Capítulo 36

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Não sei porque mais cada palavra que saia da boca daquela vagabunda me causava calafrios, e assim que ela acabou de falar a ultima coisa, saiu enfurecida da minha frente. 

O D2 veio, me abraçou e beijou minha testa, dizendo que nada iria acontecer.

Fiquei mais um tempo lá, e ele me apresentou o homem loiro que tinha chegado mais cedo. Embora ele fosse todo malhado, mas nada muito exagerado, loiro, dos olhos claros e um sorriso totalmente bonito, a cara de cafajeste que ele tinha não me enganava. Sabe aquele sexto sentido? Então. 

Depois de algum tempo na favela rindo com os meninos, lembrando de tudo o que eu passei ali, o D2 acabou me levando pro asfalto de novo, afinal, a Gabi deveria estar louca com suas crianças pra olhar.

Quando cheguei lá, meu irmão ja tinha ido pra favela dele e a Gabi tava dando comida pro Lorenzo, a Cecilia nem acordado tinha. Fui acordar a minha neném e comecei dar a papinha dela.

- Que foi? Tu ta com essa cara de cu desde que saiu da favela disse o D2 

- Aquele seu "parsa", não sei amor, não gostei muito dele.

- Ele é gente boa.

- Sei...

- Mas chega de ko, to pra te falar que a Monique já saiu de lá, e já vi uma casa pra gente ficar, é nipe essa daqui.

Eu sorri satisfeita, não queria mais ficar ali, meio que trancada sem poder sair pra lugar nenhum. Queria colocar a Ceci numa creche, poder trabalhar em paz, poder ter minha vida e não viver nas custas do D2. Eu sempre fui muito independente e agora eu tava me sentindo como um pássaro dentro de uma gaiola.

A Cecilia estava com quase um aninho, e eu nem acreditava como as coisas tinham passado rápido pra mim. Eu estava arrumando nossas coisas pra finalmente mudarmos, enquanto o D2 estava com ela na piscina, o que era totalmente fofo. 

Assim que acabei de arrumar tudo, avisei pra um dos seguranças do D2 que poderiam levar já as coisas pro morro, e só restaria mesmo dar um banho na neném, e ir junto com o D2 pra lá.

Quando comecei subir o morro e parei na boca pro D2 pegar algumas coisas, todo mundo lá se derreteu pela Cecilia, desde o vapor mais carrancudo que trabalhava com o D2 começou a rir pra ela. o Faísca então, só faltou pegar um babador. 

Mas mesmo estando no "meu habitat natural" uma coisa me incomodava e muito, muito mesmo, toda vez que o Carlos, aquele mesmo loiro que trabalhava no lugar do D2, me olhava, eu sentia um arrepio na costela e não sabia o porque, parecia que realmente eu já tinha visto ele outras vezes, mas não conseguia me lembrar de onde.

Bom, assim que o atrasão pegou tudo na boca, fomos pra casa e comecei a arrumar grande parte das coisas, e logo a Gabi e meu irmão apareceram lá. Ela me ajudou a arrumar tudo e o Matheus ficou vendo jogo na TV com o D2. Não era fácil ser a unica vascaína no meio de três flamenguistas. Era um clássico do futebol carioca, e assim que eu acabei tudo, comecei a sentar no sofá pra ver meu time jogar. Meu irmão tinha virado fanático por futebol por causa do meu pai, mas minha mãe era vascaína roxa igual eu. Nos dias de clássico, minha casa virava um inferno, porque era meio que o "dia da família", eu com meu manto sagrado do Vasco e meu irmão e meu pai com aquele pano de chão do Flamengo, e a gente gritava tanto, que o sindico geralmente ligava pra reclamar.

Dessa vez não era diferente, só que com tanta gritaria, acabamos acordando as crianças e foi o maior chororó pra dormirem de novo. E pra orgulho geral da nação, só pra constar: meu time ganhou.

Logo começamos a almoçar e falar sobre os planos de tudo, meu irmão contou o que tava rolando no morro dele, o D2 falou o que rolava no nosso e eles estavam com um tramite de arma pra um lado, droga pro outro e eu e a Gabi odiávamos aquilo, a gente geralmente gostava de fingir que nossa família era normal, que eles tinham um emprego normal e que não precisavam matar ninguém e nada do gênero, quando na verdade, a gente sabia muito bem o que eles faziam e que eles poderiam ser os piores seres humanos do mundo se quisessem.

- Eu quero colocar a Ceci na creche e trabalhar.

O D2 começou me fuzilar com o olhar

- Mulher minha não tem que trabalhar, ta te faltando alguma coisa?

- Não, mas..

- Mas nada, então não precisa trabalhar porra..

- Olha, se você começar com pensamentos machista pro meu lado, a gente vai ter um problema.

- Só não vejo motivo pra você querer ir trabalhar sendo que eu posso te dar tudo do bom e do melhor.

- Eu vejo: eu não vou ficar dependendo de você pra nada Eduardo, que saco.

Ai como eu já tenho um gênio forte, já virei a cara pra ele e ignorei ele o resto da tarde. Logo a Gabi e meu irmão foram embora porque era dia de baile no morro dele e ele tinha que fiscalizar pra não dar merda e a Gabi como não é boba nem nada, tinha que fiscalizar as piranhas perto do Matheus.

- Tu ainda ta de ko comigo?

- Não.

- Para de graça Manuela

- Eu não to de graça, eu só quero ser util, quero ter uma vida normal

- Caralho, isso não é uma vida normal? Eu to tentando te dar a vida mais normal que dá pra eu fazer

- Só que isso não depende só de você, depende de mim também, eu não sou um passarinho que tu pode prender numa gaiola enquanto você vive a sua vida no mundo.

- Ai Manuela, não vou brigar com você não tiw.

- Ótimo.

Assim que ele foi pra boca comecei mandar um monte de curriculos pra agências de publicidade, afinal, minha mãe não tinha pago 3 anos de curso técnico pra mim atoa.

Logo dormi e acordei com o D2 chegando, eram quase 2h30 da manhã.

- Por que demorou?

- Tava resolvendo umas coisas na boca.

Assim que cheguei perto dele pra dormir no seu ombro, só conseguia sentir um perfume muito do vagabundo de mulher e o cheiro daquela vodka horrivel que ele tomava.

- Hmmm, quem tava na boca?

- Só os moleque ué

- E você bebeu?

- Um pouco, vamo dormi.

- Então se só tinha "os moleque" na boca, porque você ta fedendo perfume de puta barata

- Para de viajar Manuela, para de viajar mano. Afs, vo até pra sala, não da pra dormir aqui não.

Assim que ele saiu tranquei a porta, eu acho impossível DEPOIS DE TUDO O QUE ACONTECEU ele estar cometendo o mesmo erro de novo.

Acordei as cinco da manhã com um choro absurdamente alto, eu sabia que o choro não era da Cecilia, mas mesmo assim fui checar o quarto dela, ela estava dormindo como uma princesa. Continuei seguindo o barulho que dava pra porta da garagem, assim que desci pra sala, vi o D2 morgado no sofá, roncando como se nada tivesse acontecido. Abri a porta da sala e pasmei com o que eu tava vendo.

Abaixei e peguei aquele bebê todo gordinho num cestinho onde tinha um bilhete logo do lado.

"Eduardo, desculpa não conseguir cuidar do nosso filho, aquela puta vai fazer isso melhor que eu"

Sentei no sofá que estava sobrando na sala e comecei a acalmar ele, ele estava todo suado e morrendo de fome, com o barulho do choro, o D2 acabou acordando.

- Que que meu filho ta fazendo aqui?

Mostrei o bilhete pra ele.

- AQUELA VAGABUNDA!!!!!

Dei o menino pra ele segurar e fui fazer alguma coisa pra ele comer, assim que acabei de dar comida pra ele, dei um banho bem dado e coloquei ele pra dormir na minha cama.

Caraca, mais uma responsabilidade pra mim, mais uma, mas eu não poderia deixar ele desemparado sozinho morrendo de fome na porta da minha casa.



Me apaixonei pelo dono do morro [FINALIZADA]Where stories live. Discover now