8 - Conte a verdade

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Abaddon Macedo

Fico o restante do dia lidando com questões burocráticas das boates para tentar esquecer o que aconteceu entre mim e a desgraçada da Ruby. Sei que fui um escroto, mas foi necessário, pois, pelo pouco que pude perceber, a garota é tinhosa. E, com isso, espero que ela tenha um pouco de juízo na cabeça e cumpra a promessa de sumir de nossas vidas. Não quero e nem posso lidar mais com isso, pois minha relação com Gabriel já é ruim o suficiente.

Só que, por mais que tente ao máximo, é impossível não ter memórias sexuais, principalmente depois do que fizemos mais cedo. Justamente por isso precisei ser tão duro, porque o gosto de Ruby é paradisíaco. É inevitável não querer mais, logo, é muito mais fácil cortar o mal pela raiz.

Fico satisfeito ao perceber que o tempo passou tão rápido que sequer percebi que já estava quase na hora da Néctar abrir. Inclusive, apenas retorno ao mundo real quando ouço algumas batidas à porta.

Como não estou afim de conversar, tento ignorar a presença da pessoa do outro lado, entretanto, após um minuto, descubro tratar-se do meu irmão. Isso porque Azaziel não costuma respeitar a minha privacidade, ele sempre entra na sala como se tivesse sido convidado. Hoje não foi diferente.

Com o rosto tomado de tédio, encaro o meu irmão mais velho. Azaziel adentra o cômodo, fecha a porta e me observa com um sorriso sacana no rosto. Ele está vestindo um terno preto, formal demais para um lugar como a nossa boate, mas ele faz questão de sempre se vestir assim quando vem aqui. Diz que é porque é um dos donos, então tem que passar respeito. Eu acho isso uma palhaçada.

— Vai me contar o que está acontecendo ou terei que descobrir sozinho? — Ele pergunta e eu passo as mãos no cabelo, exalando cansaço.

— Não houve nada, Azaziel. Apenas resolvi sair de casa e vir para cá depois do estresse provocado por aquela garota. — Fito meu irmão, que segue com um sorrisinho desafiador no rosto. — Apenas não queria lidar com mais um chilique de Gabriel. Por quê? — Faço-me de sonso e meu irmão ri.

— Pode mentir para qualquer um, Ab. Menos para mim. Te conheço melhor do que você mesmo. Sem contar que qualquer um que prestasse atenção sentia a tensão sexual entre você e a namorada de Gabriel. — Pontua e eu arregalo os olhos. Ele ri mais uma vez e se aproxima da minha vez, já puxando a cadeira para se sentar.

— Está vendo coisa onde não tem. — Afirmo, contudo, neste momento, a atenção de Azaziel está sendo destinada para um ponto ao lado de minha cadeira. Então estica o corpo e simplesmente pega a calcinha de Ruby que rasguei e esqueci de recolher.

Meu irmão coloca as partes da peça em cima da mesa e permanece em silêncio, apenas aguardando que eu falasse algo. Respiro profundamente, ainda na esperança de tentar fazê-lo acreditar em minha versão mentirosa.

— Definitivamente não é o que você está pensando. — Pontuo.

— Não estou aqui para te julgar, apenas peço que me dê um motivo plausível para estar 'comendo' a namorada do seu filho.

— Quem lhe garante que essa calcinha é dela?! — Cruzo os braços e fito seus olhos. Azaziel me encara profundamente, como se pudesse ouvir todos os meus pensamentos. Por fim, respiro fundo e fecho os olhos. — Beleza, mas não me olhe como se eu fosse um filho da puta de merda, nada disso foi planejado.

Massageio minhas têmporas enquanto Azaziel me encara tomado pela mais profunda curiosidade. É, terei que contar sobre a aventura sexual que tive e não terminou nada bem.

***

Ruby Alves

Não demoro a alcançar o prédio onde moro e, logo na recepção, sou recebida por Anne e meu irmão, que me encaram com uma mistura de preocupação e impaciência. Sei que estão assim por minha culpa, afinal, parando para refletir, a mensagem que enviei à minha amiga é, de fato, preocupante. O fato de ter sumido em seguida apenas piora a situação para o meu lado.

A dupla dinâmica, que está mais para casal, me encara com os braços cruzados, aguardando algum tipo de justificativa plausível.

Como não estou afim de compartilhar com o meu irmão sobre o meu encontro cheio de ameaças e sexo com Abbadon, me abstenho em falar apenas sobre o caos que foi o almoço em família.

— Antes que os senhores comecem com o sermão, quero que saibam que meu dia foi infernal. Enchi o cu de vinho e expus, durante o almoço em família, a traição de Gabriel. — Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Esta é a primeira vez que choro desde que descobri esta merda. — Foram cinco anos jogados fora. Sei que ficaram preocupados, mas precisava ficar sozinha depois desta merda.

As feições de Léo e Anne mudam completamente após me ouvirem.

— Oh, maninha. — Meu irmão estende os braços e me puxa para um abraço. — Você merece mais que isso, mais que ele. Sei que é doloroso, mas vai passar. — Pouso a cabeça em seu torso, sem conseguir conter as lágrimas. Anne se une ao abraço e me dá um beijo estalado.

— Amanhã vamos pedir nossas férias pendentes na clínica, Ruby. — Anne se afasta e profere. — Vou te ajudar a recuperar o tempo perdido, nem que seja na base do ódio.

Léo encara minha amiga emburrado, nada satisfeito com o que ouviu. Já Anne responde na lata.

— É isso mesmo, Léo. Não vou deixar minha amiga ficar chorando, depressiva, em casa por causa de um relacionamento ruim. Se for para esquecer, que seja da melhor forma possível. — Meu irmão se afasta e balança a cabeça negativamente.

— Pelo visto, serei obrigado a acompanhá-las. — Ele segura meu rosto. — Vai ficar tudo bem, irmã. Agora, por favor, vamos subir, porque o porteiro já está nos encarando emburrado.

— Vocês dois são os melhores amigos que alguém poderia ter. — Declaro e, em seguida, subimos até o meu apartamento pela escada.

Anne e Léo conversam sobre assuntos aleatórios e eu apenas finjo que estou prestando atenção, já que minha cabeça está uma verdadeira bagunça. Mágoas e dúvidas preenchem minha mente.

Ao mesmo tempo que não consigo deixar minha tristeza por tudo que aconteceu após a traição de Gabriel, o arrependimento não preenche meu corpo por completo. Isso porque, se não fosse a atitude dele, jamais teria experimentando as melhores transas da minha vida.

Porra, que confusão do cacete eu estou.

***

NOTA DA AUTORA

Não passou por correção ortográfica. Peço desculpas por qualquer erro ortográfico. Sintam-se a vontade para apontá-los.

***

E, com vocês, Azaziel.

E, com vocês, Azaziel

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Néctar - PAUSADAWhere stories live. Discover now