meios legais em busca de uma indenização. Eu até poderia segurá-lo e mandar ele só deixar isso para lá, depois percebi o quão egoísta isso poderia ser da minha parte. Quer dizer, seu filho tinha apanhado tanto que ficou surdo! Se eu fosse meu próprio pai, faria muito pior.

Pela noite, descobri que ele atendia um telefonema da Sra. Pritzker. Justiça, boletim de ocorrência, processo e advogado. Eram essas as palavras que saíam dos dois, não foi difícil adivinhar que ela estava ajudando o meu pai a ir atrás de justiça.

O filho dela veio aparecer na minha casa no finalzinho da tarde seguinte; onde, pela manhã, recebi a visita calorosa de Hope, Charlie, Taehyung, Alex, Morgana, Santiago e Yoongi.

— Você tá acabado, cara.

— Porra, parece que foi atacado por um enxame de abelhas.

— Puta merda, você tá parecendo aquele macaco-narigudo.

A banda de Yoongi me garantiu um consolo ardiloso ao olhar minha situação deprimente. Talvez meu pai estivesse letárgico o bastante com os acontecimentos para se importar que havia uma mulher de cabeça raspada, um cara de quase dois metros com uma tatuagem no pescoço e outro com corte moicano na sala de sua casa. Aquela era a primeira vez que ele se deparava com os amigos do meu primo. Para minha surpresa, Huang expressou uma alegria genuína ao descobrir que eu tinha tantos amigos assim, chegando até a servir uma bandeja de lanches para eles. Pai, eles humilharam o seu filho!

— Sr. Huang! — Santiago tinha dito ao cumprimentar meu pai com um
aperto de mãos, seu cabelo moicano poderia bater no teto se ele desse um pulo. — Seu filho é o melhor tatuador de Nova York.

Foi ali que percebi o quão orgulhoso meu pai parecia estar de mim, mesmo diante da escolha de seguir um caminho que ele não tinha aprovado.

Taehyung se aproximou, segurando meu ombro que não estava na tipoia. Ao fundo, Hope conversava com Morgana e Alex sobre algum assunto banal enquanto mordiam torradas pré-prontas.

— Ele me disse que vem pela tarde, estou um pouco nervoso — confessei.

— Por quê?

Sacudi a cabeça, sem saber o que dizer ao certo.

— Não sei — suspirei. — Estávamos com as emoções à flor da pele. Por um momento, eu quase esqueci que precisamos ter uma longa conversa.

Taehyung sorriu, mostrando um semblante compreensível. Percebi o quão grande amigo ele havia se tornado para mim. Olhá-lo, mesmo em seu pior dia, faria qualquer um se acalmar de alguma forma.

— O primeiro passo vocês já deram — ele tinha dito.

Hoseok compartilhou comigo sua crescente ansiedade ao revelar que faltava muito pouco para sua mulher dar à luz, e me contou também sobre as sugestões dos nomes mirabolantes que Morgana e Alex haviam sugerido para o bebê que, pelo que se sabia, seria uma menina. Em seguida, com um sorriso radiante, mr estendeu um convite caloroso para o Dia de Ação de Graças que aconteceria na sua casa. Sua alegria era tão contagiante que, por um momento, esqueci que ainda estávamos em agosto, para início de conversa.

REFLEXOS • jikook (1988)Where stories live. Discover now