Capítulo 4 - Coleções

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 Minha mãe não ficou quieta um segundo durante o jantar, enquanto Marjorie só tentava sorrir e responder a todas as perguntas ao mesmo tempo, embora minha mãe sempre falasse um pouco rápido demais para compreender.

 Ela continuava tentando fazer com que Marjorie comesse mais um pedaço de pudim quando eu tirei meu telefone de dentro do bolso da minha calça jeans e o liguei por baixo da mesa, ouvindo o barulho engraçado que ele fazia quando chegava uma mensagem nova. Minha mãe não ligava se eu estivesse mandando mensagens enquanto comia, mas de qualquer jeito, ela estava concentrada demais enchendo o saco da Marjorie para olhar o que eu estava fazendo.

"vmos no cinema hoje assistir 1 filme ruim???"

 Eu não precisava ler para saber que era uma mensagem do Arwin, porque ele era a única pessoa que escrevia tão mal assim – mesmo por mensagem – e eu tinha que escutar todo dia Noelle fazendo piadas sobre o quão idiota ele é por causa disso.

"não posso, marjorie está aqui"

Enviei, alguns segundos depois recebi mais uma.

"ja esta na sua casa??? Safadinhos"

 Olhei para cima como se estivesse em um programa de pegadinhas e tivesse uma câmera escondida no teto, segurando a vontade de revirar os olhos. Aliás, não sabia o que tinha de tão ruim em revirar os olhos – era uma mania que eu tinha pego de algum lugar e ficara comigo para sempre, mas por algum motivo, as pessoas achavam irritante e, por algum motivo, eu me importava o bastante para tentar parar.

"QUER DIZER QUE MARJORIE ESTÁ COM VOCÊ. NA. SUA. CASA"

Li a mensagem e já sabia que era de Noelle, porque era ela quem sempre escrevia em caps lock – mesmo que seja a mensagem mais entediante que ela pudesse escrever. E também tinha esse negócio de dar várias pausas nas palavras TIPO. ASSIM, para dar ênfase.

Gostava de pensar que era mania dela por gostar tanto de poesia, mas fazia ela parecer uma garota de 12 anos animada.

Não respondi a mensagem, só enfiei meu celular no bolso de novo e voltei minha atenção para o que acontecia ao meu redor, você sabe, no mundo real. Marjorie ainda estava educadamente tentando recusar um terceiro pedaço de pudim e minha mãe ainda estava insistindo.

– Okay, mãe, chega de pudim – Eu levantei e tirei a espátula da mão dela, e ela pareceu seriamente decepcionada com a minha ação. – Marjorie não quer mais pudim. Chega de pudim.

– Não me faça parecer uma louca – Minha mãe resmungou, tirando os pratos com a ajuda de Marjorie. – Todo mundo adora meu pudim.

– Claro, mãe. Claro.

 Marjorie sorriu para mim e agradeceu a minha mãe mais uma vez por deixá-la ficar, eentão subimos as escadas para o meu quarto – o que era estranho porque minhamãe nem ligou se ela iria subir comigo ou não. Geralmente ela fazia cara feiaaté quando Noelle ficava comigo e com Arwin no quarto, mas talvez fosse porque ela realmente não gostava nem um pouco dos dois. Além disso, eu nem sabia o que fazer no meu quarto – não era um lugar tão interessante, afinal, mas era silencioso, pelo menos.

 Paramos em frente à porta branca no fim do pequeno corredor e abri, fazendo um gesto para que ela entrasse primeiro. Primeiro me preocupei já que nem lembrava se meu quarto estava bagunçado ou não, mas quando entrei notei que não era tão ruim.

 Quer dizer, tinha algumas roupas jogadas e a cama estava desarrumada, como sempre. A mesa do computador era uma bagunça de fios e diferentes papéis, mas nada demais. Além disso, meu quarto nunca tinha ficado mais limpo que isso.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now