CAPÍTULO 23 - 2/2

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- Calma... Ainda não terminei. Tenho que falar rapidamente sobre o caso do Dr. Alan. - olhou em seu relógio de pulso sem abrir as mãos. Não gastara muito tempo, os minutos passavam exatamente da maneira que ele queria. - O corpo deve estar sendo cremado nesse instante. Seu corpo esfaqueado era horrível sobre a ponte, Srta. Forgent. Viu as imagens?

Sarah balançou a cabeça negativamente. Dona Célia atrás da filha se limitava a apenas escutar, permanecendo em um silêncio fúnebre. Repudiava com olhares o homem, que os percebia, mas não deixava se afetar por esses. Kat em seu quarto não emitia sons, mas Dona Célia podia imaginar o pranto abafado vindo e tocando seus tímpanos como alguém toca uma fina camada de gelo sobre um lago profundo.

- Aconselho a não vê-la. - suspirou fazendo uma pausa e colocando um sorriso malicioso no rosto. - Achamos em seu carro uma pasta. Nomes dos pacientes com algumas análises feitas por ele. Mandamos para uma de nossas melhores, senão a melhor psicóloga da delegacia. Ela deu uma folheada em especial na ficha de Kat...

Sarah mandou um olhar para Dona Célia. A mãe colocou um braço sobre o ombro da filha e apertou de leve tentando transmitir uma tranquilidade. Voltou a atenção ao delegado.

- Algum problema com isso? - o policial perguntou com um brilho no olhar.

- Nenhum. - mentiu de prontidão. Queria saber qual seria a próxima alegação deles em relação a sua filha. - Por favor, continue.

- Enfim... A psicóloga me explicou um pouco sobre isso. É uma certa doença mental.

- Ela sofre de esquizofrenia. Eu mesma lhe disse. - Sarah jogou rapidamente o fato. A paciência quando se tratava de Kat desaparecia em um piscar de olhos. Enquanto ela narrava os fatos sobre o parque estava tudo bem, era sua versão protegendo sua filha que reinava, agora tentavam jogar acusações diretas ao estado mental de Kat, e Sarah não admitia isso.

- Eu me lembro, Srta. Forgent. Encontramos isso na ficha de Dr. Alan sobre a menina. O que quero dizer é que analisamos novamente tudo o que fora colocado sobre sua filha. Queríamos ter certeza de que não havia nenhum erro, entende? - o policial argumentava com as mãos. - Ela me explicou que encontrou alguns erros de análise sobre a personalidade dela. Kat não sofreria de esquizofrenia, porém de um Transtorno de Múltipla Personalidade.

- Como? - a mão de Dona Célia limitou a filha a não tomar nenhuma atitude errada. Sabia que Sarah tinha um temperamento explosivo quando falavam sobre Kat, principalmente sobre o seu estado mental. Ouvir uma afirmação daquelas, depois de cinco anos cuidando da esquizofrenia de sua filha, era inadmissível para Sarah.

- Transtorno de Múltipla Personalidade. Mel... Pelo que achamos na ficha de Dr. Alan, seria algo que Kat vê, fruto da esquizofrenia. Foi uma análise de fatos errada. Seria uma outra pessoa que Kat se torna, porém não tem noção do fato. Compreende o que quero dizer? - as palavras que saiam da boca do delegado chegava aos ouvidos indignados de Sarah e eram devorados ferozmente.

Eles não estão acusando Dr. Alan de ter errado o diagnóstico de Kat. Não estão dizendo que minha filha se transforma nesse espírito demoníaco da Mel. Não estão! Não estão!

- Mas... - Sarah iria discordar. Seus punhos se cerraram brutalmente. Sentia sua cabeça quente e podia saber que estava vermelha de raiva sem nem precisar ver seu reflexo. Tinha fortes argumentos contra, no entanto, Dona Célia falara algo baixo próximo de seu ouvido.

- Apenas concorde...

Sarah suspirou, tentando com muita dificuldade esconder a raiva.

- Entendo... - concordou, então, com o policial, mas sua indignação ficara estampada na palavra isolada.

Delegado Rhodes abriu a mão que permanecia fechada escondendo o objeto em seu interior, trazendo-o à mostra. Um pequeno cartão branco com letras prateadas.

- Sra. Forgent, esse é o cartão de contato à Dra. Shoes, nossa psicóloga, da qual lhe falei sobre. - colocou-o na mão da mulher. - Acho que, talvez, seria bom Kat ter uma conversa com ela. Entre em contato.

Sarah analisou. Era um belo cartão. Esteticamente bem estruturado, contudo não naquele contexto. Kat não precisava de outro diagnóstico, muito menos feito por pessoas que querem-na como uma assassina.

- Obrigada, Delegado Rhodes. Tentarei falar com ela. - guardou o cartão em seu bolso, amassando às escondidas dos olhos do policial.

- Muito bem. Não irá se arrepender. - falou e em seguida se levantou do sofá. Esticou o paletó que subira-lhe a barriga, ajeitando e se sentindo mais elegante. Sarah e Dona Célia olharam para a atitude com desprezo.

- É o que espero. - usou da mesma tonalidade de ironia que o delegado usara na conversa. Estava aliviada que aquele homem iria finalmente sair de sua casa. Levantou-se também em um movimento enérgico e exibindo um sorriso cínico no rosto.

Dona Célia também se levantara. Os três permaneceram calados. Esperavam pela deixa do outro. Como ninguém agia, o delegado se adiantou.

- Bem, Srta. Forgent, já vim falar o que deveria. Muito obrigado pelo relato, nos ajudará muito. - esticou o braço e se despediram.

- Obrigado pela indicação da Dra... - tirou o cartão amassado do bolso e o abriu rapidamente. Leu o nome da psicóloga nesse. - Shoes.

- Por nada. Prazer em conhecê-la, Sra. Forgent. - dirigiu-se à Dona Célia.

- O prazer foi meu. - mentiu. Sentia um grande alívio ao ver que ele iria embora. Era repugnante a presença dele em sua casa.

Andaram até a porta e pararam, esperando que o carro se retirasse. A imagem do Delegado Rhodes, sentado no banco do motorista. tirou um cigarro do maço e o acendeu. Prendeu o cigarro na boca semi-aberta. Baforava a fumaça pelo nariz enquanto dirigia para seu destino.

- Um policial educado? - Dona Célia perguntou irônica. A cabeça balançava negativamente. Respirava como se acabasse de sair de dentro da água após longos 30 segundos. Era tão confortável respirar ar puro.

- Um amor de pessoa ele, não? - Sarah brincou, mas no fundo estava preocupada. Eles estavam indo a fundo em relação a elas. Kat era o foco deles naquele momento. Colocou a mão no bolso e sentiu o cartão ali dentro. Tirou-o e abriu, relendo as letras prateadas.

Dona Célia olhou para o objeto que sua filha segurava.

- O que vai fazer com isso?

Sarah pensou. Estava receosa em ligar para a outra psicóloga. Não acreditava que Dr. Alan pudesse tirar conclusões erradas sobre a situação mental de sua filha. Não, ela sabia que ele não feito um diagnóstico errado. A polícia estava tentando transformar os fatos para facilitar o trabalho deles. Ela tinha certeza disso. Não ligaria para a psicóloga em hipótese alguma.

Não vou dar provas para que eles levem minha filha!

- O lixo continua do lado da pia, mãe? - Sarah falou já sabendo a resposta e riu, escondendo o nervosismo. Dona Célia riu também e as duas entraram em casa.

Vamos Brincar, Kat?Where stories live. Discover now