Capítulo 6- Retiro

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"Hora de acordar! Hora de acordar!" - tocou o despertador

Demorei quase um minuto pra me situar. Não sabia exatamente que dia era. E ainda em estado de confusão mental, minha mãe entra no quarto e puxa meu cobertor.

-Filha, você está atrasada! Esqueceu do nosso trato? Você prometeu ir ao retiro da igreja da sua prima Jordana. Vamos, levanta!

-Ah, por isso meu despertador tocou! Anem, mãe. Eu tenho que estudar a tarde. Hoje é domingo e tenho que fazer as tarefas da escola. -disse eu de olhos fechados ainda, por causa do sono.

-Gabriela! Você precisa enturmar com outras pessoas. Não pode tirar o seu descanso, pra poder estudar. Agora anda logo, porque sua prima tá na sala te esperando.

Não tinha como eu escapar das ordens da minha mãe. Então me arrumei rapidamente. Na verdade, não tinha muito que arrumar, pois não era vaidosa. Cabelo penteado e higiene pessoal já eram o bastante.
Separei meu protetor solar, escova de dente,pasta dental e minha biblia em uma bolsinha pra levar. Apostava que minha prima ia estar com uma mala do tamanho dela, só de maquiagens e roupas de banho. Típico dela, já que deveria estar sempre bem arrumada, pra preservar o status de modelo. Ela não era modelo nem nada, mas era tão bonita que sempre apareciam pessoas perguntando se era. Não tinha um lugar que passasse sem ter alguém que a elogiasse. Acho que foi esse um dos motivos que me fez afastar dela. Pois quando saíamos juntas eu acabava sobrando, na rodinha de amigos. Já que achavam uma loira, com cara de Barbie e um 1,80 de altura mais atrativa que uma branquela de cabelos pretos, cacheados e baixinha.

Acabei de me arrumar e fui ao encontro da minha prima. E pra confirmar meu pensamento, lá estava ela com uma mala Pink com detalhes de oncinha. Não era muito grande, mas o tamanho ainda era desnecessário, já que íamos passar só o dia na chácara.

- Ooooi Gabi! Estava morrendo de saudades. E como você mudou durante esse tempo. Está mais linda do que antes! -disse Jordana, no jeito extrovertido de sempre.

-Gentileza sua Jô! Continuo a mesma.

Então minha mãe interrompe: - Jordana cuida bem dela. E vê se consegue fazer ela enturmar com alguém. Porque a menina ta precisando de amigos.

-Pode deixar tia!- Jordana disse dando uma piscada pra minha mãe.

Então dei um beijo nos meus pais e fomos para o carro. No caminho até a chácara já estava me arrependendo de ter aceitado o convite. Preferia estar afogada nos meus livros de escola, garantindo boas notas, do que tentar me socializar. Era muito cansativo e fiquei tanto tempo impedida pela timidez de arranjar amigos, que não sabia nem conversar (Já que meus assuntos sobre escola eram entediantes pra qualquer um).

-Gabi, cadê sua roupa de banho? Esqueceu que vamos ter um período de recreação depois do seminário? - disse Jordana olhando na minha bolsinha e já sabendo que não cabiam roupas nela.

-Humm esqueci não, mas é que não sou muito fã de piscina.

-Nada disso senhorita! Você vai entrar na piscina sim. Trouxe umas roupas reserva, um short e uma blusa. Quero muito que você se divirta.

Acabei falando que aceitava as roupas, mas já estava planejando em dar um jeito de sumir da vista dela, no retiro.

Depois de muita "conversa" no carro, finalmente chegamos à chácara.

Do lado de fora já dava pra escutar o barulho de jovens cantando. Pelo jeito era muita gente.

-Vamos, Gabi. Torce pra acharmos um lugar, pois estamos atrasadas. - Falou Jordana me puxando.

Quando entramos vi que não tinha tantas pessoas assim. Depois de conseguirmos encontrar um lugar para sentar ( Algo que achei impossível, pois a Jordana parava todo momento no caminho pra cumprimentar um conhecido da igreja) percebi que o rosto do menino que estava cantando parecia-me familiar. Mas não conseguia enxergar direito devido ter esquecido o óculos em casa.

Após o louvor, subiu no palco um homem se apresentando como o líder da mocidade. Se não dissesse pensaria que era mais um jovem, pois o estilo não o diferenciava dos demais que estavam ali. O cabelo arrepiado, tênis all star e uma camiseta escrita "Cola em Jesus, que é sucesso" o tornava mais próximo dos seus liderados. Comecei achar interessante a forma como falava. Parecia que entendia o que eu estava sentindo. Ele contou que quando era mais jovem sofria muito com a timidez, pois ela não deixava Deus agir liberalmente nos dons que havia. Sabia cantar, tocar violão e pregar, mas só escondido de todos. Até que um dia resolveu dar o primeiro passo e enfrentar seus medos. Então num certo culto, Deus retirou instantaneamente a vergonha que o atrapalhava. E lá estava ele, liderando e pregando para jovens.

"Meu Deus! Acho que essa pregação foi direta pra mim."

Fiquei meditando naquele testemunho. Eu precisava enfrentar meus medos. Não dava pra ficar me escondendo de tudo e de todos.

Nesse momento minha prima me cutuca várias vezes e fala: - Você está bem? Tá parecendo uma estátua. Acho melhor irmos comer.

Então percebi que tinha acabado a pregação e já estava na hora do almoço. Devo ter ficado muito tempo pensando.

- Nada não, lembrei de uma coisa só. Vamos comer logo, porque estou morta de fome. - eu disse arrastando-a pra fila.

Depois de havermos comido estava na hora da recreação. Tinha várias opções na chácara para se divertir... Piscina, tênis de mesa, vôlei, futebol e pebolim. Então lembrei que tinha que dar um jeito de despistar minha prima, pra que ela não me fizesse entrar na piscina. Enquanto ela estava conversando com as amigas, falei que ia dar uma volta na chácara.

Fui caminhando em direção à sala de jogos, no intuito de conseguir um lugar sossegado pra ler minha bíblia. Não tinha ninguém lá, pra minha sorte. Então sentei em um canto escondido e comecei a ler.

Estava tão entretida na leitura, que levei um susto ao sentir uma mão repousar no meu ombro. E pra piorar a situação meu corpo costuma ter vida própria, quando levo um susto! Então abri os braços involuntariamente e bati no rosto do menino, que havia me tocado. Quando vi ele já estava com as duas mãos no nariz, reclamando de dor : -Poxa, eu só queria te chamar pra jogar pebolim. Não precisava ter me batido.

-Desculpa, foi sem querer. É que me assustei com você. - Depois de ter falado isso percebi que o conhecia. E pro meu azar, conhecia mesmo.

Jornada de uma adolescente cristãWhere stories live. Discover now