Capítulo 26

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Os olhos de Kat estavam cerrados. Sonolentos demais para permanecem abertos. Sua respiração controlada. Os últimos vestígios do pesadelo se esvaiam entre as lembranças. Queria descansar. Sentia-se acabada, extremamente cansada do dia cansativo. Do horrível dia que tivera. A cena de Melanie morrendo à facadas pela outra Mel. Nada poderia passar por sua mente.

Dormir... Dormir...

Seu único desejo. A cena a sua frente, então, se tornou apenas um borrão. O completo breu era a única coisa aparente. Kat estava completamente inconsciente de tudo. Remexe-se na cama, acomodando seu corpo. Girou o pescoço ajeitando a cabeça sobre o travesseiro. O sonho estava prestes a começar, porém um barulho chamou sua atenção.

Abriu o olhar subitamente. As pupilas saltitaram de um lado para o outro procurando a fonte do barulho o qual parecia o arrastar de um móvel. Não encontrando nada levantou o tronco. Procurou algo. O quarto estava vazio, nem mesmo sua mãe se encontrava ali.

- Mamãe? - perguntou baixo. O medo vinha à tona novamente.

É um sonho? O pesadelo?

Kat se lembrou do motivo que a levara a dormir com a mãe.

- Não... Não pode ser. - seus olhos se encheram de lágrimas preocupada. - Esse pesadelo de novo não. - suspirou de maneira pesada.

O arrastar novamente ecoou pelo corredor fazendo a face de Kat virar instantaneamente na direção em que viera. Parecia vir de seu quarto. Pela sua mente passou a possibilidade de Sarah estar lá. Levantou-se delicadamente. Seu chinelo não estava ali, porém não deu atenção. Com os pequenos pés tocando o chão gélido caminhou em direção a seu quarto. Parou no corredor quando novamente o barulho ressoou. Fechou ambas as mãos e mordeu o lábio inferior. Arqueou a sobrancelha e continuou andando. Tinha certeza que havia algo no seu quarto. Para a garotinha era reconfortante pensar que sua mãe estava ali procurando algo. O seu chinelo talvez. Mas o pesadelo que acabara de passar por, não deixava seu pensamento ir a diante.

- Mamãe? - perguntou no mesmo segundo que pôs o rosto aparente na porta.

A cena, portanto, não era nada que passara pela mente de Kat. Teddy estava parado na janela. A face virada para a porta. Diretamente para Kat. A mesa do chá já não estava mais em frente a cama, arrastaram-na até a janela, permanecendo com as cadeiras em seus devidos lugares. O urso balançava lentamente seu corpo. De um lado para o outro. Ora tampando a lua atrás de si, deixando sua silhueta com um tom macabro. Ora saindo de sua direção, deixando sua face ainda mais escura.

- Teddy? - perguntou confusa. As lágrimas que surgiam em seu rosto desapareceram. - Sai da janela, é perigoso. Você pode cair. - o coração batia lento e forte em seu peito. Não compreendia exatamente o que era aquilo, mas algo não estava certo.

- Oi, Kat! - a voz do brinquedo estava diferente. Mais grossa.

- Teddy? - perguntou novamente, estranhando dessa vez o tom de voz.

- Oi, Kat! - fez uma pausa para balançar seu corpo. - Vamos brincar?

A garota deu um passo para trás junto com um ar que entrou fortemente em seus pulmões.

- Já está tarde. Sai da janela. Amanhã a gente brinca. - falou tudo de imediato na iminência de dar mais um passo para trás.

- Shh... Deixa disso. - gargalhou, também, de maneira estranha. - Sua boneca está no chão, debaixo da cama.

- Boneca? Você quer dizer a Dolly? - aquele não era o Teddy que Kat conhecia. Seu coração não parava. A respiração se acelerara.

O que está acontecendo?

- Sim, Kat. Você sabe. - a risada esquisita tomou conta novamente do quarto. - Pega ela. Vamos brincar.

Kat não ousava se mexer. Piscou compulsivamente para ver se algo mudava. Mais um sonho? Lembrou, então, de algo que via em muitos desenhos. Um beliscar com a unha poderia fazê-la acordar de um sonho. Sem pensar duas vezes o fez, porém em vão. Não funcionara? Ou talvez o pior: Aquilo não seria um sonho.

- Pegue a Dolly. - repetiu.

Sem outra alternativa, caminhou a passos lentos e cautelosos até a cama. Viu o cabelo da boneca aparente. Agachou-se para pegá-la a movimentos leves sem mexer-se de maneira brusca. Uma tentativa falha. Tudo que acontecera em seguida foi tão rápido. Não conseguiu analisar exatamente o que estava acontecendo.

A porta de seu armário atrás dela se abriu com um ímpeto movimento, empurrando as costas da garota de encontro a cama batendo a cabeça na beirada dessa. Antes que sua mão pudesse tocar a testa dolorida, uma mão anônima contornou seu corpo pondo um pano sobre sua boca. Em seguida outra mão a agarrou mais firmemente a barriga. Sentiu uma forte náusea devido ao odor do pano e a pressão exercida pela mão sobre seu abdômen. Sua visão começou a se tornar turva. As linhas distintas começaram a balançar e se misturar umas as outras.

Emitia gemidos que ficavam abafados. Remexia o corpo violentamente tentando se livrar das mãos que a seguravam. Seus pés pararam de tocar o chão. A pessoa que a segurava levantou-a. Kat chutou insistentemente o ar tentando ferir, atrapalhar, ou até mesmo se soltar daquele raptor.

- Pega a menina! - a voz do ser que a segurava falou em um tom baixo para alguém.

A garota não conseguia mais se mexer tanto. Suas forças sumiram rapidamente. O odor colocado em seu nariz era forte e contra a vontade de Kat a fazia querer dormir, aumentando seu cansaço, acabando com suas energias. Sentiu o estômago revirar quando outras duas mãos a seguraram pela cabeça. Não sabia exatamente se estava de cabeça para baixo ou era uma ilusão fruto do pano. Os olhos voltaram a se encher de água.

Logo as duas mãos anteriores a soltaram, deixando-a apenas com as outras duas. Inesperadamente, a gravidade surtiu um efeito arrebatador sobre o corpo de Kat. O pescoço da garota se soltou de tal modo que bateu fortemente na parte anterior do tronco, voltando na mesma intensidade para a posterior. Exatamente igual seu inicio, a gravidade parou.

Kat já não tinha mais consciência de nada. Seu corpo relaxado, completamente incapaz de se mexer. As pernas, braços e cabeça voltadas ao chão. Dois braços fortes a levaram até um carro. A porta se abriu e a garota foi devidamente depositada lá dentro.

- Ela já está inconsciente, doutora. - a voz masculina que fingia ser Teddy falou ao bater a porta do motorista.

- Perfeito! - a mulher que dividia o banco de trás da viatura com a garota falou contente.

A outra porta do carro se abriu e o outro homem entrou.

- George, podemos partir. - a mulher voltou a falar.

- Sim, doutora. - concordou e ligou o carro. O motor rangeu e com os pneus queimando o asfalto, foram em disparada até o local determinado.

- Oi, Kat, muito prazer em conhecê-la. - a mulher fez uma pausa.

No banco do carona, um dos homens iria intervi-la para dizer que a garota já não poderia ouvi-la, porém o que dirigia, cutucou-lhe fortemente com o braço o repreendendo.

- Já avisei a ela! - disse em um tom que seria inaudível ao banco de trás.

- Mas...

- Shh... - voltou a atenção para a pista.

A mulher ouviu a curta conversa dos dois e riu maliciosamente.

- Prazer, querida, eu sou a Dra. Shoes. - gargalhou enquanto acariciava os dedos por entre os fios de cabelo de Kat.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now