Capítulo 26

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Eu não sabia se eu tava louca ou não, mas decidi descobrir. Me agasalhei e desci as escadas. Aproveitei que meus avós tinham saido e fui pra rua. 

Andei e parei exatamente no ponto onde eu conseguia ver minha janela e eu acho que eu não tava louca o suficiente pra ver isso, e se eu tivesse visto, era melhor me tratar ou algo assim. Resumindo: eu tava indignada com isso. 

Minhas suspeitas estavam quase acabando quando escuto aquela risada que eu jamais poderia confundir na vida, nem que eu me mudasse, nem que eu perdesse a memoria, aquela risada ia ficar pra sempre na minha cabeça.

- Achou que estava doida?

Virei pra trás e pude ter uma visão perfeita dele na penumbra.

- Talvez... O que você ta fazendo aqui?

- Ué, vim atrás de você.

- Se você não percebeu, eu to fugindo de você.

- Nossa, o ar daqui não fez bem pra você né morena, ta toda nervosinha, deve ser a TPM.

Fiquei quieta olhando pra ele.

- Eu tava ficando loucão sem você perto... Sobre aquela carta... Eu fiquei péssimo quando soube que você perdeu nosso bebê, tu não tem noção, eu tava louco pra ver nosso molequinho ou nossa mina andando por aquela favela. Tudo aconteceu rapidão sabe? Cê foi embora dizendo que perdeu meu filho, ai a Monique agora tá com umas idéia que ta grávida também e eu to perdidão, e slk, tu é minha mina, minha melhor amiga e eu não to funcionando sem você.

Não conseguia assimilar direito a ideia da Monique estar grávida do D2 em tão pouco tempo. Olhei pra cara dele e o chamei pra entrar em casa.

Subimos pro quarto e eu sentei na cama.

- Qual é tu vai ficar muda caralho?

- Ué, você quer que eu diga o que?

- Qualquer coisa.

- Eu to tentando entender como você veio parar aqui.

- Ué, eu ia te caçar até no inferno. Ta ligada que eu não acreditava em nada daquela carta, então se você tivesse grávida, eu te arrastava pelo cabelo até a minha favela, porque filho meu tem que crescer comigo, mas ai a Gabi acabou me contando que tava com você e como tudo aconteceu.

- Entendi... Mas não tem muita diferença ne? Tu vai ser pai agora!

- Se loco, não queria nada disso, queria nem ter vacilado contigo e tar agora na favela.. Eu, você e nosso filhote.

- Tu tem que ir embora D2.

- Eu acabei de chegar.

- Toda vez que eu olho pra você, eu não sei se quero te matar ou tentar perdoar você e eu não posso. Não depois de tudo, não depois de você ter me trocado por uma morta. Não depois de tudo o que você fez. Você me traiu. 

- E eu me arrependi

- Ah, tudo bem, você se arrependeu mas eu ainda to triste, não sei se você percebeu

- Sua tristeza a gente acaba na cama

- Vai se foder.

- Vamo!

- Vai embora!

- Porra Manuela, para de ideia torta, eu dei um peao do caralho pra vir parar nesse lugar quente da porra e agora cê ta me mandando embora? Ta ligada que se eu for, eu não volto mais ne? Não sou cachorrinho de ninguém não.

- Eu não sei nem porque você veio.

- Realmente, a Monique tava certa, você é uma perca de tempo mina.

Meu coração ali acabou de quebrar em milhões de pedaços, o que sobrava.  Eu sabia que não era a certa, que não tava valorizando ele ter vindo até aqui. Mas eu também tinha meus motivos.

Eu olhei ele pela ultima vez, eu não esperava voltar pro Brasil e sabia que ele tinha falado serio, ele não voltaria mais. E ele, por sua vez, ficou me olhando achando que eu ia impedir que ele fosse.

Ele deu um suspiro longo e levantou. Passou rasgando pela porta e eu sabia que eu não iria mais ver ele. 

(...)

Passaram-se três meses que o D2 foi embora, e aquilo só tinha piorado minha situação. Agora eu não tinha vontade de nada. Não queria nem levantar da cama mais, eu estava nadando numa depressão enorme. O que me aliava, as vezes, era conversar com a Gabi e com o meu irmão. Desde que eles tinham se mudado pro morro do pai do Gustavo, onde eu tinha ficado em cárcere, a vida deles tinham mudado. Eram muito mais piranhas pra Gabi se defender e se ela pensasse em vir me visitar, alguma já ia querer dar o golpe da barriga.

Ela já estava de 8 meses e eu com 6, não sabia que eu poderia sentir tanta fome assim. Fora dormir e chorar, eu só sabia comer. Comia sem parar e me fez ganhar 9 kilos, fazendo com que eu me sentisse uma orca. 

O tempo foi se passando e eu tive que começar seguir a vida. Voltei a ir com a minha avó no clube do livro as quartas e no resto da semana ia no centro comunitário com meu avô. Eu tinha recebido vários elogios dos rapazes de lá, mesmo com a minha barriga parecendo um balão prestes a explodir. Meus avós ficaram loucos pra me desencalhar, nunca vi tamanha necessidade. 

Tentei me envolver com 3, e nenhum durou mais que uma semana. Eu sempre procurava o D2 neles mas nunca encontrar ninguém que chegasse perto. Por fim, decidi que eu ia ficar sozinha, centrada somente no meu filho, que eu por opção, resolvi nem saber o sexo. Seria uma surpresa pra mim e eu queria demais que os dias passassem.

Me apaixonei pelo dono do morro [FINALIZADA]Where stories live. Discover now