Capítulo 12 - Diferenças e Desavenças

1.2K 203 28
                                    


 Na manhã seguinte, quando fui acordado por Marjorie pulando em cima de mim – quase esqueci que estava dormindo num trailer, junto com ela e com um cara que mal conhecia chamado Chuck.

 Esfreguei os olhos tentando focar a visão e consegui vê-la bem na minha frente, como eu nunca tinha visto antes. Não, não é nada emotivo ou apaixonante ou nada do tipo: eu só nunca tinha visto Marjorie logo que ela acorda.

 Tudo bem que ela nunca fora a pessoa mais vaidosa do mundo, não que eu ligasse para aquilo – ela andava sempre com os cabelos castanhos bagunçados, e eu sabia que ela sabia disso, e sabia também que as pessoas percebiam. Costumava dizer que o único motivo de ninguém fazer piadinhas sobre como ela é porque todos sabiam da sua doença, e é meio que proibido fazer piadinhas com crianças doentes.

 De qualquer jeito, ela estava parada na minha frente com os cabelos castanhos amarrados no alto da cabeça, os olhos fundos, o rosto meio sem cor. Parecia mais cansada do que antes, e eu me perguntei se ela realmente estava tão bem quanto dizia estar. Quero dizer, é claro que ninguém se parece com a Beyoncé quando acaba de acordar – mas ela não parecia bem, simplesmente.

 Por um momento, pensei no que ela tinha me dito antes – sobre as pessoas a tratarem de um modo diferente por estar morrendo, e como ela não gostava disso – e digo não gostava porque sinto que odiar é uma palavra forte demais e que Marjorie Summers simplesmente não sente ódio pelas coisas. Então resolvi trata-la normalmente, do mesmo jeito que eu faria com Arwin e Noelle.

 E todo mundo sabe que eu não sou a pessoa mais simpática do mundo com Arwin e Noelle.

– Bom dia, Chuck – Gritei para o lado de fora, onde ele arrumava alguma coisa nos pneus. Então me virei para ela e sorri o mais simpático que pude. – Bom dia, Mun Há!

- Hahaha – Ela riu, ironicamente, estreitando os olhos. – Você também não é a pessoa mais bonita acordando, Finn Johnston!

– Eu sou sim, sempre durmo na casa da Noelle e Arwin diz que sou extremamente sensual quando acabo de acordar! – Brinquei.

 Ela se levantou, olhando para mim.

– É claro, aliás, eu não sei quem é mais caliente... você ou Arwin. Dois pedaços de mau caminho!

 Me senti um pouquinho ofendido com o sarcasmo evidente na voz dela, não vou mentir – mas se ela tinha aceitado a brincadeira numa boa, quem era eu para reclamar, certo?

– Você me quer, eu sei disso – Coloquei um dedo na boca, ridiculamente, me esforçando para não rir da sua cara meio-horrorizada-meio-interessada.

– Patético! – Ela virou-se, rindo.

 Olhei em volta, para os lençóis – era melhor começar a recolher tudo aquilo, pelo que eu sabia, já tínhamos saído de Ohio e agora iríamos pegar um ônibus para encontrar outra amiga de Marjorie, que nos levaria até algum lugar.

 Ela e eu dobramos os lençóis e tentamos ajudar Chuck com o máximo de coisas que ele precisava, mas não pudemos fazer muita coisa já que tínhamos medo de mexer nas suas máquinas super tecnológicas e estragar alguma coisa.

 Não queria admitir, mas quando tudo aquilo acabasse e quando voltássemos para Ohio – se minha mãe não me matasse, é claro – eu sentiria falta de tudo aquilo. Sentiria falta da sensação de fugir no meio da noite com Marjorie, e de dormir em um trailer junto com um caçador de aliens.

 Eu odiava o fato de que as vezes parecia que eu simplesmente não conseguia aproveitar nada sem pensar em como eu sentiria falta de tudo aquilo depois. Talvez fosse isso que mais apreciava em Marjorie – ela parecia não se importar com o depois, como se tentasse viver o momento ao máximo e isso fosse tudo que importasse par ela.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now