Kat esticou as pernas para beijar o rosto da mãe.
- Não faça bagunça, meu bem, se não amanhã não vamos ao parque. - Sarah sorriu retribuindo o beijo.
- Pode deixar, mamãe. - Kat disse confiante.
Sarah foi em direção ao carro e enquanto saía Dona Célia chamou Kat para assistir televisão, puxando os braços da neta.
- Ah não, vovó. Eu não quero assistir jornal. - Kat reclamou escorrendo por entre os braços da avó.
Dona Célia a segurou firme.
- Pode mudar de canal, então, querida.
Kat arrumou um jeito e se soltou, parando de frente para o sofá e de costas para a televisão.
- Por favor, vovó. Eu não quero assistir nada. Quero brincar. O Teddy ta me esperando. A Dolly também. - gesticulava enquanto falava. - Por favor, vovó. - fez uma cara meiga.
- Tudo bem, Kat. Eu só queria um tempo com você.
- Desculpa, vovó. - Kat estava um pouco sentida, agora.
- Não se preocupe. Pode ir lá brincar. - a avó disse, mesmo querendo que a neta permanecesse ali.
- Eu fico! - a garota se sentou com um pulo imediato.
- Nã-Na-Ni-Na-Não! - Dona Célia brincou rindo e fazendo cócegas em Kat, fazendo com que essa escorregasse até o chão. - Teddy está te esperando.
Ambas sorriram.
- Obrigada vovó. - logo em seguida pôs a correr em direção ao quarto.
Parou em frente a porta fechada. Ouvia vozes vindo lá de dentro. Era Teddy.
- Eu nunca te vi na minha vida, sua criatura. - sua voz era extremamente gaguejante.
- Nossa, Teddy, vai fingir que não conhece uma velha amiga?
Kat girou a maçaneta e viu Teddy caído no chão. A sua frente, virado de frente para a porta, Mel. Segurava a faca, girando-a fazendo com que reluzisse o quão afiada estava.
- Kat! - Mel exclamou abrindo os braços. A faca na mão não se soltou. Estava firme.
- Oi Mel... - a garotinha estava estranhando aquela cena. - O que vocês estavam fazendo? - tinha os olhos fixos em Teddy caído.
- Brincando. Mas ele não quer... - contorceu os lábios, deixando expresso na boca uma falsa tristeza.
Kat não respondeu. Pegou o ursinho no colo e cochichou em seu ouvido.
- Tudo bem, Teddy?
- Ah Kat! Temos que conversar. - o urso não pôde nem responder. De imediato Mel, gritando, tomou a atenção dos dois.
- Sobre o quê?
- Você descumpriu meu ensinamento. Kat, eu te ensinei aquilo para que você seguisse. - aos poucos seu tom de voz aumentava e sua face demonstrava completa raiva. - Eu disse: Nunca confie em pessoas que contam seus sonhos. Aquele louco do Dr. Alan. Você é tão ingênua, menina. Eu vi vocês no seu quarto, e sei muito bem que ele sabe seu último sonho. Não me importa o que seja: Nunca conte. Por acaso você sabe o que significa a palavra "Nunca"? - a faca aos poucos avançava na direção da garota, escorada na porta que se fechara.
- Perdão, Mel. Eu não queria. Minha mãe quem contou. Não foi minha culpa. Eu te juro. - falava um pouco hesitante. Lágrimas começaram a jorrar por seu rosto e não conseguia pensar direito no que falava. Ela estava com medo da amiga.
- Poupe-me de suas desculpas. Você não é uma amiga em quem posso confiar. Minhas metas? Você está longe de saber. - abriu o sorriso macabro. Como se sua boca fosse cortada, o sorriso tocou ambas as orelhas.
- Mel! - vendo a face horrenda da garota, Kat se desesperou. - Eu não confio no Dr. Alan, eu juro. Eu não queria que minha mãe contasse, mas eu não podia falar nada para ela.
- Então o que você cochichou no ouvido dela? - em uma crise histérica, girou a faca e deixou os pés fixos no chão onde estava.
- Eu... - voltava a respirar aos poucos, ainda com as lágrimas que caíam. - Eu falei pra ela... Ele iria me achar louca... Foi isso, Mel! - engoliu em seco, não aguentando a tensão do momento. Nunca vivenciara nada igual. - Mel, eu disse que ele me acharia louca por sonhar coisas assim tão esquisitas. Eu não mentiria para você. Você é minha amiga. Além disso, nunca posso confiar em pessoas que me perguntam sobre meus sonhos. - a água pelo seu rosto voltou a aumentar. Calou-se por completo, soluçando repentinamente.
O sorriso no rosto de Mel diminuiu lentamente, porém permanecia macabro.
- Parabéns, Kat. Você disse o que eu queria ouvir. - mexeu com a faca agilmente e a guardou no bolso. - Muito bem... E por último, o que você acha do Dr. Alan?
Kat arregalou os olhos. Estava surpresa e amedrontada. Soluçava olhando para Mel. Não sabia o que responder.
- O que você acha do Dr. Alan? - a garota voltou a gritar e ameaçou tirar a faca novamente do bolso.
- Ele é um homem mal! - Kat gritou desesperada.
- Perfeito! - Mel virou de costas e saiu correndo em direção a janela. Deu seu salto hábil e sumiu.
Kat, sozinha com o urso apertado em seus braços, sem o largar, pôs as mãos em seu rosto, atrapalhando o caminho das lágrimas. A porta atrás dela começou a mexer fortemente. Alguém tentava entrar.
- Ahhhhhhhhhhhhh! - Kat gritou, levando as mãos ao ouvido.
- Kat? O que foi, meu amor?
A garotinha se levantou rapidamente. Jogou o urso longe. A avó abriu a porta imediatamente. Kat voou com os braços, envolvendo as pernas de Dona Célia.
- O que foi?
- Mel, vovó. - respirou fundo. - A Mel é um monstro.
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Vamos Brincar, Kat?
Horror- Filha... Com quem você está falando? - Com o Teddy, mamãe. Um tilintar de xícaras ecoa no quarto. - E sobre o que vocês estão falando? - Sobre a garota no final do corredor. Acho que ela quer brincar de comidinha co...