onze: eu errei, mas o erro dela foi bem pior que o meu

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ARÁBIA SAUDITA – RIAD
PONTO DE VISTA DE NEYMAR

Assim que entrei em casa, caminhei pelos corredores indo para a sala de estar, encontrando a Sophie e o Davi brincando de montar um quebra-cabeça.

Não evitei sorrir ao vê-los juntos.

Eu sempre sonhei em chegar em casa e ver essa cena, sempre sonhei em ter mais filhos, sempre tive o sonho de formar uma família maior... Com a Bruna. E, de certa forma, conseguimos formar, mas não da maneira que eu gostaria.

— Oi, pai. — Davi me tirou dos meus pensamentos.

— Oi, filho. — Sorri para ele e me aproximei mais, deixando um beijo no topo da sua cabeça e outro na Sophie. — Como foi o dia de vocês?

— Foi divertido.— Ele respondeu, voltando a atenção para o quebra-cabeça em sua frente.

— E você, princesa? Se divertiu? — Perguntei para a Sophie, que apenas balançou a cabeça, assentindo timidamente. — E o Matteo? Onde ele tá?

— Dormindo. — Rafaella respondeu, enquanto terminava de descer as escadas. — Eu acabei de colocar ele na cama. Tadinho, ele tava muito cansado.

— Vou subir, tomar um banho e já desço. — Digo, indo em direção as escadas.

— A Bruna já desembarcou e quer ver as crianças. — Ouço minha irmã dizer, me fazendo virar para encará-la.

— A mamãe tá vindo, tia Rafa? — Sophie perguntou, olhando para a minha irmã, com os olhinhos brilhando.

— Sim, meu amor. A sua mãe está vindo ver você e o seu irmão. — Rafaella abriu um sorriso para ela, que logo comemorou.

Não disse uma palavra sequer, apenas me virei novamente e segui até as escadas, indo para o meu quarto.

Assim que entrei no quarto, fechei a porta atrás de mim e respirei fundo. Não tô preparado pra ver a Bruna novamente, não depois de tudo que aconteceu.

Ainda estou magoado com ela por ela ter escondido a Sophie e o Matteo de mim.

Sei que tenho uma parcela de culpa nisso tudo, mas, mesmo assim, eu não entendo o motivo dela ter feito isso. Não entra na minha cabeça que ela fez algo tão cruel, tão desumano, só por causa de um erro meu.

Soltei um breve suspiro e me sentei na cama. Peguei o meu celular, na tentativa de esquecer esse assunto por alguns minutos.

De repente, escutei batidas na porta do meu quarto. Pedi para a pessoa do outro lado entrar e a porta logo foi aberta, me dando a visão da minha irmã. Ela se aproximou, se sentando ao meu lado.

— A Bru acabou de me mandar uma mensagem avisando que está vindo para cá. — Falou e eu apenas assenti, voltando minha atenção para o meu celular. — Ela me contou que você não quis passar seu endereço para ela.

— E daí? — Olhei para ela novamente.  — Eu não passei porque eu estava ocupado, não tinha tempo para isso. — Minto. Ela balançou a cabeça, sabendo que estou mentindo. — De qualquer forma, ela conseguiu o endereço. Isso não importa mais.

— Você ainda tá chateado com ela?

— É óbvio que eu tô, Rafaella. Ela escondeu dois filhos meus. Eu estou mais do que chateado. — Retruquei, com um tom de voz carregado de mágoa.

— Entendo. — Ela mordeu os lábios, fitando o chão por alguns segundos, antes de voltar a falar. — Ela errou feio em ter escondido o Matteo e a Sophie de você, de todos nós... Mas...

— Você não ia defender ela, ia? — A interrompi.

— Não. — Soltou um suspiro alto e levantou. — Eu só ia dizer que você também errou muito com ela e que vocês dois deveriam sentar e tentar resolver isso como dois adultos.

— Eu errei, mas o erro dela foi bem pior que o meu. — Rebati. Ela não disse nada, apenas caminhou até a porta.

Assim que ela saiu do meu quarto, eu levantei, jogando meu celular em cima da cama e seguindo para o banheiro. Tomei um banho demorado e depois voltei para o quarto, me jogando na cama e fechando os olhos, na tentativa de dormir.

Algum tempo depois, escutei uma movimentação no andar debaixo e soube que a Bruna havia chegado, pois escutei a Sophie gritar por ela.

Respirei fundo e levantei da cama. Parei atrás da porta, segurando a maçaneta e pensando se sairia ou não do quarto.

Fiquei parado ali por alguns minutos, refletindo. Mas logo soltei a maçaneta e voltei para a minha cama.

[...]

Assim que terminei de me arrumar, saí do quarto e fui para a sala, encontrando a minha mãe, minha irmã e meus amigos reunidos no sofá.

— As crianças ainda não acordaram? — Perguntei, chamando a atenção deles para mim.

— Acordaram cedo e foram passear com a Laura. — Minha mãe respondeu. — E você, vai sair?

— Vou treinar.

— Você chegou ontem e só saiu do quarto agora, né? Porque eu não te vi ontem a noite. — Jota comentou, atraindo meu olhar para ele.

— É, eu estava evitando encontrar certas pessoas. — Respondi, me sentando ao lado do Gilmar.

— E você já pensou no que vai dizer para a imprensa sobre toda essa polêmica? — Gilmar perguntou. — Todo mundo tá querendo um pronunciamento de alguém, seja seu ou da Bruna.

— Eu ainda não sei o que vou fazer em relação a isso. — Olhei para o relógio em meu pulso, checando as horas.

— Você vai mesmo continuar com essa história de guarda unilateral? — Minha mãe perguntou, me fazendo olhar para ela. — Vai mesmo tirar as crianças do convívio contínuo com a mãe?

— Sim, mãe. Eu vou, já decidi. — Afirmo, convicto da minha escolha.

Eu sei que eles não entendem a minha decisão, mas eu quero ter os meus filhos perto de mim, quero que eles se acostumem a viver comigo, quero tentar recuperar metade do tempo que nos foi tirado.

Eu não quero privá-los de ter a mãe presente em suas vidas, mas também não posso ignorar as atitudes da Bruna e o fato de ela ter escondido a existência deles de mim por tanto tempo.

— Se você realmente está decidido a continuar com isso... — Ela deu de ombros. — Eu só espero que isso não faça com que essa "guerra" entre vocês piore. Acho que já tivemos polêmicas suficientes em nossas vidas e não precisamos de mais.

— Isso vai depender unicamente e exclusivamente dela. — Levantei do sofá, ajeitando o boné na cabeça e a mochila nas costas. — Eu só quero paz na minha vida, só isso.

VESTÍGIOS DO NOSSO AMOR ▪︎ BrumarWhere stories live. Discover now