Capítulo 1 - Seja legal

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Faltava pouco mais de duas semanas para a chegada do verão quando Marjorie Summers se mudou para a casa ao lado.

Antes dela, aquela casa pertencia a uma senhora e mais 12 gatos, que por algum motivo, sempre que me via me cumprimentava com um "Olá, Steve querido, bom dia", mesmo que meu nome não seja Steve e eu não trocasse mais de duas palavras com ela por dia.

Agora eu observava o jardim da casa pela janela da cozinha, meus braços apoiados no balcão e a cabeça deitada neles como se estivesse na aula de história, escutando minha mãe repetir suas frases várias vezes.

Bufei como uma adolescente de 12 anos enquanto levantava a cabeça para encarar minha mãe com um olhar que dizia exatamente algo como "você não pode estar falando sério". Eu ainda não tinha entendido porque ela continuava tentando me forçar a fazer amizade com os filhos dos vizinhos, porque acredite em mim, ela já havia tentando várias vezes antes e nunca tinha dado certo.

Mas pensei que ela tinha desistido depois da última "confraternização da vizinhança" - o que era uma ótima situação para minha mãe me aproximar dos filhos chatos dos seus amigos chatos. Fazia uns 8 anos e tudo o que posso falar é que não acabou nada bem.

- Você podia tentar, tem que fazer novas amizades, Finn, tem mesmo - Repetiu, olhando para mim com a testa franzida. - Não gosto daqueles dois.

E quando ela dizia "Aqueles dois" ela estava falando de Noelle Davis e Arwin Asthrowick, a quem minha mãe chamava carinhosamente de "Naomi e Aaron", porque ela tinha algo bem forte contra os dois e não se importava em realmente aprender seus nomes.

Noelle e Arwin não eram pessoas ruins. Principalmente Noelle. Ela só não os conhecia direito, e além do mais, eram bem verdadeiros - o que assustava pessoas como minha mãe, eu acho, que estão muito acostumadas com a falsa simpatia de todo mundo. Tudo bem que eu entendia que na maioria das vezes, os dois eram rudes, barulhentos e falavam as coisas mais inapropriadas possíveis.

Mesmo assim, eu ainda preferia ter uma amizade leal e sincera com Hannibal Lecter do que ter que forçar simpatia com as pessoas que minha mãe gostaria que eu fizesse amizade. A maioria era incrivelmente inteligente, "pronta para Harvard" e realmente dedicada. E eu, bom, eu era eu.

- Você nem a conhece. Quais são as chances de ela ser uma pessoa ruim?

- Não estou falando que ela é uma pessoa ruim - Respondi, dando de ombros. - Só estou dizendo que não quero ser seu amigo.

- Ela está doente, Finn. É por isso que se mudaram para cá. Nova Iorque era muito poluído, eu acho - Ela continuou falando sobre a conversa que tivera com Amy no mercado, a vizinha nova, mas eu já tinha escutado e não queria ter que ouvir tudo de novo. - Ela está morrendo, realmente deve estar precisando de um amigo.

- Trágico - Eu disse, meu tom de voz tão entediado que eu mesmo fiquei surpreso com o quão chato eu podia ser.

Eu definitivamente não ia fazer amizade com alguém só porque ele está doente e eu preciso ser sua salvação antes que ele morra sem nunca ter tido uma amizade de verdade ou qualquer coisa do tipo. Nem que minha mãe me contasse essa história trágica mil vezes e que Nicholas Sparks fizesse um livro sobre ela.

Minha mãe suspirou, exausta, como se estivesse tentando explicar uma equação bem difícil para uma criança de 4 anos, e estava começando a desistir. Ela olhou para mim, pensativa, e eu só olhei de volta porque ela sabia que eu não ia ceder tão fácil.

Mas eu também sabia que no final eu ia fazer exatamente o que minha mãe queria: mesmo que eu tivesse certeza que não daria certo. Ela só ficaria me olhando e me faria me sentir culpado por não fazer o que ela pediu.

Olhei para ela mais uma vez e fechei os olhos, revirando-os mentalmente (Arwin e Noelle ficavam me chamando de "garota gótica dos anos 90" quando eu revirava os olhos então eu estava tentando parar). Ela só sorriu animada e veio até mim, me abraçando, um pouco mais séria do que queria demonstrar.

- O nome dela é Marjorie. Seja legal.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now