3 - Chega de mentiras

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Ruby Alves

— Eu poderia lhe matar, Ruby. Eu deveria fazer isso, na verdade. — Anne desvia o olhar do trânsito e me encara brevemente. — A senhorita sumiu por mais de uma hora, pensei que tivesse sido sequestrada ou algo do tipo.

— Foi por um bom motivo. — Respondo com a voz arrastada. — Fiz melhor do que pretendia, Anne. Eu transei com algum parente próximo de Gabriel, que, por sorte, era um gostoso. Quer vingança melhor do que essa?

Anne freia o carro bruscamente um quarteirão antes do prédio onde moramos e me encara surpresa.

— Você definitivamente precisa me explicar melhor essa história. — Os olhos verdes de Anne cintilam de curiosidade e eu sorrio perversamente, pronta para contar os detalhes sórdidos do momento quente que tive com Abbadon, se é que esse realmente é o nome dele.

— Estou tentando falar desde que te encontrei, mas você simplesmente não deixa! — Faço bico e ela me dá um tapa de leve.

— Eu estava preocupada, droga. Agora estou curiosa. — Sorri. — Vai, fala!

— Anne, babado, tá?! Eu estava encarando um cara qualquer que me chamou de gostosa e, sem querer, cruzei a área privada. — Dou uma risadinha ao lembrar da cena. — Foi então que esbarrei nas costas de um dos donos. E como a boate é da família dele, julguei que fosse um parente próximo. — Dou de ombros e Anne arregala os olhos, levando uma das mãos à boca.

— Um dos donos, Ruby? — Questiona incrédula e eu balanço a cabeça em concordância. — Você só pode ter surtado! — Ela leva as mãos à cabeça e eu arqueio uma das sobrancelhas.

— Anne, que drama é esse? — Cruzo os braços, consternada. — Ele transou com a minha prima, então fui e fiz igual com... sei lá, algum primo, talvez? Eu não faço ideia da relação entre os dois, mas valeu a pena, porque o cara era um gostoso.

— Ruby! — Ela agarra meus ombros e fita profundamente meus olhos. — Os donos da boate são os "anjos caídos". Tem ideia de quem são? — Nego com a cabeça, alheia ao assunto. — Puta merda, amiga. A rede de boates Néctar não pertence especificamente à família de Gabriel, mas sim aos dois "anjos caídos". Isso quer dizer que, ou você transou com o tio de Gabriel, ou com... — ela engole em seco. — o pai dele. Caralho, eu não estou acreditando. — Anne solta meus ombros e começa a rir, finalmente deixando de lado a tensão que tomava seu corpo.

— Está de sacanagem? — Questiono incrédula. Anne, já dando partida no carro, continua rindo. — Você só pode estar me zoando.

— Cara, sinceramente, já não sei mais o que fazer contigo, Ruby. Você simplesmente age primeiro e pensa depois. Olha o tamanho da merda que você se envolveu! — Acelera o veículo. — Vai me dizer que não sabe a porra do nome do seu sogro? Mulher, você está há cinco anos com Gabriel, o mínimo é saber o nome dos pais.

— Eu nunca vi a fuça do maldito, Anne. — Respondo já desesperada. — E sempre me dirigi a ele como senhor Macedo. Gabriel nunca fez questão de contar, nem eu de saber. — Começo a falar rapidamente. — Sem mencionar que o homem era muito novo para ser pai de Gabriel. Deve ter sido alguém se passando como dono, ou sei lá. Mas que se foda, eu nunca mais verei a cara desse maldito. — Dou de ombros.

— Independente de quem foi, amiga. Você tem que pensar antes de agir, não ao contrário. Espero que esteja certa, que este não se passe de um impostor. — Pontua e eu engulo em seco, permanecendo em silêncio até chegarmos no prédio.

***

Abro a porta do meu apartamento assim que Anne, que também é minha vizinha, tranca a porta de casa. Tudo que preciso neste momento é tirar a maquiagem, tomar um banho e mergulhar na minha própria solidão.

Néctar - PAUSADAOù les histoires vivent. Découvrez maintenant