Me apaixonei pelo dono do morro [FINALIZADA]

Esclarecimentos

Eu não sabia que chegando lá, ele também estaria ali.

- Ué? Chegou mais cedo mina?

Fiquei olhando ele, e pensando que a ultima coisa que eu queria agora, era conversar... principalmente com o Eduardo.

- Fala comigo tio.

- Falar o que? Quem tem que falar aqui é você!

- Vish, to vendo que moio.

- É Eduardo, "moio", por que você nunca me contou? Todas as vezes que me viu chorando naquele morro, você viu o quanto eu sofri, o quando eu precisei da minha mãe e eu não tinha ninguém do meu lado.

- Para de falar o que você não sabe.

- Eu não sei o que? 

- Da história.

- Eu sei, eu vi minha mãe ali.

- Senta, vamos troca resenha, ela não te contou tudo.

- Ah, e tem mais?

Ele fez que sim com a cabeça.

- Quando eu era pequeno, sua mãe vivia lá em casa, ela era minha tia, irmã do meu pai, morava no morro com eles. Quando ela conheceu o seu pai, foi complicado pra ela, ela era irmã do dono do maior morro do Rio de Janeiro e tinha se apaixonado pelo capitão da polícia, pensa como foi pra ela ter que escolher? Muitas vezes, seu pai invadiu a favela, querendo caçar um dos bandidos mais procurados, sem nem saber que ele era o irmão da mina que ele amava. Era uma coisa de filme. Então sua mãe contou a verdade, e teve que escolher entre quem ela amava e a família. Ela e meu pai, eram como você e o Matheus, sem tirar nem pôr, eram grudados pra caralho ta ligada? Mas quando meu pai viu que ela tinha escolhido teu pai, ele ficou puto da vida e resolveu banir sua mãe tanto da favela quanto dessa casa. E foi aí que eu perdi o contato com o Matheus, nossos coroas estavam em pé de guerra e ninguém podia fazer nada por isso. Era bom pra geral se eles se odiassem. A polícia faria o trampo dela. Os morros inimigos iriam ver a derrota do coroa. Mas ai você nasceu, e você fez com que geral ficasse mais mole tá ligada? Meu pai queria ver você e teu pai tava bem mais fácil de bater um papo. Quando os policiais viram que tava geral se comunicando de novo, resolveram acabar logo com isso e vieram pra matar sua família, junto com o outro morro que batia de frente com meu coroa, mas vocês escaparam. Logo depois minha mãe ficou doente e todo o resto que eu te contei. 

- Tô tentando raciocinar ainda.

- Eu não pude te contar, morena, porque eu sei que eles podem vir atrás de você de novo, do Matheus, do Lorenzo e das nossas cria, ta ligada?

Fiz que sim com a cabeça. Eu não podia culpar o D2, nem ninguém, mas tanta coisa assim, não era fácil pra assimilar.

- Pera, nós somos primos?

- Aham - ele deu uma risadinha safada - Geral sempre falou que pegar prima era suave, tô de acordo.

Mostrei o dedo do meio pra ele.

- E você me fala isso agora? Depois da gente já ter tido uma filha?

Ele deu de ombros e sorriu.

- Neguinha, não fica brava comigo não tio, eu só quero o que foi de bom pra tu e pras nossas cria, se liga.

Assenti com a cabeça e ele falou que tinha umas coisas pra resolver no morro. Eu só precisava esfriar a cabeça. Peguei o carro e comecei dirigir, fui pegar minhas crianças na escola e fui pra casa, deixei elas vendo TV e não demorou muito pra minha mãe chegar em casa com o Matheus, a Gabi e o Lorenzo. Toda vez que eu via a minha mãe, era ainda como se fosse uma assombração, era complicado saber tudo de uma vez.

- Tá mais calma?

- Ham... Tô mãe.

- O Eduardo te contou tudo?

- Contou.

- Viu por que eu não queria deixar vocês namorando? - disse o Matheus rindo.

Fuzilei ele com o olhar e ele calou a boca.

Minha mãe sentou na mesa de jantar e ficou falando comigo de coisas do casamento que eu teria que ir atrás, mas minha cabeça estava cheia demais, não aguentava mais ouvir nada, pra mim tudo o que ela falava era bla bla bla bla.

Pedi licença pra minha mãe e fui na sala pegar a Ceci e o Ricardinho. Quando minha mãe viu a Cecilia, quase teve um treco de chorar.

Ai tive que explicar pros dois que essa era a Vovó e tudo mais.

Quando o D2 chegou, foi a maior festa.

- E ai morena, tudo preparado pro casamento?

- To com cabeça pra casamento não.

- Que pena, vai ter que ter.

- A Gabi resolve as coisas né Gabi?

Ela me olhou surpresa e disse que sim, ela amava essas coisas.

O D2 então começou conversar com a Gabi o jeito que ele queria as coisas e ela estava muito compenetrada nisso, mas minha cabeça estava a mil, precisava dormir. 

Acho que acabei dormindo no meio do jantar, porque quando acordei, estava na minha cama já, ainda ouvi minha mãe lá embaixo mas não tive coragem de levantar, só apaguei de novo.

Acordei no outro dia com o Sol batendo na minha cara e o D2 se mexendo de um lado pro outro.

Foram assim todos os dias até o casamento, eu estava muito cansada, mais que o normal, sempre com fome ou enjoada. Mas esse dia, em particular, eu não preguei o olho. A Gabi veio dormir em casa e o D2 foi dormir na casa dela. Minha mãe também tava lá e eu não parava de fazer perguntas pra elas. 

Elas tinha escolhido tudo, tudo mesmo, desde o arranjo de mesa até o terno do D2 e como eu estava muito cansada entre trabalhar, cuidar da casa, das crianças e do D2, acabei nem dando atenção quando elas me contavam as coisas, e agora não tinha parado de perguntar um só segundo. 

Quase não dormi aquela noite, finalmente o dia tinha chegado. Era isso, eu ia casar mesmo.