IV. Inimigos mortais

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─ Acho que consegui a maior sala do prédio para que vocês pudessem usar. ─ A Sra. Phillips afirmou enquanto caminhava pelo corredor que se formava entre os alunos de violoncelo. ─ Por isso aproveitem o espaço e se distanciem um do outro o máximo que conseguirem para que a música que um estiver tocando não atrapalhe o outro colega.

Não eram muitos os alunos de violoncelo do primeiro ano. Davam somente seis ao todo. Contando comigo e Beatrice que tí­nhamos aulas nas mesmas turmas, fora a de violoncelo.

Como sempre, escolhi um dos cantos mais afastados para poder ensaiar. Mal conseguia escutar o som do violoncelo de Beatrice que estava do outro lado da sala. Analisei mais uma vez a partitura que escolhi e estralei os dedos.

Não sei se isso era uma mania ou apenas sinal de nervosismo.

Segurei o arco com uma das mãos e comecei a tocar o instrumento. Não consigo descrever o que sinto quando toco. É algo mágico. Meu corpo se preenche de algo indescritível. Minha mente se torna nebulosa e somente consigo visualizar as notas formando a melodia. Como se eu fosse o violoncelo a ser tocado.

Toquei três músicas ao todo, cuidando toda vez para que não estivesse sendo observado por ninguém. O que foi inútil. A professora analisava cada um e pareceu se esquecer dos outros alunos quando chegou ao meu lado. Ficou parada escutando enquanto eu tocava o primeiro trecho de uma do Beethoven e não saiu dali depois de então.

Minhas bochechas coraram fortemente e evitei olhar em seus olhos. Temi ver uma expressão desaprovadora ou algo que mostrasse que eu deveria parar de tocar e seguir carreira de vendedor de cupcakes mesmo. Quando finalizei a última música, a professora bateu palmas. Assim que olhei em seus olhos cor de caramelo, vi um sorriso em minha direção.

─ Isso foi incrível, Sr. Tomlinson. ─ Ela anunciou. Pude sentir todos virarem seus rostos para me observar. ─ Parece que tenho um prodí­gio em minha turma.

Sorri sem jeito ao seu elogio e abaixei o rosto. Ela se afastou para conversar com os outros alunos enquanto eu olhava o relógio. Faltavam apenas cinco minutos para o término da aula de violoncelo. Ou seja, cinco minutos me separavam do inferno da aula de teatro.

A Sra. Phillips nos dispensou. Pediu para que deixássemos os violoncelos ali e buscássemos logo após a aula de teatro. Ela disponibilizou seis armários individuais e com tranca. Guardei o meu cuidadosamente, peguei minha mochila que estava ao lado de meus pés e saí­ sozinho em direção ao anfiteatro do quarto andar.

Beatrice passou a passos largos e me empurrou bruscamente. Choquei meu ombro contra a parede que logo começou a latejar. Ela voltou o rosto e me lançou um olhar fulminante.

O que foi que eu fiz dessa vez?

Assim que viu Harry e Zayn parados ao lado da porta do anfiteatro, aproximou-se sorridente como se nada tivesse acontecido.

─ Como foi a aula? ─ Beatrice perguntou.

─ Normal. E a sua? ─ Zayn disse despreocupadamente.

─ Mais ou menos. Tem umas pessoas estranhas, se é que me entendem. O mais engraçado é o garoto que a professora elogiou hoje. A voz dele parece de mulherzinha. E ele é todo desengonçado, vocês precisam ver.

Meus olhos se encheram de lágrimas e diminui os passos, quase parando para não passar por eles. Tamanha era a vergonha com aquele comentário hostil sobre minha voz.

─ De mulherzinha? ─ Zayn questionou e deu uma leve risada, fazendo com que eu sentisse uma pequena pontada no peito.

Shy Soul (Larry Stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora