Capítulo 10 - A noite em que fugimos

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 É estranho sair de casa no meio da noite. Tão estranho quanto aquela vez em que olhei pela janela e vi Marjorie sentada no quintal, e decidi sair e descobrir o que estava acontecendo. Talvez seja pelo fato do céu estar mais escuro e a rua estar tão silenciosa, mas parece errado.

 Bom, é claro que parece errado, era errado. Nós estávamos fugindo para Nova Iorque no meio da noite, afinal! Eu mal podia acreditar que realmente estava fazendo aquilo, primeiro que eu realmente pensei que aquele plano iria falhar e que a Marjorie só estava muito louca de pensar que daria certo. Segundo que ainda havia muitas, muitas chances de aquilo tudo dar errado.

 Estávamos só começando.

 Escondi a minha mochila em baixo da cama e sentei, esperando. Ainda eram 2:40 da manhã, e tinha combinado com Marjorie de encontrá-la as 3:00. Ela disse em um tom de voz risonho que daria um sinal para quando fosse o momento certo de eu descer as escadas e sair de casa, e eu só esperava ver alguma luz saindo da janela do quarto dela ou algo do tipo.

 Eu com certeza não esperava que ela fosse imitar um pássaro louco no quintal, bem em baixo da minha janela.

 Agarrei o que precisava e sai correndo do jeito mais silencioso que pude, descendo as escadas de meias, os sapatos em uma mão, a mochila na outra. Fuçei as gavetas e achei um bilhete que havia escrito logo de manhã e o prendi na geladeira com um imã em forma de maçã.

             "NÃO SE PREOCUPE. EU ESTOU BEM. VOLTAREI LOGO. VOU LIGAR. NÃO ME MATE.

                                                                                                                                                                     - FINN"

 Com certeza minha mãe iria se preocupar, pensaria que eu não estou bem e iria me ligar só para avisar que ela vai sim me matar quando eu voltar, mas pelo menos eu não tinha fugido sem deixar nenhum bilhete. Ela pensaria que a máfia italiana me sequestrara, como fez da outra vez (mas essa é uma história para outro momento).

 Fechei a porta e tranquei com minha chave, enfiando-a no bolso da mochila, e me virei para Marjorie com um olhar de puro horror no rosto.

– Santa Maria Mãe de Deus – Eu exclamei, soando extremamente religioso. – De onde saiu esse som?

– Que som? – Perguntou confusa. – Ah, esse? – Ela repetiu e eu arregalei os olhos, apertando meus dedos contra seus lábios. Ela começou a rir.

– Estamos numa missão secreta e esse é seu chamado? – Reclamei.

– Sim. Eu chamo de "A águia discreta".

– Sério? Eu chamo de "Pterodáctilo com cãibra".

 Ela revirou os olhos, embora estivesse rindo, e me puxou pela alça da mochila, andando em direção à rua.

– Engraçado, Johnston – Marjorie continuou falando sobre como estava animada com tudo aquilo enquanto andávamos para a estação.

 Olhei para minha casa uma última vez antes de continuar andando, olhando para frente. Todas as luzes estavam apagadas agora. A porta fechada, o quintal da frente silencioso, como o resto da rua. A cena inteira parecia tão normal quanto todas as outras noites, e eu me perguntei o que aconteceria amanhã, quando o sol nascesse e as pessoas acordassem.

 Ninguém ali iria notar que duas crianças saíram do bairro em direção à Nova Iorque. Em busca de uma grande aventura.

 Exceto minha mãe, que provavelmente iria parir algum órgão vital. O que ela pensaria? Bom, não que ela fosse realmente estranhar eu acordar tarde. Então ela iria até meu quarto, e ela veria meu quarto vazio, o lençol esticado sobre a cama. E então ela correria até a cozinha e agarraria o bilhete escrito em um post it verde florescente que ela não percebera a primeira vez que desceu para tomar café naquele dia.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now