13 | Sangrar

630 95 210
                                    

1

No dia seguinte, Charlie não deu trégua, tagarelou sobre o quão burro eu fui por não perceber nada. Ok, Charlie. Nem você, nem Jimin me merecem. Ele não perdeu a oportunidade de apontar que sua menção a Freddie Mercury foi a mais óbvia pista que poderia ter dado, gargalhou alto enquanto seus olhos estavam fixos na fumaça do cigarro de erva. Um pouco depois, falou que havia sacado o interesse do herdeiro da família milionária por mim antes mesmo que eu próprio notasse. Ok, Charlie. Pega a sua sabedoria e vai se foder!

— Não esquenta, cara. Eu e Tae vivemos brigando, para tudo tem uma solução.

Joguei o peso do corpo em cima dos lençóis, e instantes depois lembrei que ali foi o exato lugar onde ele e o namoradinho engomado dele estavam fodendo. Me levantei e sentei na poltrona.

— Não quero ter esperanças, ao mesmo tempo que eu quero, sim, ter.

Charlie me passou o baseado, dando tapas de consolo nas minhas costas.

— Algumas coisas têm que se quebrar para poderem se reconstruir.

Fixei meu olhar lateralmente nele, puxando a fumaça inebriante para meus pulmões. Desejando levar consigo aquela sensação angustiante.

— Eu só... Não quero me quebrar mais.

Charlie optou por encerrar a humilhação, me devolvendo o olhar com sua íris de ônix, soltando um estalo de seus lábios carnudos. Era fácil compreender o que aquele Taehyung havia encontrado nele.

— Mesmo que vocês acertem as coisas, talvez, no futuro, enfrentem algumas discussões estilo Charlie e Tête — ele riu de sua própria observação. — Os relacionamentos são desencontros.

— A maconha te deixa pior que um hippie.

Ele empurrou meus ombros.

— Você pode por um pé de cada vez na água, para saber se ela é rasa ou funda antes de pular.

— Porra, Charlie. O que tem nesse prensado?

— Ok, então você pode só continuar sendo o lerdo e o idiota de sempre.

Percebi o quanto senti falta daquilo. Não deveria ter afastado Charlie naquela época, não deveria ter me isolado da maneira como fiz. Para ser honesto, não se pode oferecer algo que não está nas suas mãos.

— Quando você descobriu?

Charlie começou a ponderar, parecendo mais um esforço para decidir por onde começar.

— Se lembra do Sr. Mason?

— Sim, você fodeu a mulher dele.

— E o filho também.

Na época, Charlie parecia esquisito demais. Sabia que tinha coisa naquela história.

— E você resolveu não me contar — concluí.

— Você também não me contou que queria foder aquele Jimin também!

Tentei apagar o cigarro na testa dele, mas a verdade era indomável. Não segurei com firmeza o pensamento que germinou rápido em minhas mãos. Então, ali estava, envolto apenas por Jimin Park e somente ele. Sua respiração se desenhando nos lábios vermelhos, o olhar se perdendo abaixo do meu, clemente. Suas bochechas mais rosadas, seus braços entrelaçados ao meu pescoço, uma súplica por mais de mim ecoando. Num grito sufocado, eu confessaria: Sim, Charlie. Eu queria e ainda quero foder aquele Jimin!

Charlie passou a mão na minha cabeça com a ternura de um irmão mais velho, a culpa se intensificou mais ainda. Fantasiar sexualmente com quem quebrou seu coração trouxe um peso ainda maior às minhas costas.

REFLEXOS • jikook (1988)Where stories live. Discover now