dezenove: Quem disse que preciso de algo concreto?

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𝐁𝐑𝐀𝐒𝐈𝐋 - 𝐑𝐈𝐎 𝐃𝐄 𝐉𝐀𝐍𝐄𝐈𝐑𝐎

𝐏𝐎𝐍𝐓𝐎 𝐃𝐄 𝐕𝐈𝐒𝐓𝐀 𝐃𝐄 𝐁𝐑𝐔𝐍𝐀

Eu engoli o nó formado na minha garganta e passei as costas das mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas.

Precisava me manter forte, não podia me deixar abalar por ele.

— Só tenho mais uma coisa pra te dizer. Se você tentar me impedir de ver os meus filhos, eu acabo com você. Eu juro, Neymar. E eu não vou pegar leve.

— Você tá me ameaçando? — Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso.

— Por que você está tão surpreso? Essa é a sua especialidade, não é? Ameaçar os outros? Pois bem, eu aprendi com você. E não adianta tentar me ameaçar usando a minha carreira, porque isso não vai funcionar. Não mais. Se você pensar em tentar destruir a minha carreira, eu irei fazer o mesmo com a sua. Só que eu serei mais impiedosa. — Cruzei os braços, tentando soar firme.

— Você não pode estar falando sério. — Ele riu amargamente, balançando a cabeça em descrença.

— Eu estou. — Afirmei. — Você sabe que a sua carreira pode ser destruída bem mais rápido e facilmente que a minha. Você só vive metido em polêmicas, todo mundo sabe, e eu estou disposta a fazer com que isso aconteça. Não vou mais permitir que você use os meus filhos ou a minha carreira para me manipular.

— Você não pode fazer isso comigo. Não tem nada para arruinar a minha carreira. — Ele retrucou, tentando manter a pose de superioridade, mas suas mãos trêmulas denunciavam seu nervosismo.

— Quem disse que preciso de algo concreto? Eu posso muito bem inventar algo. E você sabe que todo mundo vai acreditar em mim. Afinal, eu te conheço há anos, tive dois filhos com você. E qualquer coisa que eu disser, eles vão acreditar. — Dei de ombros, mantendo minha pose de convencida.

Ele me encarou, sem saber o que dizer, claramente abalado pela minha ameaça.

Eu podia ver a raiva e o desespero em seus olhos, mas também podia ver o medo. Ele deu um passo na minha direção, e parou na minha frente.

— Olha só quem decidiu fazer disso um jogo sujo. — Sua voz saiu baixa e carregada de raiva.

— Só estou jogando o seu jogo. Se você tentar me privar do direito de ver os meus filhos, eu juro que acabarei com você. Não tenha dúvidas disso.

— Você não deveria me ameaçar assim, Bruna. Eu ainda sou o pai dos seus filhos, isso... — Ele começou a falar, mas eu o interrompi.

— Então quer dizer que você pode me ameaçar, mas eu não posso fazer o mesmo com você? — Ergui uma sobrancelha, meu tom de voz carregado de ironia. — Quanta hipocrisia!

— Certo, certo. — Riu com cinismo, levantando as mãos para o alto. — Foi divertido ouvir você me dizer todas essas coisas. Mas, eu não acredito em nada que saiu da sua boca até agora. E mesmo que tudo isso seja verdade. Eu quero te lembrar de que, se estamos assim agora, nessa guerra, é por sua causa.

— Não, Neymar. Não vem jogar a culpa em cima de mim, de novo não. Foi você que me machucou primeiro. A culpa é sua! — Rebati.

—  Tudo bem, Bruna! — Ele passou as mãos pelo o rosto, suspirando pesadamente. — Eu cansei. Sinceramente, eu cansei de todas essas brigas, de tudo isso. A culpa é nossa, tá bom assim? Nós dois erramos. Cansei dessa guerra entre nós, eu só quero viver em paz.

— Não acredito em você. — Cruzei os braços.

— Ok, tudo bem. O que eu preciso fazer pra você acreditar?

— Me devolver a guarda da Sophie e do Matteo. — Eu exigi, sem titubear.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes, parecendo ponderar minhas palavras.

— Tudo bem. Eu concordo. Eu te dou a guarda deles. Mas com uma condição. — Ele finalmente cedeu.

— Qual condição? — Perguntei, desconfiada.

— Que você venha morar comigo na Arábia. — Falou, olhando nos meus olhos.

— O quê? — Pisquei, desacreditada. — Você está brincando comigo, não está?

— Nunca falei tão sério na minha vida antes. — Ele estava completamente sério.

Fiquei sem reação, sem saber o que dizer. Morar com ele na Arábia? Não era algo que eu estava esperando.

Por que ele iria querer isso? Depois de tudo que eu disse, ele ainda me quer por perto. Mas eu não sei se isso é uma boa ideia. Não vou conseguir lidar com isso, nós dois vivendo sobre o mesmo teto...

Isso nunca vai dar certo. Se nós já brigamos quando estamos longe um do outro ou quando estamos perto só por algumas horas, imagina quando estivermos juntos praticamente o tempo todo?

Não sei se consigo lidar com a convivência, com as lembranças do passado, com as emoções que ainda guardo dentro de mim...

— Não acho que isso seja uma boa ideia, Neymar. — Minha voz saiu um pouco falha.

— Por que não? — Ele ergueu uma sobrancelha, confuso.

— Nós dois já vivemos brigando estando longes um do outro, imagine quando estivermos morando sobre o mesmo teto? Não, definitivamente, não. Isso está fora de cogitação. — Eu neguei firmemente, mesmo que, dentro de mim,  uma parte queria ceder.

— Eu estou disposto a tentar. Por favor, vai ser apenas por um tempo, pelo menos até as crianças se acostumarem comigo.

— De quanto tempo estamos falando? — Perguntei, mordendo os lábios, pensativa.

— Não sei... Um ano?

Arregalei os olhos, surpresa. Um ano vivendo com ele na Arábia? Parecia uma eternidade.

— Um ano? Neymar, eu não sei se consigo. — Protestei, tentando mostrar resistência, apesar de uma parte minha estar considerando a ideia.  — Eu tenho minha carreira e...

Ele se aproximou de mim, segurando meu rosto com delicadeza. Prendi a respiração, mordendo os lábios com nervosismo por ele estar tão perto, de novo.

— Por favor, Bruna. Eu sei que não podemos apagar tudo que aconteceu, todas as brigas, mentiras, palavras ou ações, mas podemos tentar recomeçar. Pelo menos por eles. Por uma chance de sermos uma família de verdade.

Eu olhei nos olhos dele, tentando encontrar alguma mentira, mas só vi sinceridade e um brilho de esperança.

Respirei fundo, tentando controlar a confusão que estava a minha cabeça naquele momento.

— Eu vou pensar sobre isso. — Afastei suas mãos do meu rosto e dei um passo para trás.

Ele pareceu satisfeito com a minha resposta, e eu me afastei, sentindo o peso da decisão que teria que tomar nos próximos dias.

Eu precisava considerar todos os prós e contras, avaliar se era realmente o melhor para os meus filhos, se eu seria capaz de lidar com a convivência tão próxima com o Neymar, se ainda existia alguma chance de nos reconciliarmos ou se era melhor seguir em frente, cada um vivendo sua própria vida.

VESTÍGIOS DO NOSSO AMOR ▪︎ BrumarWhere stories live. Discover now