Capítulo 47

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Martin andava robotizado até seu carro. A sensação de ser seguido por uma garota assassina não era nada confortável. Sentia-se como um mergulhador nadando no meio de tubarões brancos. O mergulhador sabe do risco que está correndo e fica atento para agir em qualquer situação de risco, mas deixa o tubarão se aproximar ao máximo para, apenas depois, tentar fugir. Normalmente o nadador não sai ileso dessa situação, porém Martin torcia para que não precisasse tentar fugir da garota.

De maneira totalmente mecânica, girou a chave para abrir seu carro. Inevitavelmente, quando sua visão periférica captou a imagem da assassina do outro lado do veículo, sua retina estampou o corpo de Jerome estatelado e aberto sobre a cadeira. Aquela imagem o perseguiria durante muito tempo.

Entraram no carro em total silêncio simultaneamente. Mel sentou-se no banco do carona e ficou parada olhando para a frente esperando o homem dar a partida. Martin, por sua vez, ainda preocupado sem ter noção do real perigo, depositou suas mãos sobre o volante e demorou um tempo para colocar o motor para roncar.

Durante o primeiro minuto no interior do veículo, o único som audível era o do motor roncando e curtos assobios que percorriam a noite do lado de fora. Deixando de lado a preocupação, Martin forçou sua língua a modelar as palavras.

- Você poderia me explicar... - soltou levemente o ar para afastar o medo que sentia e controlar a fala que insistia em querer gaguejar. - o que está acontecendo? - fez uma manobra no volante para virar o carro a esquerda, seguindo Sarah no veículo a frente. As ruas estavam desertas com exceção dos dois.

A garota não respondeu de imediato, o que serviu apenas para agravar a tensão que Martin sentia.

- É tudo muito confuso... - com a visão periférica, o motorista pôde vê-la virar a face em sua direção. - Não sei se seria bom tentar te explicar tudo isso.

- Por favor... - Martin sussurrou inseguro.

A garota suspirou.

- Qual sua religião, Martin? - ela perguntou sucinta.

As sobrancelhas do homem se uniram estranhando a pergunta. Iria ter que ouvir um discurso religioso para poder acreditar no que ela lhe diria? Ou pior, teria ele que rever seus valores e noções de mundo naquele curto período que teriam até chegar a casa de Sarah? Limitou-se a engolir em seco antes de responder.

- Sou ateu.

A outra suspirou profundamente em resposta, como se não tivesse gostado do que ouvira. Mel teve que tentar realinhar sua linha de raciocínio para poder tentar explicar da maneira mais resumida possível a realidade distorcida dos fatos.

- Acredita ao menos em espíritos?

Aquela pergunta tocou Martin de uma maneira ainda mais profunda. Suas sobrancelhas nesse instante se ergueram repentinamente, como uma criança saltando a uma altura que nunca alcançara antes. A tensão apenas aumentava, fazendo com que o sangue pulsante em seu corpo se tornasse cada vez mais gélido e cortante.

- Acredita? - a garota insistiu ao não receber nenhum sinal de resposta.

Martin meneou a cabeça aleatoriamente, não respondendo nem um "sim", nem um "não". Mel tornou a suspirar profundamente, renovando o ar em seus pulmões.

- Eu, sinceramente, não entendi o que você quis dizer. - ela tornou a olhar para frente, na intenção de evitar reparar na reação desse. - Se acredita, menos mal. Se não acredita, acho bom pensar novamente sobre isso, porque você está conversando com um.

Mel terminou sua fala com um grito assustado quando o carro freou bruscamente. Martin em um movimento involuntário, pressionou o pedal do freio, fazendo o carro desacelerar a uma velocidade absurda. O carro de Sarah manteve seguindo o caminho e sumindo a segunda esquerda. A garota tentou esconder um sorriso após o passar do susto momentâneo.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now