Capítulo 14 - Os Extraordinários Contadores de Histórias chegam a Nova Iorque

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 Depois de encher a barriga de biscoitos, Susan apareceu na sala com outro visual digno de aparecer naqueles programas sobre moda da Discovery Home and Health, com seu jeans bordado de rosas amarelas para combinar com a flor no cabelo e sua blusa estampada de oncinha.

 Ela nos empurrou até a garagem que ficava atrás da casa e nos mostrou seu carro. Olhei para Marjorie sem acreditar, mas essa mordia o lábio inferior tentando não rir.

 Vou tentar te ajudar a ter uma ideia sobre o carro de Susan. Imagine que a Barbie dirige um fusca. Pronto.

 Na frente dos meus olhos, o fusca mais cor de rosa que eu já tinha visto parava na luz do sol e eu pude jurar que era da mesma cor metálica do batom horrível de Susan. Por dentro, acredite, as coisas ficam ainda mais estranhas. O carro era estampado por zebras. Tinha aqueles dadinhos de pelúcia rosa pendurados no espelho e uma havaianinha que balança a cabeça apoiada ao lado do volante, que era de couro branco já desgastado.

 Aquilo parecia uma mistura muito estranha dos anos 60, 70 e 80, com a mulher idosa de cabelos vermelhos e sombra azul nos olhos, o carro cor de rosa e tudo feito de oncinha e zebra por dentro. Talvez, para sua sanidade mental, seja melhor você não tentar imaginar eu e Marjorie encolhidos no banco de trás (porque Alfred aparentemente é um cara grande e precisa de muito, muito espaço).

– Sinto falta de Chuck – Sussurrei para Marjorie, e ela deu uma risadinha, concordando.

– O que é que estão cochichando aí atrás, crianças? – Perguntou a bruxa má cor de rosa.

 Nós ficamos mais quietos depois disso.

 Demorou cerca de 40 minutos para ela conseguir fazer o carro ligar. Ele soltava uma fumaça cinza tão escura que eu acho que os universitários que nos paravam nas ruas de Hudson para nos alertar sobre o meio-ambiente já estariam mortos se estivessem no meu lugar.

 Eu realmente não queria saber como ela ia nos levar até Nova Iorque com aquele carro, mas sinceramente, depois de viajar com o cara louco dos aliens num trailer, dormir na grama de um parque público, entrar dentro de um carro velho com uma mulher meio cega de um lado, meio surda do outro que estava dirigindo de salto alto, eu quase me importava com a minha segurança tanto quanto Marjorie.

– Então – Perguntou Susan, quando o carro finalmente começou a andar, virando para nos dar um sorriso sinistro que ela provavelmente pensava que era simpático e jovial. Me segurei para não implorar que ela olhasse para a rua enquanto dirigia. – Como Romeu e Julieta se conheceram?

 Pergunta estranha, mas tudo bem.

– Ah, você sabe, suas famílias eram inimigas...

– Finn, ela está falando da gente – Marjorie me cortou. Ah, claro, faz mais sentido. Me sentia o Arwin. Marjorie olhou para mim e sorriu forçadamente, completando – Amor!

 Marjorie me chamando de amor parecia tão errado que eu senti a vontade de me jogar pela janela do fusca cor de rosa e sair rolando pelas ruas da Pensilvânia, chorando e gritando que nada faz sentido nessa vida. Mas decidi que eu ainda não tinha ficado tão louco quanto os outros amigos de Marjorie.

 Só para deixar claro, as ruas da Pensilvânia parecem tão entediantes quanto as de Ohio.

– Nós nos conhecemos na escola – Marjorie respondeu, rapidamente, e Susan fez um som que só podia significar "Essa é a história mais entediante que eu já ouvi". Marjorie olhou para mim procurando ajuda, mas eu dei de ombros. – Ele salvou minha vida quando eu quase caí da janela da biblioteca enquanto eu brigava com uma professora maluca que tentava colocar fogo em mim com um fósforo.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now