Capítulo 17 - Quanto mais perdidos, melhor

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 Você já sentiu como se pudesse fazer qualquer coisa? Como se fosse invencível e nada no universo pudesse te parar? Pois é, eu já. Depois do meu pequeno momento especial com Marjorie, nós corremos.

 Nós corremos, e corremos, e não paramos de correr nem quando ouvimos pessoas correndo atrás da gente. Passamos rapidamente pelos portões, mostramos as pulseirinhas gastas e sem cor que usavamos descaradamente nos pulsos e saímos correndo novamente. Não paramos quando nós ouvimos alguém gritando "Ei, espere! Segurem esses dois!", como uma voz fraca levada pelo vento atrás da gente enquanto fugíamos como criminosos. Eu não olhei para trás, Marjorie estava correndo bem do meu lado, respirando com dificuldade.

 Marjorie e eu entramos no meio da multidão, que embora ainda estivesse dispersa, já que era o primeiro show, ainda era uma multidão. Tentamos nos esquivar das pessoas e acabamos dando mais cotoveladas e tapas acidentais do que queríamos, em pelo menos umas 10 pessoas, mas só paramos de correr quando Marjorie tocou meu ombro firmemente e olhou para mim como se seus pulmões estivessem implorando por ar.

Considerando a situação – até então não percebida – dos meus, presumi que ela estava mal. Tínhamos nos infiltrado bastante no meio da platéia, e agora parecíamos estar no meio de um mar de gente suada e espremida. Exatamente como eu planejava passar as minhas férias. Tirei a mochila de suas costas e peguei uma garrafa com um pouco de água. Só tinha um restinho, mas era melhor que nada.

– Estou bem – Marjorie garantiu, com a voz ofegante e o rosto vermelho. – Só preciso de uns minutinhos.

Tentei não ficar preocupado, mas era difícil estando na companhia de Marjorie. Sabia que ela não gostava que as pessoas tratassem ela como se fosse de vidro – um erro que praticamente todo mundo cometia, pelo menos uma vez – mas não podia deixar de pensar o quão seguro aquele lugar realmente era para ela. Não sabia muito bem de seus sintomas, ou do que podia acontecer, ou o que fazer se algo acontecesse – mas tinha a certeza de que uma multidão de gente agitada e apertada não era o lugar ideal para buscar ajuda se a situação ficasse ruim. Além disso, eles estavam ali de penetra, deviam chamar o mínimo de atenção possível, embora ele duvidasse que os seguranças que estavam atrás deles há poucos minutos lembrariam de seus rostos no meio de tanta gente.

– Você se lembra do plano? – Perguntei, e ela fez uma careta antes de apontar para os ouvidos. Me aproximei mais dela, seu cabelo fazendo cócegas no meu rosto, e repeti a pergunta, um pouco mais alto do que esperava. Ela deu de ombros.

– Nós estamos dentro, Finn! – Ela falou, alto o bastante para que eu ouvisse, um sorriso no rosto avermelhado que eu não conseguia explicar muito bem. – Não temos que fazer nada agora, só esperar o The Plain Stalkers subir no palco e ver se encontramos com o Andy por aí! 

Parecia errado não ter um plano. Embora eu tivesse passado essa viagem toda sem saber o que estavámos fazendo exatamente ou qual era nosso próximo truque, sempre tive a certeza de que Marjorie estava no controle e, de um jeito ou de outro, ela sabia o que fazer. É como deixar a vida te levar: você tem um certo receio, mas no final sabe que vai entrar no caminho certo de algum jeito. Marjorie era a vida e eu era um adolescente despreocupado que deixava que ela arrastasse para onde bem entendesse. Talvez eu não devesse estar tão preocupado, mas não ter um plano me deixava nervoso e um pouco desconfortável. Eu tentei esquecer. 

– Você tem certeza de que está bem? – Perguntei, mas, se ela escutou, preferiu não responder.

– Caramba, quem é que está tocando? – Ela perguntou, mudando de assunto, tentando ficar na ponta dos pés para ver o palco - uma tentativa em vão. Eu era mais alto e ainda assim mal conseguia enxergar o topo da cabeça dos músicos. 

Marjorie e os 12 PorquêsNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ