11 - Emocionado

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Ruby Alves

Estou com uma revolta que não cabe dentro do peito. Juro que a vontade que sinto é de deixar minha prima careca.

A sensação de raiva se intensifica quando o brutamontes do Azaziel me coloca ao chão e senta em sua cadeira chique, do outro lado da mesa amadeirada. Ele cruza os braços e me encara com certo divertimento. Já eu, faço bico e arqueio uma das sobrancelhas.

— Imagino que tenha um motivo plausível para ter agredido aquela loira. Não julgo, pelo contrário, fico feliz que seja uma mulher de atitude. — sua feição é preenchida de leveza, o que consegue aliviar o meu estresse. Estava convicta de que entraria em outra discussão agora. — Entretanto, não posso deixar de perguntar: por que aqui?

Respiro fundo e sento na cadeira disposta em frente à sua mesa. O cômodo e os móveis são muito parecidos com os de Abbadon, com exceção das cores. Enquanto a sala do meu sogro tem as paredes vermelhas, o que lhe dá um ar mais sensual, a de Azaziel é preenchida por tons pastéis, desde as paredes até as cortinas.

— O último lugar que eu gostaria de estar agora é esta boate, Azaziel. Acredite. — Massageio as têmporas. — Sua família está me dando nos nervos.

— Estou sabendo. — A frase é suficiente para dar um nó no meu estômago. Ergo o olhar e o encaro friamente.

— Seja lá o que você acha que sabe, está errado. — Pontuo e ele me observa quieto. — Inclusive, a vadia que apanhou lá embaixo é minha prima, aquela com quem seu sobrinho querido se envolveu. Estava tentando entender toda a situação para planejar meus próximos passos.

— Eu gosto de pessoas como você. — Azaziel inclina o indicador na minha direção. — Não preciso perguntar para ganhar respostas, isso é fantástico.

Não consigo não rir de sua fala. Porra, ninguém dessa família bate bem. Antes que eu pudesse respondê-lo, o homem à minha frente continua falando.

— Tenho muitas dúvidas, Ruby. Como, por exemplo, o conteúdo dessa discussão. Ou, ainda, o motivo de não responder o meu sobrinho. Ele está ficando insano. Mas a principal, que é a única que preciso que seja respondida, é o que fez com o meu irmão?!

Arregalo meus olhos com seu questionamento. Eu realmente não imaginava que ele fosse falar algo, por mais que tivesse lançado uma "piadinha" anteriormente.

— Não fiz nada. — É a única coisa que faço e ele sorri.

— Não precisa mentir. Encontrei sua calcinha rasgada na sala dele. Como disse desde o início, Ruby, não estou aqui para julgá-la. A questão não é essa. — ele explica e eu suspiro.

— Eu não sabia que era ele. Não sabia que tratava-se do meu sogro. — Começo a explicar. — Foi tudo um engano, tinha acabado de descobrir a traição e apenas queria distrair a cabeça. A única certeza que tinha é de que eram parentes.

— Embora ache isso extremamente excitante e divertido, preciso que saiba de algumas coisas em relação ao Abbadon, Rucy. Essa fama dele de quem faz essa boate de motel não se passa disso: fama.

— E o que tenho a ver com isso? — Sou direta, o que até soa grosseiro. — Quer dizer, só ficamos duas vezes e mal conversamos.

— Ruby, entenda. Abbadon tem poucas experiências com mulheres. Meu irmão engravidou Gaia aos 16 anos. Foi com ela que Abbadon perdeu a virgindade. Depois a traiu na casa dos 20 e nunca mais. — Azaziel tenta ser didático, mas não consigo entender em que ponto ele quer chegar.

— Desculpe, mas ainda não entendi.

— Meu irmão é um emocionado, Ruby. Entendeu agora? O que estou querendo dizer é que, para que isso entre vocês não vire uma bola de neve, não o utilize para machucar Gabriel. — Explica e eu ouço em silêncio. — Não reprovo sexo casual, mas conheço Abbadon melhor do que ele mesmo e as chances disso dar ruim são muito altas.

— Então deixe-me ver se entendi. Você está pedindo para que eu não fique com o seu irmão? Não acha que ele tem idade suficiente para saber das próprias escolhas? — Reflito em voz alta.

— Abbadon é extremamente infeliz em seu casamento, Ruby. Não sei nem te explicar porque ele continua com aquela megera que chama de esposa. — Azaziel gesticula enquanto fala. — Só não quero que ele sofra.

— Eu não posso te prometer que não vai acontecer de novo, Azaziel. Mas posso garantir que sentimentos não serão nutridos, não vou permitir que isso aconteça. — Respondo e ele solta uma gargalhada.

— Você não tem controle sobre os sentimentos alheios, Ruby.

— Mas tenho controle sobre me envolver. E fique tranquilo. Meus planos para o momento envolvem resolver meus problemas com Gabriel. — Sorrio. — Seu irmão está fora de perigo.

— Cara, parece que estou vendo um espelho. Temos a personalidade parecida, Ruby. E é exatamente por isso que sua fala me deixa tão preocupado. E pode me chamar de Aze.

— Fique tranquilo, Aze. Não é como se fôssemos nos apaixonar, ou algo do tipo. Isso está completamente fora de cogitação. Não sou tão louca assim. — Ele me encara inexpressivo. — E, como disse, por mais que não possa prometer nada, Abbadon não está nos meus planos. — "Agora", minha mente grita.

Acho fofa a atitude de Aze. Isso demonstra que ele se preocupa com o irmão. Apesar disso, na minha concepção, é uma preocupação estúpida, principalmente porque, por mais que odeie admitir, amo Gabriel. Falar em me envolver sentimentalmente com outra pessoa agora soa até como piada.

— Sendo assim, Ruby. — Aze levanta e caminha até a porta, dando a entender que nossa conversa teve fim. — Desejo-lhe toda sorte com Gabriel, além de reforçar o meu pedido para não utilizar meu irmão como peça de um possível acerto de contas.

Levanto e caminho até a saída.

— Fique tranquilo. Não existe nenhum acerto de contas à vista. — minto na cara dura. — Nem planejo utilizar seu irmão como peça no meu tabuleiro. — mais uma mentira.

Azaziel sorri grato e eu devolvo a atitude com certo constrangimento por estar mentindo. Em seguida, saio do cômodo refletindo sobre a conversa.

Se as coisas que ele falou realmente forem verdade, Gabriel não faz ideia de quem seja o próprio pai. Isso me instiga a querer conhecê-lo, para saber com quem estou lidando.

Sigo refletindo sobre o assunto até chegar em casa, onde tomo um banho demorado, me arrumo, e, em seguida, durmo até o dia seguinte.

Néctar - PAUSADAWhere stories live. Discover now