Capítulo 15 - A Mentirosa e o Pessimista Contra o Mundo

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 Quando Marjorie, eu e Susan chegamos ao local do festival tudo parecia mais uma bagunça de pessoas e carros e barulho do que antes, o que meio que coincidia com as minhas expectativas do que seria um show de música em Nova Iorque.

 O que realmente me surpreendeu, na verdade, foi quando, depois de alguns minutos procurando, conseguimos localizar o filho de Susan.

 Bem, vocês sabem... conheci Martin, o hacker, Chuck, o cara que viajava por aí caçando aliens em um trailer e é claro, Susan, que com certeza era a vozinha mais exótica e diferente que eu já tinha conhecido. Então é claro que nós podemos perceber um padrão para os amigos da Marjorie: isso é, são todos estranhos.

 Andy não chegava nesse padrão.

 Ele era o cara mais normal que eu já tinha visto – e eu olho para minha cara no espelho todos os dias. Por um segundo me perguntei se elas não estavam se enganando, porque qual é, eu estava totalmente esperando um cara de dreads e calças estampadas ou um garoto vestido de ninja. Mas ele estava parado ao lado da cerca de ferro com uma calça jeans e camiseta do The Plain Stalkers, afastado das pessoas, e eu senti algo dentro de mim que queria gritar "FINALMENTE UMA PESSOA NORMAL EM TANTOS DIAS DE ESQUISITICE'.

 Ver uma pessoa tão comum me fez sentir bem, mais real. Meio que me fez perceber que tudo aquilo realmente estava acontecendo, que não era um sonho louco ou um filme – era minha vida, bem ali. Me fez lembrar que depois de tudo aquilo eu ainda voltaria para a simplicidade de viver uma vida cotidiana normal em Ohio. E também que teria que dar muitas, muitas explicações para minha mãe, mas como todas as outras vezes, tentei ignorar o pensamento.

 Marjorie o cumprimentou e eu esperei até que Susan nos apresentasse. O garoto parecia ser só alguns anos mais velho que nós e eu não tinha a mínima ideia de como ele conseguiria nos infiltrar dentro do festival.

 Incrivelmente, foi mais fácil do que pensei.

 – Vocês devem estar com fome. Estou esperando aqui há um tempão – Ele exclamou, sentando-se no chão. Pegou uma mochila preta que estava ao lado e começou a fuçar dentro dela. – Comprei uns hambúrgueres, espero que não tenha amassado...

 Marjorie olhou para mim, parecendo um pouco nervosa. Susan havia se despedido com um abraço e um "boa sorte! " E agora ela parecia um pouco perdida. Quase como se a normalidade a deixasse desconfortável. O que era estranho, porque ela estava saindo bastante comigo nos últimos dias.

 Nós o seguimos e sentamos no chão enquanto ele passava um sanduíche para cada um, e minha barriga fez um som estranho. Percebi que estava morrendo de fome, agora que meu estômago não estava mais iludido pelos biscoitos de Susan.

 Olhei ao redor: estávamos sentados um pouco afastados da fila enorme do show, embora ela estivesse dando várias voltas e parecesse mais com uma plateia do que com uma fila normal. Tinha algumas rodinhas sentadas como a gente em vários lugares, banheiros químicos encostados em um lado da cerca. Lembrei da história sobre se esconder em um desses e me desanimei um pouco.

– Então – Comecei. – Sua mãe disse que você é profissional em... entrar em festivais.

 Andy sorriu para mim, então olhou para seu hambúrguer timidamente, fazendo um gesto com a mão como se dissesse "ah, para! ".

– Bem, vocês sabem... algumas pessoas cantam bem, alguns são muito bons em matemática. Eu entro em festivais escondido.

– Marjorie é uma ótima mentirosa. – Comentei, como se fosse seu maior talento, e ela olhou para mim com uma mão no coração, fingindo que estava ofendida.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now