10 - Sai de cima de mim, sua troglodita

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Abbadon Macedo

— Pronto, querido irmão. — Ergo o celular na direção de Azaziel. — Mandei a mensagem pedindo desculpas e esclarecendo a situação. Sente-se satisfeito? — Ele balança a cabeça positivamente. — Pois eu não, porque se essa garota e o meu filho fizerem as pazes, não sei o que será de mim. — Coloco o aparelho com mais força do que o necessário na mesa e passo as duas mãos no rosto, cansado por ter que lidar com algo que jamais imaginei na vida.

Eu e meu irmão estamos na academia. Contudo, só Aze está malhando - e com força. Isso porque toda a minha atenção está sendo direcionada a esta situação de merda.

— Você mesmo disse à garota que é como se nada tivesse acontecido. Por que o drama, irmão? — Ele para de erguer os pesos para me questionar. Seu rosto é tomado por uma feição de divertimento, o que me deixa extremamente puto.

Há mais de dez anos, Aze fica no meu ouvido martelando a ideia de que devo pedir o divórcio, porque não mereço permanecer em um casamento fracassado. Que sou novo demais e que, mesmo precisando amadurecer muito cedo por conta da gravidez precoce, não preciso abraçar a infelicidade e aceitá-la de bom grado.

Já eu sempre deixei essa merda para lá, até porque sempre fiz questão de manter meu coração fechado para novos sentimentos e transar por transar nunca me encheu os olhos. Sem contar que Gaia consegue ser uma pessoa muito ruim quando quer. E, entre lidar com a burocracia e o estresse, prefiro manter essa merda sem futuro. A única questão é que, depois de tanto tempo, me interessei por alguém a ponto de ter um caso. E, porra, tinha que ser logo a namorada do meu filho? Isso é o cúmulo do azar.

Agora tenho certeza de que Aze vai jogar essa situação na minha cara sempre que tiver a oportunidade. Isso porque, se tivesse solteiro, não teria que andar em ovos, poderia ficar com qualquer uma e, muito provavelmente, não teria me envolvido com Ruby. Apesar de mais esse inferno, fico feliz que meu irmão tenha descoberto essa merda, é bom ter alguém para desabafar sobre.

— Eu menti, Azaziel. Claro que menti! — Minha voz é tomada por um certo tom de desespero. — Sabe há quanto tempo não transo com ninguém, irmão? Não? Eu respondo: há muito tempo. — Começo a andar de um lado para o outro. — Imagine se essa garota começa a frequentar a minha casa? Por Deus, eu expulso Gabriel de lá.

Em resposta, meu irmão mais velho solta uma gargalhada sincera. Paro na frente dele e coloco as mãos na cintura. Isso absolutamente não tem graça, estou em um beco sem saída.

— Cara, relaxa. — Aze, que estava malhando o peito, coloca os pesos no chão e senta-se, fitando o meu rosto. — Ruby disse que iria sumir, independente das mensagens, não foi? Então, Abbadon, não tem motivo para ficar nesse estresse, é só fingir que não aconteceu. — Ele levanta e alonga o corpo. — E outra, irmão. Para esquecer essa boceta, a melhor dica que lhe dou é: arrume outra. — Conclui sua fala e caminha até o vestiário da academia, me deixando sozinho em meio à crise de consciência que estou tendo desde cedo.

— "Arrume outra". Fácil assim. — Falo sozinho e, em seguida, pego alguns pesos e dou início às atividades físicas. Só assim vou conseguir esquecer essa merda de situação. — Realmente, talvez eu deva mesmo sair por aí fodendo qualquer uma, quem sabe isso não distraia a minha mente. — Concluo minha linha de raciocínio.

***

Ruby Alves

Nunca fiquei tão feliz com o término de um expediente. Foi uma agonia do cacete ter que ficar sem fazer nada o dia inteiro, principalmente porque marquei um encontro com Larissa depois que saísse da clínica, então fiquei absolutamente o dia inteiro tomada pela ansiedade. Quero ver o que ela vai dizer em relação às fotografias que me enviou ao lado de Gabriel.

Néctar - PAUSADAWo Geschichten leben. Entdecke jetzt