Capítulo 2 - A garota dos olhos castanhos

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Meu nome é Finn Johnston. Eu tenho 16 anos, fazendo 17 daqui dois meses. Moro em Hudson, Ohio. Isso é tudo. Acho que já dá para ter uma noção do quão emocionante é minha vida só com essas linhas.

Nada acontece por aqui. É claro que poderia ser pior - eu moro há 45 minutos de Cleveland, que é bem legal - mesmo assim não é como se fosse uma cidade com muitas opções de hobbies. Nossa rotina - ou pelo menos a minha - se baseia geralmente em acordar, ir para a escola, voltar da escola e ficar apodrecendo no meu quarto. Se um dia eu me transformasse em uma partícula de mofo entre a mobília e a tinta levemente descascada, eu provavelmente pensaria "Uau, legal. Finalmente algo diferente acontecendo".

Alguns - e eu não estava incluído - preferiam tentar esse negócio de ser saudável e coisas do tipo, então passavam a tarde num parque perto da escola andando sobre qualquer coisa que tenha rodas ou se agarrando com alguém pelos cantos. Mas a maioria preferia o primeiro plano, de ficar desejando uma morte rápida e indolor dentro de casa.

Mas é claro que as coisas nunca irão funcionar como você pensava. Eu já tinha planejado passar metade da minha vida do mesmo jeito que tinha passado os últimos anos, mas como o universo não me dá permissão de estar certo - nem mesmo uma vez - alguém tinha que aparecer naquele verão e mudar tudo completamente.

Marjorie não era uma ruim, como minha já tinha dito - não que eu pensasse que ela era, de qualquer jeito. Só queria continuar com meu trabalho de sempre discordar das coisas, e tudo mais. Na verdade, ela era bem legal.

Descobri que não precisava realmente falar tanto quanto achei que deveria, porque ela podia falar por nós dois. No começo só falava sobre como era em Nova Iorque, como ela achava que lá era o paraíso - o paraíso mais lotado e poluído que existe, provavelmente, mas parecia incrível do ponto de vista dela.

Então falava sobre como era ter que vir para cá, e o quão morta ela se sentia só de olhar para os vizinhos e seus sorrisos falsos, parecendo manequins de lojas de classe média-alta. E eu ri, porque foi engraçado, e era engraçado porque eu achava a mesma coisa.

Ela era o tipo de pessoa que parece incrivelmente normal, nada demais na aparência que indique que ela tenha algo de especial. Tinha cabelos castanhos, olhos castanhos, não era nem muito alta nem muito baixa. Tinha uma postura normal e usava roupas normais. Supostamente, nada nela deveria chamar atenção.

Mas por algum motivo, chamava.

Mesmo que eu me sentisse um completo hipócrita por ter reclamado tanto sobre falar com Marjorie e depois achar que ela era uma pessoa bem legal, ainda tinha algo nela que me deixava incrivelmente desconfortável.

Talvez fosse o jeito como ela falava tudo com um sorriso no rosto e sua voz calma, como se estivesse tentando ser amigável demais antes de te contar uma notícia ruim.

Eu só esperava que ela não fosse a notícia ruim.

X

Era um pouco estranho andar com alguém novo pelos corredores da escola, porque a maioria das pessoas que estudavam ali frequentavam desde pequenos, e todo mundo meio que já se conhecia. Andar com alguém novo chamava tanta atenção quanto aparecer na escola vestindo nada além de uma gravata e um chapéu coco. E não me pergunte o porquê da comparação.

- Você tem outros amigos? - Ela perguntou enquanto andávamos pelo corredor.

Olhei para ela meio torto, um pouco indignado.

- Tenho.

- Oh - Ela parecia surpresa, então começou a rir. - Não me leve a mal, não queria ofender. Foi só uma pergunta.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now