Capítulo 3 - Dente-de-leão

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O folclore tem uma maneira interessante de determinar se você é ou não amado. Em vez de arrancar as pétalas de uma flor qualquer, você pode assoprar um dente de leão. Dizem que se você conseguir tirar todas as sementes com só um sopro, então alguém está realmente apaixonado por você. Se algumas sementes permanecem, a sua pessoa tem alguns problemas sobre o relacionamento. Se um monte de sementes permanece, então você não é amado, nem um pouco, em lugar nenhum do mundo.

Isso é uma das coisas que aprendi enquanto estava dando umas voltas no parque com Marjorie. Ela parecia realmente entretida na sua missão de coletar os dentes-de-leão mais bonitos e inteiros que conseguia encontrar, segurando-os em uma mão enquanto sorria e falava coisas aleatórias. Às vezes eu não escutava ou simplesmente não conseguia acompanhar, mas tentava prestar atenção.

- Também dizem que quando você assopra um dente de leão, seus pensamentos flutuam junto com as sementes - Ela comentou, contando as flores que já tinha.

- O que isso quer dizer?

Ela deu de ombros, como se não soubesse a resposta ou simplesmente não se importasse em responder. Metade das coisas que ela falava eu não entendia, ou tinha preguiça demais para tentar entender. Tudo parecia um pouco difícil demais e bonito demais, e não era assim que eu via as coisas.

Por exemplo, ela podia olhar para o céu, ver uma nuvem e ficaria completamente louca, seus olhos fixos, admirados. "Uau, isso é incrível, você não acha, Finn? ". Não, nem um pouco. Eu olharia para aquela mesma nuvem e não veria nada além de uma mancha branca num fundo azul.

Era como se ela visse algo extraordinário onde eu nem mesmo presto atenção por mais de um segundo.

Não falei nada. Nesse tempo que passamos, tínhamos conversado mais sobre coisas bobas como escola, e sobre como funcionava, e sobre como seria quando as coisas voltassem ao normal depois do verão. Falamos sobre os vizinhos, e eu a contei sobre a velha que morava na casa do lado, antes delas se mudarem.

Também não sabia nada sobre dentes de leão. E não sabia que porque eu precisaria saber disso, de qualquer jeito. A única coisa que eu tinha é que, aparentemente, chá de dente-de-leão fazia "maravilhas para o seu fígado", como eu ouvi uma vez uma tia dizer, mas achei que não era o momento certo para dar essa informação, então fiquei quieto.

- Qual é a dos seus amigos? - Ela perguntou, de repente, mudando completamente sua expressão. - Eles são um casal ou algo do tipo?

Eu ri, e acho que era a primeira vez que eu fazia isso em horas. Aquele dia estava sendo estranho e ansioso, e além de ela ter dito aquilo de um jeito engraçado, eu estava feliz que finalmente o silêncio tinha sido quebrado, e não por algo filosófico ou poético - algo que eu realmente poderia responder.

- Não. Ainda não - Olhei para ela. - Mas vão ser.

Ela balançou sua cabeça como se concordasse. - Eles parecem um casal. Aqueles casais de filme que começam como amigos, só sabem brigar e discutir, mas no final sempre acabam juntos, mesmo que seja meio óbvio.

- Sim! É exatamente assim! - Exclamei. - Mas se você tenta dizer isso para eles, você apanha. Eles são tão clichês.

- Clichês não são tão ruins - Ela deu de ombros. - As pessoas gostam desse tipo de coisa por um motivo.

Não respondi nada, mas tudo bem, porque não parecia realmente que ela esperava uma resposta. Ela estava sentada na grama, e eu estava de pé - e então chegou um momento onde aquilo ficou estranho então eu também sentei.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now