Capítulo 5 - Fósforos

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Não era fácil voltar para a escola na segunda-feira, depois de passar um fim de semana conversando sobre coisas mais interessantes que equações e teorias que eu nunca entenderia. Eu imaginava como seria voltar para a escola depois do verão, como todo ano - depois que você já se acostumou a ficar em casa e fazer absolutamente nada.

Sei que Noelle sempre reclamava que eu era dramático demais - mas a dor de ter que voltar a Hudson High School naquele dia era equivalente a levar umas facadas. Me arrastei para fora da cama, então me arrastei até o banheiro e a cozinha e, finalmente, me arrastei até a calçada em frente à minha casa, onde Marjorie me esperava em pé.

- Bom dia - Disse Marjorie, e eu tentei responder, mas o que saiu da minha boca parecia mais um grunhido indecifrável. - Oh, uau. Já está treinando para ser um figurante de The Walking Dead?

- Cala a boca - Resmunguei, colocando a mochila nas costas enquanto começava a andar, minha postura lembrando vergonhosamente a de um zumbi. - Você já mudou de ideia sobre Nova Iorque e tudo aquilo?

- Não. The Plain Stalkers foram confirmados no festival ontem à noite e eu estou literalmente morrendo de vontade de subir no palco e tirar a roupa de Zack Feathers ali mesmo.

Zack Feathers era o vocalista dos The Plain Stalkers que tinha uma voz tão chorosa que, quando cantava, você não conseguia realmente entender o que a letra dizia. Não era uma banda ruim, mas tudo parecia absurdamente superficial sobre eles.

Marjorie continuou falando sobre suas músicas favoritas da banda e por algum motivo eu sentia a necessidade de discordar de tudo que ela dizia. Era engraçado vê-la arregalar os olhos e olhar para mim como se eu tivesse feito algo absurdo toda vez que eu falava que preferia The Cherry Saints.

- The Cherry Saints é, tipo, a banda mais pretensiosa que eu já ouvi.

- E The Plain Stalkers é a banda mais superficial que eu já ouvi - Respondi. - Suas letras não significam nada.

- Elas não têm que significar nada, Finn. E olha que sou eu quem está sempre tentando encontrar um significado poético e metafórico para tudo dizendo isso!

É verdade: Se Marjorie Summers dizia que algo era pretensioso demais, então aquilo realmente era, porque para que ela admitisse aquilo devia ser mais pretensioso que ela, o que já era difícil.

E continuamos nossa discussão - que não era realmente uma discussão, mas mesmo assim era divertido - sobre qual das duas bandas era melhor. A verdade é que as duas bandas eram péssimas, mas mesmo assim era legal poder realmente conversar com ela sobre coisas simples.

Não era como se eu precisasse pensar sobre o significado da vida e do universo, e sobre como dentes-de-leão simbolizam pensamentos. Não que eu achasse isso ruim, na verdade toda essa conversa fazia Marjorie parecer incrivelmente sábia - e eu, incrivelmente burro.

- Então chega, não vamos mais discutir - Ela decidiu, colocando as mãos para o alto como se estivesse se rendendo, assim que entramos na escola. - Você prefere The Cherry Saints e eu The Plain Stalkers. Não é um problema tão grande. Não vai afetar nossa relação no futuro.

- Claro que não - Falei. - Ainda vamos nos casar, nos mudar para a Flórida e ser padrinhos dos filhos da Noelle e do Arwin.

- Sim, e nós podemos ter cachorros no lugar de crianças - Eu ri, concordando com a cabeça.

- Mas vamos tratá-los como crianças de verdade, com os sapatinhos enfeitados e carrinhos-de-bebê.

A imagem de um cachorro vestindo roupas de bebê dentro de um carrinho na Flórida infestaram minha mente como se fosse uma imagem que alguma tia minha compartilharia no facebook, me desejando um bom dia.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now