Capítulo 31

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- Que lugar é esse, Kat? - Dolly se levantou do chão observando o quarto a seu redor. O medo era evidente na expressão de sua face.

- Isso... Isso... Que lugar é esse, Kat? - Teddy, do mesmo modo que a boneca, pôs-se a levantar. - Isso parece um manicômio.

Kat já tinha visto cada detalhe podre do quarto onde estava. De tanto chorar, passou até mesmo a crer que não havia mais nada para jorrar de seus olhos. As bochechas demarcavam em uma única linha o caminho percorrido pelas lágrimas. Os olhos vermelhos e inchados. Os cabelos completamente bagunçados e de certo modo molhado, pelo suor do desespero talvez. Seus braços já não eram mais sentidos por permanecerem amarrados às costas.

- E esse cheiro! - a boneca reclamou. Forçando a garganta, produziu um som de reprovação. Balançou a cabeça ligeiramente de um lado ao outro. - Como você está aguentando, Kat?

As paredes do quarto eram em grande parte amareladas. Parecera que um dia aquele lugar fora pitando de branco. Aonde a pintura saíra, era evidente o tijolo. Ainda pichados pelas paredes e até mesmo na porta haviam pequenas frases impossíveis de se compreender pela péssima letra. Poucos móveis compreendiam a mobília do cômodo. Uma cama velha de madeira estava escorada na parede do lado direito da garota. Sobre essa um colchão rasgado. Mesmo da cadeira, Kat podia ver uma das molas que se soltava desse. Estendido no colchão havia um lençol com manchas alaranjadas em diversos lugares. Em frente a cama um espelho também antigo. Sua moldura completamente enferrujada, provavelmente devido à velhice. A imagem que se via refletida nesse não passava de enormes borrões de cores fúnebres. A cadeira onde Kat estava sentada ficava em frente a porta de ferro, a única saída do lugar. Não havia nenhuma janela ali. A cadeira era fixa ao chão por pequenas placas de ferro pregadas nesse. Já do lado esquerdo da garota, havia uma mesa encostada à parede que cruzava o quarto. Seu estado era deplorável, e os itens sobre a mesa estavam na mesma situação. Um ventilador, sobre o qual Kat tinha dúvidas se realmente funcionava. Uma garrafa de água pela metade e um copo ao lado. Alguns livros empilhados que não serviam para nada além de empoeirar mais o local.

Kat começou a tossir e os olhos dos brinquedos finalmente largaram o quarto medonho para dar atenção a garota ali, presa à cadeira. Os dois se entreolharam ao ver a face dela com as marcas evidentes do choro e desespero.

- Acalme-se, querida! - Teddy falou tentando subir em seu colo. A pelúcia fazia um grande esforço para tentar alcançá-la, porém não conseguia. - Onde estamos?

A garota hesitou. Lágrimas iriam voltar a jorrar, mas Kat conseguiu segurá-las.

- Eu não sei! Eu só quero sair daqui. Eu não fiz, Teddy. Eles me trouxeram pra cá. Eles usaram vocês. - gaguejava repetitivamente e os bonecos tiveram certa dificuldade para compreender o que era dito. - Eu quero a minha mãe! Eu quero a vovó! - ela jogou a cabeça para trás querendo gritar, mas não o fez. Não queria que aquela mulher e aqueles dois brutamontes voltassem ali. Ela sabia que iriam voltar, contudo tentava esquecer disso.

- Nós vamos sair daqui. - Dolly também se aproximou e começou a acariciar as pernas dela. - Vamos arrumar um jeito.

- Acho que vai ser difícil conseguir sair desse lugar, mas sua mãe é inteligente, Kat. A Sarah te ama. Ela vai fazer de tudo e mais um pouco pra conseguir te tirar daqui. - o urso começou a imitar a atitude da boneca e acariciou-lhe as pernas.

- É verdade. - Dolly concordou ainda preocupada. - Sarah vai nos achar e nos tirar daqui.

- Eu quero ela aqui! Agora! - a expressão de agonia em sua face era dolorosa.

Os dois brinquedos tornaram a trocar olhares. Suspiraram.

- Veja pelo lado bom, Kat. - Teddy voltou a falar. - Aqui a Mel não vai poder te achar para brincar com você. - afastou-se para ter uma visão melhor da face da garota.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now