17 | Manekineko

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Jimin brigou comigo por estar fumando com o braço deslocado, e jogou minha carteira de cigarros na privada. Acho que eu já previa quem seria o mandão daquela relação.

Meu olho desinchou por completo, agora capaz de se fechar em um sono mais tranquilo. Huang insistiu para que eu parasse de moleza e retornasse ao trabalho, considerando que minha condição já não era tão debilitante. Ele havia aceitado integralmente a ideia de que seu filho era um tatuador, mas eu e ele estávamos conscientes de que eu precisava de algo mais estável. Foi durante em uma dessas manhãs, ao voltar da mercearia com uma sacola de ovos, que me deparei com o recém-inaugurado salão da Sra. Brown. Então comecei a idealizar a aquisição de um terreno baldio, talvez até um ponto comercial, para erguer meu próprio estúdio.

De todo modo, varri todos os pensamentos sobre aquele futuro distante, e foquei em um que estava próximo. Com uma mão só, brigava com meu próprio cabelo em frente ao espelho que, por algum motivo, decidiu desafiar minha autoridade naquele exato momento. Lancei uma olhadela para o relógio na cabeceira, Jimin chegaria em poucos minutos!

Se desconsiderasse as instruções médicas para usar aquela maldita tipoia pelo tempo necessário, acredito que Jimin e Huang teriam prazer em deslocar meu outro braço. Talvez eu fosse um tanto teimoso, mas jamais imaginei que realizar tarefas com apenas um braço pudesse ser tão frustrante. Muito obrigado, Buda! Obrigado por ter perdido a audição, em vez de sofrer uma amputação.

Chamei meu pai lá embaixo aos gritos, pois precisava de ajuda para colocar o cinto.

— Puta que pariu! — Eu praguejei, jogando o pente na cama e desistindo de deixar meu cabelo como eu queria.

— Por que está xingando, Jungkookie?

Segurando o fôlego, olhei para trás.

Apenas para intensificar a sensação de aperto no peito, avistei Jimin fechando a porta do quarto. Ele trajava um suéter de tricô, sapatos brilhantes e uma calça que momentaneamente me fez perder a compostura. Será que minha fascinação por suas coxas era tão evidente? Vê-las sem a habitual cobertura dos seus sobretudos fez com que eu, fodidamente, imaginasse como seria estar entre elas.

Arrancando qualquer fio de razão, Jimin obteve mais êxito do que eu ao pentear seus cabelos. Cada fio loiro estava meticulosamente alinhado, seu queixo fino harmonizando perfeitamente com aquele tipo de arranjo, e seus lábios cheios brilhavam mesmo sob o clima seco e frio lá fora. E eu estava prestes a entrar em combustão.

— E-Eu... Não te ouvi chegar.

Jimin conteve um sorriso.

— Você estava concentrado demais — ele falou, se aproximando. Por um momento, considerei correr para bem longe daquela tentação!

Ele me olhou de cima a baixo, parecendo satisfeito com o que via.

— Você está bonito. Não vai por um casaco? Está frio lá fora.

— Preciso afivelar o cinto primeiro — retruquei, rindo sem humor algum.

Jimin começou a ficar desconcertado, por alguma razão.

— Quer ajuda?

Puta que pariu.

— Quero.

Ele se aproximou da cama, agarrando o cinto. Um olhar não prolongado seria crucial para evitar qualquer constrangimento iminente. Assim, optei por sorrir de uma maneira que transmitisse casualidade, como se ter Jimin Park ajustando meu cinto não pudesse provocar em mim uma excitação além do necessário.

REFLEXOS • jikook (1988)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora